Estudo português revela método inovador para regenerar a pele em pessoas com diabetes

Este método descoberto por uma equipa de investigação coliderada pela Universidade de Coimbra pode levar ao desenvolvimento de novas terapias para melhorar o tratamento de feridas em pessoas diagnosticadas com diabetes.

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Existem cerca de 540 milhões de casos de diabetes em todo o mundo. Em Portugal, 1,1 milhões de pessoas sofrem da doença. A úlcera diabética aparece em cerca de 25% dos casos, dos quais cerca de 70% resulta em amputações.

A diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica crónica, que pode ter várias causas e que resulta de várias alterações fisiopatológicas que conduzem à elevação permanente da glicemia (concentração de açúcar no sangue). Esta subida deve-se essencialmente a defeitos na ação normal da insulina e/ou à carência desta.

O açúcar é necessário para o metabolismo das células. Para que ele seja para aí transportado o pâncreas produz insulina, hormona que vai captar a glicose da corrente sanguínea e levá-la para as células de todo o corpo onde será utilizada como energia. Qualquer pessoa pode sofrer desta doença, no entanto a exposição a fatores de risco pode aumentar a probabilidade do seu aparecimento.

Cerca de 90% dos casos de diabetes são classificados como diabetes tipo 2. Este tipo afeta sobretudo pessoas adultas e idosas, com excesso de peso ou obesidade, sedentárias e com estilos de vida pouco saudáveis, e há frequentemente historial familiar.

Em pessoas com diabetes, a cicatrização de feridas é lenta, complexa e favorece úlceras difíceis de curar

Um novo estudo, liderado pela Universidade de Coimbra (UC) e pela Universidade de Roskilde (Dinamarca), mostra uma cicatrização quase total destas feridas ao fim de dez dias, através de uma abordagem molecular que inibe, em simultâneo, dois microARN (microRNA, na sigla em inglês). Este método pode abrir caminho ao desenvolvimento de novas terapias para melhorar o tratamento de feridas em pessoas diagnosticadas com diabetes.

“O objetivo do estudo foi investigar se bloquear dois microARN – o miR-146a-5p e o miR-29a-3p, que são pequenas moléculas que regulam a expressão genética e que descobrimos estarem aumentadas na pele de pessoas com diabetes – poderia melhorar a cicatrização destas feridas”.

Ermelindo Leal e Eugénia Carvalho investigadores do grupo Obesidade, Diabetes e Complicações do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC) e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CiBB).

Estes cientistas afirmam que os resultados publicados na revista científica Diabetologia “abrem novas possibilidades para o desenvolvimento de terapias inovadoras que atuem diretamente sobre o miR-146a-5p e o miR-29a-3p, com potencial para modular processos-chave envolvidos na cicatrização de feridas, como a inflamação, o stress oxidativo, a formação de novos vasos sanguíneos e a remodelação da matriz extracelular”.

Ermelindo Leal e Eugénia Carvalho, investigadores da Universidade de Coimbra. Imagem: © CNC-UC

Para chegarem até estes resultados, os investigadores testaram o efeito da inibição dos microARN através de moléculas desenhadas para o efeito, tanto em células humanas como em ratinhos com diabetes tipo 1. Depois, foram analisadas as consequências ao nível da inflamação, formação de novos vasos sanguíneos e remodelação tecidular. Nos testes com ratinhos, a abordagem terapêutica reduziu o tamanho das feridas de forma significativa em dez dias, com alterações que levaram a uma pele mais resistente e estruturalmente mais organizada.

Bases criadas para abordagens personalizadas e mais eficazes no tratamento de feridas crónicas

Ao identificar os dois microARN como alvos terapêuticos promissores, o trabalho cria bases para futuras abordagens personalizadas e mais eficazes no tratamento de feridas crónicas, especialmente em pessoas com diabetes.

“Estes futuros alvos de terapia molecular podem ter o potencial de melhorar significativamente as feridas e a recuperação de doentes, podendo reduzir o tempo de internamento hospitalar, diminuir o risco de amputações e, assim, aliviar o peso económico e social associado”, explicam os investigadores da UC.

Segundo Ermelindo Leal e Eugénia Carvalho, “este estudo tem grande relevância social, especialmente num contexto global em que a diabetes é uma doença que afeta milhões de pessoas, causando dor, infeções recorrentes, hospitalizações frequentes e até amputações, e apresenta uma tendência de crescimento contínuo”.

Podem, igualmente, “potenciar estratégias semelhantes aplicadas a outras patologias marcadas por cicatrização deficiente ou inflamação crónica”, acrescentam.

Além da Universidade de Roskilde, o estudo contou com a participação de cientistas de outras instituições dinamarquesas, a Universidade da Dinamarca do Sul e a Universidade de Aalborg. Na equipa do CNC-UC participou também Marija Petkovic.

Referências da notícia

Diabetes. CUF. cuf.pt

Cientistas descobrem que a inibição de pequenas moléculas acelera a cicatrização de feridas na diabetes. Notícia UC. Inês Amado da Silva e Catarina Ribeiro. 14 outubro 2025.