Foi fotografado pela primeira vez um magnífico pássaro de crista amarela que se pensava perdido

Depois de quase duas décadas desde o seu último avistamento, o picanço-de-crista-amarela foi fotografado pela primeira vez numa expedição realizada às montanhas tropicais da República Democrática do Congo. Conheça a história!

picanço-de-crista-amarela
Esta espécie, que não era avistada há mais de duas décadas, foi registada em fotografia pela primeira vez na República Democrática do Congo. Créditos: Matt Brady, Universidade do Texas em El Paso

Conhecido como picanço-de-crista-amarela (Prionops alberti) ou picanço-capacete-do-rei-Alberto, esta é uma pequena ave endémica das florestas húmidas das cadeias montanhosas que compõem o rift (falha) de Albertine, na África central.

Esta complexa e tectonicamente ativa região com mais de 6 000 quilómetros de extensão compreende partes de países como o Uganda, República Democrática do Congo, Ruanda, Burundi, Zâmbia e Tanzânia e é composta por extensas florestas, lagos e várias cordilheiras montanhosas que se estendem desde o extremo norte do lago Alberto até o extremo sul do lago Tanganica.

As florestas montanhosas desta região africana são importantes ecorregiões e albergam uma rica variedade de fauna e flora. Este é um território em grande parte inacessível devido a questões de guerra e segurança, mas que recentemente se tornou um pouco mais seguro para visitar.

Uma expedição a um território quase inacessível

Durante quase duas décadas, o picanço-de-crista-amarela não foi visto na natureza, tendo sido listado pela American Bird Conservancy como uma “ave perdida”. Havia até temores de que estivesse extinto. De acordo com este importante organismo americano sem fins lucrativos, uma “ave perdida” é uma espécie cuja existência não foi confirmada nos últimos 10 anos ou mais.

Tudo mudou quando um grupo de investigadores da Universidade do Texas (UTEP), em El Paso, embarcaram numa expedição à cordilheira montanhosa Itombwe, no leste da República Democrática do Congo, ao longo da margem oeste da parte norte do Lago Tanganica.

Esta cordilheira contém uma vasta área de floresta montanhosa contígua de mais de 650 000 hectares, a mais de 1 500 metros de altitude, e que abriga uma rica diversidade de vida selvagem, entre eles gorilas das planícies orientais, chimpanzés e elefantes africanos ameaçados de extinção.

Depois de caminhar a pé por mais de 120 quilómetros pelas profundezas do maciço Itombwe, e de seis semanas de estudo de diversas espécies de aves, anfíbios e répteis ao longo do caminho, os investigadores descobriram o picanço-de-crista-amarela e até conseguiram tirar a primeira fotografia da espécie de ave.

Michael Harvey co-liderou a expedição com o professor de Ciências Biológicas da UTEP, Eli Greenbaum. A eles juntaram-se o ornitólogo Matt Brady, bem como um grupo de investigadores congoleses do Centre de Recherche en Sciences Naturelles.

A descoberta foi feita quase por um acaso, nesta recôndita região do globo. Os membros da equipa vagueavam pelas florestas nubladas quando se depararam com um conjunto pássaros que descreveram como “barulhentos e ativos no meio da floresta”. Eis que se tratava de um grupo de aves da espécie picanço-de-crista-amarela.

“Foi uma experiência alucinante encontrar estas aves. Sabíamos que isto poderia ser possível aqui, mas não estava preparado para o quão espetaculares e únicos eles pareceriam na vida real”.

Michael Harvey, Ph.D, ornitólogo e professor assistente da UTEP.

Os indivíduos desta espécie são dotados de uma beleza estonteante. Os adultos são cobertos por uma plumagem preta brilhante com uma esplêndida coroa de penas douradas e brilhantes na cabeça e os olhos são cercados por um tecido laranja característico, denominado acácia.

Ao todo, a equipa conseguiu registar a presença de 18 indivíduos desta espécie em três locais diferentes durante a expedição. Isto sugere que pode haver uma população saudável de aves, atualmente consideradas vulneráveis pelo International Union for Conservation of Nature.

Esta é uma notável descoberta, considerando que quase 70% das populações de vida selvagem do planeta diminuíram desde a década de 1970.

A expedição, que decorreu de dezembro de 2023 a janeiro de 2024, rendeu outras descobertas importantes, incluindo o sapo-de-barriga-vermelha (Arthroleptis hematogaster), avistada pela última vez na década de 1950.

Uma necessidade urgente de conservar espécies

A redescoberta destas espécies sublinha a urgência na necessidade de se serem encetados esforços de conservação, numa região onde o contacto do Homem com o espaço, através da exploração cada vez mais desenfreada de recursos naturais.

A procura por madeira ou recursos minerais, bem como a substituição de vastas áreas desmatadas por áreas destinadas à agricultura, estão a fazer perigar essas iniciativas de conservação e também futuras expedições que permitam conhecer e estudar com mais profundidade estas e outras espécies.