Descoberta surpreendente: a forma como respiramos é única, tal como são as nossas impressões digitais
Investigadores israelitas concluem que o nosso padrão respiratório é uma marca biológica identitária, que revela também indicadores sobre a saúde física e mental.

Respirar é um ato natural. Tão natural que nem sequer pensamos muito sobre isso. O processo, já sabemos, é vital para a nossa a sobrevivência, permitindo a entrada de oxigénio e a saída de dióxido de carbono do organismo.
Inspiramos e expiramos num movimento contínuo sem nos darmos conta de que por detrás deste ato aparentemente simples há um sistema complexo a envolver o nariz, a traqueia, os brônquios, os bronquíolos e os alvéolos pulmonares.
Esse padrão respiratório nasal é único, resultando numa marca identitária que permanece estável ao longo do tempo e que pode, inclusive, revelar indicadores sobre o nosso estado de saúde.
Reconhecível até no meio de uma multidão
A sua singularidade pode, aliás, ser comparada às impressões digitais e à íris dos olhos, que se formam durante o desenvolvimento fetal, sendo influenciados por fatores genéticos e ambientais.
A respiração, segundo o estudo publicado na revista científica Current Biology, é uma característica tão intransmissível que é possível detetar até mesmo quando uma pessoa está camuflada no meio de uma multidão.
A correspondência quase total entre um indivíduo e o seu padrão respiratório foi alcançada analisando somente a forma como se respira pelo nariz. Através dessa bitola, foi até possível conhecer sintomas de saúde física e mental e ainda características comportamentais.

A equipa israelita desenvolveu um dispositivo vestível capaz de registar a entrada e saída de ar nas narinas separadamente. A tecnologia foi aplicada a 100 voluntários saudáveis entre os 18 e os 35 anos que aceitaram usar o aparelho ininterruptamente durante 24 horas.
Com base nos dados recolhidos, os cientistas analisaram os perfis de respiração nasal, conseguindo identificar cada um dos indivíduos envolvidos no estudo.
O rigor alcançado com a inteligência artificial
O rigor na análise só foi possível utilizando algoritmos de inteligência artificial treinados com 24 parâmetros respiratórios, como volume de inalação, duração da expiração ou oscilações entre os ciclos respiratórios.
Ao estudar essas variáveis, a equipa não somente conseguiu identificar os voluntários, como também demonstrou que esses modelos se mantêm estáveis por longos períodos, funcionando como assinaturas biológicas.
Realizando um segundo conjunto de experiências, num intervalo de dois anos, os cientistas conseguiram identificar corretamente 95% dos participantes durante o período de vigília e 71% enquanto dormiam.
O grau de rigor e os padrões permaneceram inalteráveis mesmo quando os voluntários desempenhavam diferentes atividades, como correr, estudar, ver televisão, ler ou dormir.

Os perfis respiratórios, além de fornecerem um carimbo biológico para cada indivíduo, estão também associados a traços fisiológicos e psicológicos.
Essa é mais uma conclusão do estudo que encontrou correlações entre os tipos de respiração e fatores como índice de massa corporal, níveis de ansiedade e até sinais de depressão.
Para os especialistas, essa variação sugere que o ritmo da respiração pode ser um reflexo direto do funcionamento do cérebro e do nosso estado emocional.
Nova abordagem no tratamento de distúrbios mentais
As conclusões, de acordo com os neurocientistas, abrem agora novas possibilidades para monitorizar e até mesmo intervir em áreas da saúde mental.
Assumimos intuitivamente que os estados emocionais de ansiedade ou de depressão alteram a nossa respiração. Mas, de acordo com os investigadores, não é de se menosprezar a hipótese de ser justamente o oposto. Talvez o modo como respiramos contribua para os transtornos mentais.
Se assim for, a abordagem mais eficaz poderá passar por modificar a forma como se respira para tratar essas condições. A respiração comunica de uma maneira exclusiva para cada indivíduo. Embora a sua voz seja silenciosa, é possível agora escutá-la com alta precisão, rematam os autores do estudo.
Referência da notícia
Timna Soroka, Aharon Ravia, Kobi Snitz, Danielle Honigstein, Aharon Weissbrod, Lior Gorodisky, Tali Weiss, Ofer Perl & Noam Sobel. Humans have nasal respiratory fingerprints. Current Biology.