Estudo revela soluções para melhorar a saúde com obstáculos saudáveis

Novo estudo da Universidade de Cambridade revela agora que os peões podem ser empurrados para uma gama ampla de atividades físicas por meio de pequenas mudanças na paisagem urbana. Saiba mais aqui!

Den Haag; Países Baixos; paisagem ativa
Soluções de rotas de 'paisagem ativa' em Den Haag, Países Baixos. Fonte: Autores do estudo.

Milhões de pessoas a nível mundial não estão a atingir as metas recomendadas para a atividade física. O exercício ‘em movimento’ pode ser a chave para mudar este paradigma. De facto, as típicas caminhadas ao longo da calçada não causam o aumento significativo da frequência cardíaca e, portanto, podem ser qualificadas somente como exercícios leves.

Da mesma forma, estas não melhoram significativamente o equilíbrio ou a densidade óssea, a não ser que incluam movimentos como pular, equilibrar ou descer determinados obstáculos.

Tendo em conta estes desafios, a pergunta que se coloca é se os adultos estariam predispostos a fazerem rotas ‘divertidas’ caso tivessem essa oportunidade? Num estudo da Universidade de Cambridge agora publicado na Landscape Research sugere que, com determinadas caraterísticas de design, a maioria faria essa opção.

Rotas mais desafiantes podem contribuir para a melhoria da saúde pública nas cidades

Em investigações anteriores sobre a escolha de rotas mais saudáveis, apenas se concentraram na possibilidade de as pessoas caminharem, ao invés de usarem os transportes. Neste estudo inovador, é avaliada a probabilidade de as pessoas escolherem rotas mais desafiantes do que as convencionais, bem como as caraterísticas de design que influenciariam as suas opções.

Ana Boldina, investigadora do Departamento de Arquitetura da Universidade de Cambridge exacerba que “Mesmo quando o aumento no nível e extensão do nível de atividade é modesto, se milhões de pessoas estiverem a usar paisagens urbanas todos os dias, essas diferenças podem ter um grande impacte positivo sobre saúde pública”.

Ao seguir-se o raciocínio da investigadora, entende-se que é possível contribuir para que os peões possam usar uma gama mais ampla de atividades físicas pelo meio de pequenas mudanças na paisagem urbana. Esta investigação surgiu curiosamente depois de Ana Boldina se ter mudado de Coimbra (Portugal), com amplas escadarias e relevo irregular, para Londres (Reino Unido), onde encontrou uma cidade menos desafiadora para a atividade física.

Ao trabalhar com o Dr. Paul Hanel, do Departamento de Psicologia da Universidade de Essex, e o professor Koen Steemers, da Universidade de Cambridge, Boldina convidou 595 residentes do Reino Unido para a comparação de imagens fotorrealistas de rotas desafiantes, onde se incorporavam pedras, vigas de equilíbrio e degraus altos nos pavimentos convencionais.

Depois de analisarem as imagens com rotas desafiantes e convencionais, foram questionados quanto à escolha da rota. Os investigadores utilizaram uma série de parâmetros encorajadores/desencorajadores nos diferentes cenários, incluindo obstáculos como atravessamento de corpos de água, atalhos, esculturas incomuns, presença ou ausência de corrimões e de outras pessoas.

Numa avaliação em escala de Likert de 7 níveis, 80% dos inquiridos no estudo optaram por uma rota desafiadora em pelo menos um dos cenários, dependendo dos níveis de dificuldade percecionada e das caraterísticas do projeto.

Desafios orientados para a importância da realização de atividade física

As conclusões do estudo são tão ou mais relevantes quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda pelo menos 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos de atividade intensa ao longo da semana, incluindo uma série de atividades destinadas a melhorar a qualidade óssea, os músculos e a agilidade física. Além disso, os adultos com idade igual ou superior a 65 anos são aconselhados a realizar exercícios de força, flexibilidade e equilíbrio.

De facto, o corpo humano é uma máquina bem complexa que necessita de muitas coisas para funcionar de forma mais eficaz, nomeadamente para aumentar o ritmo cardíaco, a densidade óssea ou os músculos das pernas.

Ainda assim, sabemos que as nossas cidades e a atividade quotidiana tão intensa, contribuem para grandes fragilidades neste sentido. Assim sendo, precisa-se de adicionar uma gama bem ampla de exercícios de rotina às caminhadas diárias dos adultos.

Aproximação dos adultos ao exercício físico através de uma cultura de persuasão inteligente

Se as crianças não precisam de muitos incentivos para experimentarem traves de equilíbrio, a verdade é que os adultos necessitam de modificações atrativas para os tornar mais propensos à realização destas rotas desafiadoras na cidade.

Os adultos são pessoas que vivem em constante estado de ansiedade, de cautela e pressionados pela esfera pública mais próxima, mas podem ser também persuadidos a seguir rotas de 'paisagem ativa', se existirem elementos de design, de segurança, de localização e de sinalização bem legíveis e visíveis.

atividade física; cidades
O estudo publicado na Landscape Research registou que 80% dos participantes no estudo estariam predispostos a utilizar pelo menos uma destas rotas.

Os investigadores deste estudo sugerem que rotas que incorporem desafios mais difíceis, como obstáculos e vigas de equilíbrio mais estreitas, devem ser colocadas em áreas com maior propensão à frequência por utilizadores mais jovens.

Também os praticantes de exercício de força e equilíbrio regular estarão propensos a escolher rotas mais desafiadoras, mas já será bem diferente no caso de idosos ou adultos sedentários.

Num estudo de ‘arquitetura das escolhas’, é possível, portanto, tornar a atividade física mais emocionante, ao mesmo tempo em que se pode apoiar o Estado na redução dos gastos em saúde pública relacionados com o sedentarismo.