Depois dos fogos no verão, drones lançam sementes para acelerar a reflorestação em Portugal

Veículos voadores autónomos usados para recuperar áreas florestais ardidas começam agora a ser usados por alguns municípios portugueses. Descubra aqui alguns projetos pioneiros.

Drone sobrevoa serra Amarela, Ponte da Barca
Ponte da Barca está a recorrer a drones para reflorestar áreas do Gerês que arderam este verão. Foto: Município de Ponte da Barca

Drones a sobrevoar áreas ardidas das florestas portuguesas, semeando sementes à velocidade do vento, ainda não é muito comum em Portugal. Mas começam agora a surgir as primeiras iniciativas, esperando-se acelerar a reflorestação, sobretudo em terrenos acidentados, onde máquinas e homens têm muita dificuldade em chegar.

Os municípios como Ponte da Barca, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Arganil ou Arcos de Valdevez estão a testar a tecnologia, procurando estudar as melhores estratégias para restaurar os ecossistemas que se perderam nos fogos florestais dos anos mais recentes.

Os drones estão a conquistar terreno aqui e lá fora como uma inovadora ferramenta agrícola e de reflorestamento. Veículos voadores equipados com sistemas de pulverização e dispersão estão a mostrar-se capazes de distribuir sementes com precisão em grandes áreas, incluindo zonas de difícil acesso, como montanhas e pântanos, poupando tempo e custos através de itinerários pré-programados para ações de plantio.

Chovem sementes em Oliveira do Hospital

O Município de Oliveira do Hospital, afetado por grandes fogos florestais em agosto deste ano, está a recuperar, com o apoio da Sonae Arauco, uma área de 40 hectares de terrenos ardidos, abrangendo duas uniões de freguesias do concelho - Santa Ovaia e Vila Pouca da Beira e Penalva do Alva e São Sebastião da Feira.

O projeto de sementeira tem um carácter preventivo, procurando reforçar as encostas com vegetação para suster o deslizamento de terras em zonas sensíveis, como são os casos de declives e as áreas ribeirinhas.

As misturas de sementes utilizadas são ricas em leguminosas, com elevada capacidade de fixação de azoto para promover a fertilidade da cobertura vegetal e do solo.

Drone sobrevoa florestas em Oliveira do Hospital
Drones estão a lançar sementes de leguminosas nas florestas de Oliveira do Hospital. Foto: Município de Oliveira do Hospital/Sonae Arauco

Todas as leguminosas foram pré-inoculadas com bactérias fixadoras de azoto para aumentar a produtividade dos terrenos e assegurar uma maior biodiversidade possível. As misturas de sementes são nativas da região e foram selecionadas tendo em consideração as condições dos solos e do clima.

Recuperar as pastagens em Ponte da Barca

Em Ponte da Barca, as ações de sementeiras de pasto com recurso a drones estão a ocorrer Serra Amarela, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, devastado, este verão, por um incêndio de que consumiu mais de 7500 mil hectares e provocou prejuízos avultados em vastas áreas florestais e de pasto.

áreas ardidas da serra amarela, no Parque Nacional do Gerês
A reflorestação com uso de drones, em Ponte da Barca, decorre na Serra Amarela, parte integrante do Parque Nacional do Gerês. Foto: Município de Ponte da Barca.

Além de procurar restaurar os ecossistemas afetados pelo fogo, promovendo a cobertura vegetal do solo e prevenindo a erosão, o programa tem ainda como intuito garantir alimento para os animais, que viram os seus pastos naturais destruídos.

Azevém e ervilhaca estabilizam as encostas em Pampilhosa da Serra

A reflorestação de cerca de 133 hectares de área ardida este verão, na Pampilhosa da Serra, está também a avançar com a ajuda de drones, que estão a semear plantas de azevém e ervilhaca.

Drone a ser enchido com sementes que vão ser lançadas em áreas florestais ardidas
Um único drone pode percorrer dezenas de hectares por dia e plantar centenas de sementes por minuto em terrenos íngremes e de difícil acesso. Foto: Município de Pampilhosa da Serra.

A sementeira decorre na envolvente do Picoto da Cebola, desde o dia 17 de novembro, no âmbito de um contrato-programa entre o município, o Fundo Ambiental e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Fortemente orientadas para a estabilização das encostas e para a promoção da regeneração natural do território, as operações deverão prolongar-se até ao final do ano, segundo a autarquia.

Centeio acelera a regeneração dos solos em Arganil

Desde setembro deste ano, os drones também estão a sobrevoar a zona afetada pelos incêndios na Serra do Açor, no município de Arganil. Logo no arranque do programa espalharam cerca de 50 quilos de sementes de centeio com o objetivo acelerar a regeneração dos solos, evitar a erosão e impedir que a cinza se arraste para os cursos de água.

A primeira fase dos testes teve como finalidade avaliar o como o processo poderia ser otimizado e analisar o comportamento das sementes no solo.

As equipas no terreno procuraram perceber os melhores métodos de dispersão de sementes, uma vez que, nas áreas destruídas pelo fogo, o vento é ainda mais intenso do que em zonas florestadas.

Com os testes a revelarem-se bem-sucedidos, o programa avançou nas semanas seguintes para as outras zonas com elevado potencial de erosão.

Os frutos que se esperam colher nos próximos anos

A tecnologia tem sido largamente utilizada para apoiar projetos de reflorestação em vários pontos do mundo, incluindo Canadá e Japão, que estão, por exemplo, a combinar o uso de drones com inteligência artificial.

Estando agora a entrar nos programas de reflorestação dos municípios portugueses, espera-se que os primeiros resultados, nos anos que se seguem, possam consolidar esta ferramenta como um aliado das florestas em Portugal.

Referências da notícia

Sementeiras ajudam a recuperar a Serra Amarela - Município de Ponte da Barca

Município de Oliveira do Hospital e Sonae Arauco unem-se na recuperação de 40 hectares ardidos – Município de Oliveira do Hospital

Pampilhosa da Serra: Sementeira aérea com drone avança na envolvente do Picoto de Cebola - ONCentro