Cancro: Segundo Harvard, a doença silenciosa continua a atingir os mais jovens

Kimmie Ng, cientista de Harvard, está entre os especialistas gastrointestinais que procuram o culpado da vaga global de doenças relacionadas com o cancro. Fique aqui a saber mais!

Cancro colorretal
A prevenção do cancro colorretal passa fundamentalmente pela adoção de hábitos saudáveis e a realização de exames para a deteção precoce de pólipos ou lesões no cólon e reto.


De acordo com a American Cancer Society, nas últimas décadas, têm-se assistido a um progresso no que respeita à deteção precoce e ao tratamento do cancro.

Contudo, um novo relatório aponta haver um desenvolvimento preocupante relativamente às taxas de cancro colorretal entre os jovens.

Kimmie Ng, professora associada de medicina na Harvard Medical School e diretora fundadora do Young-Onset Colorectal Cancer Center da Dana-Farber, assistiu de perto a esta tendência e afirma, perante uma entrevista dada à The Harvard Gazette, não haver uma causa clara para este aumento.

... os investigadores estão muito interessados no efeito de nascimento e no papel potencial dos fatores ambientais. De acordo com a especialista Kimmie Ng.

Um fenómeno a nível global

Nos países com um nível socioeconómico mais elevado, onde existem programas de rastreio do cancro colorretal, as taxas de incidência encontram-se a diminuir a bom ritmo nas pessoas com mais de 50 anos.

O mais preocupante é que para as pessoas com menos de 50 anos, a curva está a seguir o caminho oposto, ou seja, um aumento do número de cancros gastrointestinais de início jovem em todas as partes do mundo.

Cancro colorretal
O cancro colorretal é o tipo de cancro mais comum na Europa e o terceiro cancro mais comum no mundo. Em 2020, foram diagnosticados mais de 10 mil novos casos de cancro colorretal em Portugal. Fonte: SulInformação

Os aumentos mais acentuados verificam-se nas pessoas mais jovens, entre os 20 e os 30 anos, que não são elegíveis para rastreio, uma vez que o mesmo inicia apenas a partir dos 45/50 anos.

Porém é urgente compreender melhor os fatores de risco e as causas subjacentes, de modo a que as pessoas com 20 e 30 anos, de risco elevado, sejam orientadas para um rastreio mais precoce.

Para os homens com menos de 50 anos, o cancro colorretal é agora a principal causa de morte relacionada com o cancro, ultrapassando os tumores do sistema nervoso central e os cancros do pulmão.


Nas mulheres com menos de 50 anos, é agora a segunda principal causa de morte por cancro. Estes números são alarmantes, estando os especialistas a trabalhar arduamente para compreender por que razão isto está a acontecer.

Os possíveis verdadeiros culpados

Uma vez que estes cancros estão a incidir sobretudo numa faixa populacional mais jovem, isto leva os investigadores a suspeitarem de uma mudança recente numa exposição ambiental ou numa combinação de exposições.

A hipótese principal é que alguma exposição ambiental ainda não identificada está a afetar os indivíduos, começando no início da vida. A exposição pode ocorrer no útero, na infância ou durante a adolescência.

A principal hipótese é que alguma exposição ambiental ainda não identificada está a afetar os indivíduos, começando no início da vida. Segundo The Harvard Gazette.

Esta investigação está concentrada nos fatores de risco conhecidos, como a dieta e os fatores de estilo de vida, independentemente da idade, pois muitos destes cancros estão ligados à obesidade.

Todavia, a Dra. Kimmie ressalta ainda que a maioria dos doentes da clínica não são obesos. Muitos são corredores de maratonas, que seguem dietas muito saudáveis, comem de forma orgânica.

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Por isso, não se sabe se se trata apenas de fatores relacionados com a dieta e o estilo de vida ou de outros fatores no nosso ambiente, como poluentes, conservantes na nossa alimentação.

Um outro ponto que está a ser observado neste estudo são ainda as influências maternas transmitidas ao feto quando este se encontra no útero. Pois os fatores maternos podem ainda influenciar os riscos para a saúde numa fase posterior da vida.

Foi realizado um estudo sobre a relação entre a amamentação na infância e o desenvolvimento do cancro colorretal e, os investigadores descobriram que o facto de ser amamentado durante a infância aumenta o risco de desenvolver este tipo de cancro.

Os cientistas ficaram surpreendidos mas não querem desencorajar a amamentação, uma vez que existem muitos outros benefícios para a saúde que provavelmente ultrapassam o pequeno aumento do risco de cancro colorretal.