A Arte de Viajar com Crianças: Lições de Nora Kurtin

Viajar com crianças pode ser um desafio, mas também uma oportunidade de fortalecer laços e aprender em conjunto. Saiba como transformar cada escapadela numa aventura partilhada segundo Nora Kurtin.

Menos malas, mais momentos
Viajar em família é aprender a abrandar, rir de imprevistos e criar memórias que duram muito depois de regressar a casa.

Viajar com crianças pode parecer, à primeira vista, uma missão complexa: malas intermináveis, birras inesperadas e um ritmo que nem sempre combina com o dos adultos.

No entanto, para a escritora e especialista em parentalidade Nora Kurtin, autora do livro Escapadas em Família, o segredo está precisamente em abraçar essa diferença e transformar cada viagem numa experiência partilhada, cheia de descobertas e memórias.

Viajar é muito mais do que mudar de lugar

Kurtin começa por lembrar que uma escapadela familiar não precisa de ser exótica nem longa para ser significativa.

“Viajar não é apenas mudar de cenário, é mudar de ritmo e de foco”, sublinha.

A autora defende que, quando saímos da rotina, ganhamos tempo e atenção para aquilo que muitas vezes falta no dia-a-dia: a convivência verdadeira. Durante uma viagem, as conversas fluem de forma natural, a curiosidade desperta e os laços fortalecem-se.

Para as crianças, cada passeio é uma aula viva de geografia, história ou ciência; para os adultos, uma oportunidade de reaprender a olhar o mundo com olhos de principiante.

Três ingredientes para uma escapadela perfeita

Para Nora Kurtin, há três elementos fundamentais para que uma viagem em família corra bem: equilíbrio, participação e propósito.

O equilíbrio traduz-se em respeitar as necessidades e interesses de todos. Nem tudo tem de girar em torno das crianças, mas também não faz sentido planear o itinerário apenas a pensar nos adultos.

O ideal é encontrar momentos que unam os dois mundos, uma caminhada curta na natureza seguida de um piquenique, por exemplo, ou a visita a um museu com uma oficina infantil. A participação é outro pilar essencial. Os filhos não devem ser meros acompanhantes, mas sim protagonistas da aventura.

Viajar em familia
Quando os filhos participam no planeamento e vivem o percurso com curiosidade, a viagem deixa de ser logística e passa a ser descoberta juntos, sem pressas nem ecrãs.

Kurtin sugere que se envolvam as crianças desde o planeamento: deixá-las escolher uma actividade, pesquisar curiosidades sobre o destino ou até ajudar a fazer as malas. Assim, sentem-se parte da experiência e encaram o percurso com entusiasmo.

Por fim, o propósito: toda a viagem deve ter um sentido que vá além do destino, seja aprender algo novo, reconectar-se como família ou simplesmente abrandar. Este propósito, quando partilhado, dá coerência à escapadela e transforma o “para onde vamos?” em “porque vamos?”.

Os desafios (e as recompensas)

Kurtin reconhece que viajar com crianças exige ajustes. O maior erro, segundo ela, é acreditar que é possível manter o mesmo ritmo e expectativas de quando se viajava sem filhos.

Horários de sono, refeições e momentos de descanso precisam de ser respeitados.

“Crianças cansadas, com fome ou aborrecidas podem transformar o melhor destino numa autêntica provação”, alerta.

Mas quando o planeamento é sensato, o resultado é surpreendente. As crianças revelam uma curiosidade inesgotável e uma capacidade de observação que contagia os adultos.

Descobrir juntos o voo de um abutre, o som do mar ou a textura de uma rocha pode valer mais do que qualquer visita programada.

Menos ecrãs, mais envolvimento

Outro dos temas que Nora Kurtin aborda é o uso excessivo de dispositivos eletrónicos durante as viagens. Para ela, o exemplo começa nos adultos. “Não se pode pedir aos filhos que larguem o telemóvel se nós próprios não o fazemos”, recorda.

Crianças em viagem
Explorar o mundo através dos olhos das crianças é redescobrir o encanto das pequenas coisas, cada viagem torna-se uma aventura de aprendizagem, partilha e ligação familiar.

Uma boa estratégia é combinar um horário específico para usar os aparelhos, por exemplo, ao final do dia e guardar todos juntos durante as actividades em família. Além disso, incentivar as crianças a levar um caderno de viagem ou uma máquina fotográfica pode ser uma forma de canalizar a curiosidade sem recorrer às telas.

Viajar leve — em bagagem e em espírito

Quando se trata de preparar as malas, Kurtin é clara: menos é mais. Roupas confortáveis, calçado adequado, água, snacks saudáveis, proteção solar e um pequeno estojo de primeiros socorros são suficientes. Levar demasiados brinquedos ou gadgets apenas aumenta o peso e a distração.

O essencial é viajar leve, não só de bagagem, mas também de expectativas e de pressas.

Mais do que um destino, uma atitude

Em última análise, viajar em família é menos sobre quilómetros percorridos e mais sobre o modo como nos dispomos a partilhar o tempo.

Nora Kurtin lembra que, quando as crianças participam, quando há escuta e flexibilidade, o simples ato de fazer a mala transforma-se num gesto de amor.Porque o verdadeiro destino, aquele que realmente importa, é o caminho que se faz juntos.