Diversos vestígios de microplásticos têm sido detetados em humanos

Todos os anos são produzidos mais de 400 milhões de toneladas de plástico. Destes, 40% servem exclusivamente para sacos e embalagens, sendo que 9% acabam por ser reciclados, 79% vão parar a aterros sanitários e 12% são incinerados.

O aumento da utilização dos plásticos preocupa a comunidade científica. Os microplásticos poderão estar na origem de mais riscos de saúde.
O aumento da utilização dos plásticos preocupa a comunidade científica. Os microplásticos poderão estar na origem de mais riscos de saúde.

8 milhões de toneladas de plásticos vão anualmente parar aos oceanos, mas a decomposição em pequenos microplásticos constitui o maior problema desta equação.

Além disso, os humanos podem ingerir até 100 mil partículas de microplástico por dia e, em situações mais graves, um indivíduo pode ingerir algo equivalente à massa de um cartão de crédito por ano!

O que são então os microplásticos?

Os microplásticos são, tal como o nome indica, pequenas partículas de plástico com uma dimensão inferior a cinco milímetros e superiores a um micrómetro. Para se ter uma ideia, são mais pequenos do que um grão de arroz.

Podem distinguir-se dois tipos de microplásticos: os primários e os secundários. Os primeiros são normalmente fabricados com o propósito de poderem ser utilizados em produtos de plástico ou em tintas e fertilizantes. Podem também ser adicionados aos produtos de cosmética.

Por sua vez, os microplásticos secundários correspondem aos plásticos que se fragmentaram depois de expostos às condições da luz solar e da água.

É um facto que os plásticos são muito baratos e de aplicação variada, mas isso contribui para que sejam excessivamente utilizados, tornando-se um problema para o ambiente.

microplásticos
Em 2015, foram produzidas mais de 320 milhões de toneladas de plástico.

Por um lado, são produzidos em grande escala e, por outro, a sua decomposição é tão lenta, que podem levar milhares a milhões de anos até desaparecerem. Alguns tipos de plástico mais comuns são o politereftalato de etileno (PET) associado às garrafas de plástico, o polipropileno utilizado em brinquedos e tupperwares, ou o polistireno ao qual se associa a esferovite.

A utilização do plástico ocorre, na realidade, em diversas coisas do dia-à-dia. Desde o computador onde escrevemos, à cadeira onde nos sentamos, à roupa que vestimos, à estrutura do nosso carro ou os sacos e embalagens onde são armazenados os produtos que adquirimos nos supermercados.

Vestígios de plástico nos seres humanos

Com uma dimensão mais reduzida, os microplásticos são quase invisíveis ao olho humano e além de estarem presentes nas areias, nas águas do oceano ou nos produtos que usamos no nosso quotidiano, também já foram detetados dentro do corpo humano, que é o resultado deste consumo desenfreado do plástico.

Uma pesquisa de 2018 da Orb Media revelou que 90% da água engarrafada em todo o mundo apresentava vestígios de plásticos. No mesmo ano, outro estudo comprovava a existência de microplásticos nos intestinos dos seres humanos. Para o valor de referência europeu de consumo de peixe e marisco, estima-se uma ingestão anual média de 11 mil microplásticos.

Em 2022, um estudo assinalou que foram encontrados, pela primeira vez, microplásticos nos pulmões dos seres humanos, o que leva a crer que o principal foco de exposição aos microplásticos é a inalação. Foram também já detetados em diversos estudos na corrente sanguínea e nas fezes humanas.

Nas fezes humanas, encontraram-se quantidades elevadíssimas em crianças, intrínseco ao facto de estas levarem uma quantidade enorme de objetos à boca. Mas mesmo dentro do corpo da mãe, já foram identificados microplásticos na placenta, segundo relatos de uma investigação publicada na Environment International. Esta condição é particularmente preocupante pelo facto de poder originar danos durante o desenvolvimento do sistema imunitário dos bebés.

Das crianças aos adultos, os impactes que os microplásticos têm na saúde humana são significativos, conclui uma publicação recente da Chemosphere. A presença de poliestireno no organismo humano pode causar desequilíbrios químicos substantivos, conduzindo em casos mais graves, a situações de doença de Parkinson ou de Alzheimer.

A estes danos mais críticos, somam-se outros problemas respiratórios, como a asma, a pneumonia ou a bronquite, que poderão aumentar nas próximas décadas, inerentes à exposição perante a inalação de microplásticos.

Estaremos no caminho certo?

Pouco se tem feito para reduzir o uso destes materiais, e embora os sacos de plástico sejam, por exemplo, taxados nos supermercados para a consciencialização da sociedade, a sua utilização tem crescido ainda mais nos últimos tempos, em grande medida devido ao uso de material de proteção respiratória (e.g., máscaras e produtos descartáveis).

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Além dos problemas para a saúde humana, os impactes ambientais causados pelo uso do plástico a grande escala deverão suportar uma intervenção consciente por parte das entidades públicas e privadas mundiais.

É uma tarefa árdua, que poderá levar décadas, à qual se tem que aliar a ciência para a criação de evidências científicas suficientes para originar uma mudança na política ambiental.