As queimadas controladas podem proteger as nossas florestas e a nossa saúde?

Estudo científico analisa os efeitos das queimadas controladas e da gestão do uso do solo na severidade dos incêndios florestais. Conheça os resultados!

Incêndios florestais
Estudo científico faz análise aos efeitos de queimadas controladas e à gestão do uso do solo nos incêndios florestais.

O estudo analisa os efeitos das queimadas controladas (Rx fires) e da gestão do uso do solo na severidade dos incêndios florestais e nas emissões de fumo fino (PM2.5) durante a época de incêndios extrema de 2020 no oeste dos Estados Unidos, com especial enfoque na Califórnia.

A metodologia aplicada

Com base em imagens de satélite de alta resolução (30 metros), registos de gestão florestal e de inventários detalhados de emissões, os autores utilizaram uma abordagem quase-experimental, comparando áreas tratadas com fogo controlado entre Outubro de 2018 e Maio de 2020 com áreas adjacentes não tratadas, ambas posteriormente atingidas por incêndios em 2020.

Esta comparação permitiu isolar os efeitos dos tratamentos, tendo em conta variáveis como o tipo de vegetação, o histórico de incêndios, a altitude e a localização em zonas de interface urbano-florestal (WUI).

Quais os resultados?

Os resultados mostram que as áreas intervencionadas com fogo controlado apresentaram, em média, uma redução de 16% na severidade dos incêndios, medida por um índice espectral obtido por satélite (dNBR), e uma diminuição de cerca de 101 kg por acre nas emissões de partículas finas (PM2.5).

Quando comparado com outras práticas, como o desbaste mecânico, o fogo controlado revelou-se significativamente mais eficaz: o desbaste resultou numa redução de apenas 7,7% na severidade, sem efeitos estatisticamente significativos.

Verificou-se ainda que a eficácia do fogo controlado foi inferior nas zonas de interface urbano-floresta , onde predominam restrições operacionais e o uso de técnicas mecânicas devido à proximidade com populações e infraestruturas. Fora dessas zonas, os efeitos foram mais marcados, tanto na redução da severidade como na diminuição das emissões de fumo.
O uso do fogo como ferramenta de gestão do território não é uma invenção moderna. Povos indígenas na América do Norte, Austrália, África e até na Península Ibérica usavam o fogo há milhares de anos para limpar terrenos, caçar, estimular o crescimento de plantas e manter paisagens resilientes ao fogo.

O estudo também avaliou o impacto líquido do uso de fogo controlado, considerando não apenas os benefícios em termos de mitigação de incêndios futuros, mas também a poluição gerada pelas próprias queimadas. Mesmo tendo em conta essas emissões, foi registada uma redução líquida de 14% nas emissões totais de PM2.5.

Os autores estimam que, se a Califórnia atingir a meta de tratar um milhão de acres por ano — conforme previsto no seu Plano de Resiliência às Florestas e Incêndios — poderá evitar-se a emissão de até 655 mil toneladas de fumo nos cinco anos seguintes, o que equivale a 52% do total de emissões registadas na época de incêndios de 2020.

Apesar das limitações nos dados disponíveis, como a imprecisão nos perímetros das áreas tratadas e a escassez de informação sobre tratamentos repetidos, os autores garantem a robustez dos seus resultados, sustentada por análises estatísticas e testes de placebo.

Consideram ainda que os efeitos positivos do fogo controlado poderão estar subestimados, já que os tratamentos podem também influenciar positivamente áreas vizinhas não tratadas ou limitar a propagação dos incêndios.

Em suma, o estudo fornece uma base empírica sólida para apoiar a expansão do uso do fogo controlado como ferramenta de gestão florestal. Embora este tipo de intervenção também produza fumo, os seus benefícios — em termos de redução da severidade dos incêndios e das emissões totais — superam largamente os impactos negativos.

Referência da notícia

Kelp, M., Burke, M., Qiu, M., Higuera-Mendieta, I., Liu, T., & Diffenbaugh, N. S. (2025). Effect of recent prescribed burning and land management on wildfire burn severity and smoke emissions in the western United States. AGU Advances, 6, e2025AV001682. https://doi.org/10.1029/2025AV001682