A descorna dos rinocerontes como estratégia eficaz contra a caça furtiva

De acordo com um estudo, a descorna dos rinocerontes pode reduzir em até 80% os casos de caça furtiva. Mas será que esta prática é eficaz? Descubra aqui!

Rinocerontes
Apesar de muito esforço e dinheiro investidos ao longo de décadas, as populações de rinocerontes continuam a diminuir devido ao mercado dos seus chifres.

Um estudo publicado na revista Science revelou que a descorna dos rinocerontes, ou seja, o corte dos seus chifres, pode reduzir a caça furtiva em quase 80%, mostrando-se uma das estratégias mais eficazes e económicas para proteger estes animais ameaçados.

A investigação foi realizada na região do Grande Kruger, na África do Sul, onde se concentra aproximadamente um quarto da população de rinocerontes do continente africano.

Esta prática gerou resultados mais expressivos do que os métodos tradicionais de combate à caça ilegal, como a patrulha com guardas, o uso de helicópteros, câmaras de vigilância ou cães treinados.

Caça furtiva coloca animais em perigo de extinção

A caça furtiva continua a ser uma ameaça grave para as cinco espécies de rinocerontes existentes, sobretudo devido à elevada procura pelos seus chifres.

Apesar de serem compostos por queratina, a mesma substância das unhas humanas, os chifres são erroneamente considerados eficazes pela medicina tradicional asiática para tratar febres, dores e disfunções sexuais.

Esse falso valor medicinal gera um mercado negro lucrativo, onde traficantes pagam dezenas de milhares de dólares por um único chifre.

O estudo, fruto da colaboração entre cientistas, conservacionistas e autoridades governamentais de várias instituições, como as universidades da Cidade do Cabo, Nelson Mandela, Stellenbosch e Oxford, analisou dados entre 2017 e 2023.

Os resultados indicaram que a descorna, embora simples e de baixo custo, teve um impacto surpreendente na redução das mortes por caça furtiva.

A prática utilizou apenas 1,2% do orçamento total dedicado à proteção dos rinocerontes e, mesmo assim, proporcionou os maiores ganhos em termos de conservação.

Descorna dos rinocerontes

O procedimento de descorna é feito com muito cuidado: o animal é sedado, protegido com vendas nos olhos e tampões nos ouvidos, e o chifre é cortado com uma serra elétrica.

O chifre volta a crescer naturalmente após cerca de 18 a 24 meses. Estudos mostram que o processo é indolor e apresenta riscos mínimos à saúde do rinoceronte.

Apesar disso, os autores do estudo alertam que esta não é uma solução definitiva. Após a remoção do chifre, ainda resta uma parte significativa do material, o que pode continuar a atrair caçadores dispostos a matar o animal por esse pequeno fragmento.

"Será que um rinoceronte continua a ser um rinoceronte sem o seu corno? Esta é uma questão mais importante", segundo Kuiper.

Além disso, existem efeitos comportamentais associados à descorna. Outro estudo mencionado, focado nos rinocerontes negros, observou que os animais descornados se tornaram mais tímidos e reduziram significativamente o seu território.

O chifre, além da sua função defensiva, é utilizado para estabelecer domínio territorial. Sem ele, os rinocerontes perdem parte de sua capacidade natural de comunicação e socialização, o que pode afetar a reprodução e a dinâmica das populações a longo prazo.

Corte do chifre
A descorna ajuda a proteger os rinocerontes da caça furtiva, que é uma séria ameaça à sua sobrevivência. Fonte: Terra

O Dr. Tim Kuiper, da Universidade Nelson Mandela e um dos autores do estudo, defende que é preciso repensar os objetivos da conservação: será mais importante prender caçadores ou realmente impedir a morte dos animais?

Segundo ele, a descorna mostrou que é possível reduzir drasticamente a caça, mesmo sem um grande aparato de segurança, o que pode exigir uma mudança de paradigma nas políticas de proteção da fauna.

Em suma, a descorna revela-se uma alternativa viável e eficaz para conter a caça furtiva a curto prazo, embora não resolva o problema de fundo: a persistente procura pelos chifres no mercado asiático.

Para garantir a sobrevivência dos rinocerontes, será necessário aliar esta estratégia a medidas que ataquem a raiz do problema, como a educação, a redução da procura e o combate ao tráfico internacional.

Referência da notícia

Timothy Kuiper, Sharon Haussmann Steven Whitfield, Daniel Polakow, Cathy Dreyer, Sam Ferreira, et al, "Dehorning reduces rhino poaching", Science, Jun 2025.