Ciência identifica os patrimónios naturais mundiais que estão em risco devido às alterações climáticas

Estudo identifica a exposição de 250 locais do património natural mundial a eventos climáticos extremos em quatro cenários futuros diferentes, ao longo deste século.

Património natural mundial - Galápagos
Locais do património natural do globo são considerados de valor universal excecional para a humanidade, representando um legado insubstituível.

Os locais do património natural mundial são áreas reconhecidas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) pela sua beleza natural ou biodiversidade excecional, ecossistema e valores geológicos.

Desafios climáticos sem precedentes são perigos que ameaçam o património natural mundial

Quando o limiar de tolerância ao stress dos locais do património natural mundial é excedido, o seu valor sofre uma perda irreversível. Com as alterações climáticas e com os eventos extremos a aumentarem de intensidade e frequência há cada vez mais investigação para identificar quais os riscos a que esses locais estão expostos.

Um trabalho, publicado na revista Communications Earth & Environment, avalia os impactos do calor e precipitação extrema e da seca em 250 locais dos 266 patrimónios naturais mundiais, em diferentes cenários de emissões.

Os autores utilizam quatro cenários diferentes: um cenário de emissões baixas em que as temperaturas globais permanecem abaixo de 2 °C de aquecimento, com emissões líquidas zero implícitas na segunda metade do século; um cenário de emissões intermédias, que resulta num aquecimento de cerca de 2,7 °C até ao final do século XXI (emissões próximas dos níveis atuais); um cenário de emissões elevadas, que pressupõe a ausência de políticas climáticas adicionais e um cenário de emissões muito elevada sem políticas climáticas adicionais.

Para avaliar a exposição a extremos climáticos até 2100, os autores utilizam modelos climáticos do sexto Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados.

Emissões
Em cenários em que as emissões permanecem não regulamentadas, é de esperar que as temperaturas futuras aumentem significativamente, levando a ocorrências mais frequentes e intensas de altas temperaturas, precipitações extremas e secas

Os autores utilizam a temperatura máxima diária mais elevada num ano para medir as alterações no calor extremo e a precipitação máxima anual num dia para monitorizar a precipitação. Para a seca, utilizam um indicador que calcula a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração (a transferência de água do solo para o ar através de uma combinação de evaporação e transpiração).

Os autores do estudo decidem adotar médias de 10 anos para reduzir as flutuações nas simulações dos modelos.

Conclusões do estudo

O estudo alerta para o facto de os locais situados a latitudes médias e nas regiões tropicais, que são frequentemente importantes focos de biodiversidade, serem provavelmente os que enfrentam o maior risco climático à medida que o planeta aquece.

Mapas para diferentes cenários de emissões
Mapas que assinalam os locais do património natural que serão afetados perante os 4 cenários. Os pontos vermelhos indicam os locais que serão afetados em virtude do calor, da seca ou da precipitação extrema até 2100 nos 4 cenários considerados: cenário de emissões baixas (em cima à esquerda), de emissões moderadas (em cima à direita), emissões altas (em baixo à esquerda) e emissões muito altas (em baixo à direita. Fonte: Chen et al., 2024

Até 2100, no cenário de emissões mais elevadas, 248 dos 250 locais estarão expostos a eventos climáticos extremos.

Os autores do estudo concluíram que no cenário de baixas emissões, os limites para o calor extremo, seca ou precipitação serão ultrapassados em apenas 33 dos 250 locais, até ao final do século.

Muitos deles estão concentrados no Sudeste Asiático. Os limites não são ultrapassados em nenhum dos locais na Europa, Médio Oriente e Norte de África no cenário de baixas emissões.

Num cenário moderado, este número aumenta para 188 locais, enquanto para os dois cenários de maiores emissões, prevê-se que quase todos os 250 locais estejam ameaçados por extremos climáticos.

Em todos os cenários futuros, o calor extremo é o evento climático extremo dominante nos patrimónios naturais mundiais. Num cenário de emissões muito altas, chuvas fortes e secas afetam 14,8% e 26,8% dos patrimónios naturais, respetivamente.

No cenário de emissões altas, as chuvas fortes afetam os patrimónios naturais comparáveis aos do cenário de emissões muito altas, mas as secas afetam 5,6% menos.

O cenário de emissões baixas afeta menos património natural do que qualquer um dos outros cenários, com chuvas fortes afetando 3,6% e secas afetando 7,6% dos patrimónios naturais.

Locais do património natural mundial, como as Ilhas Galápagos, o Parque Nacional do Serengeti e a Grande Barreira de Coral, poderão ficar expostos a múltiplos extremos climáticos até ao final do século.

Os autores verificaram ainda que uma parcela significativa dos locais do património natural já está a enfrentar calor extremo, o que representa desafios para a conservação.

Este estudo, mostra que as alterações climáticas globais exercerão uma pressão climática adicional sobre a proteção global dos patrimónios naturais, aumentando ainda mais o desafio de protegê-los e mantê-los.

Acelerar a implantação da neutralidade de carbono pode trazer benefícios conjuntos para a proteção dos patrimónios naturais e a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Referência da notícia

“Natural world heritage sites are at risk from climate change globally”, Guolong Chen et al., Communications Earth & Environment, Article number: 760, Published: 05 December 2024.