Uma missão espacial no coração do Alentejo? Sim, leu bem e é um grande orgulho para Portugal

Saiba quem é a equipa e o que cada astronauta está a fazer na Estação Análoga a Marte, do Observatório Astronómico do Lago Alqueva.

Estação Análoga a Marte, em Monsaraz
A paisagem árida e avermelhada das planícies alentejanas foi o local escolhido para construir a Estação Análoga a Marte. Foto: INESC TEC

No espaço exterior do Observatório Astronómico do Lago Alqueva, perto de Monsaraz, encontra-se a Estação Análoga a Marte, apetrechada com as mais avançadas tecnologias.

A paisagem árida e avermelhada, as noites limpas e a baixíssima poluição luminosa assemelham-se bastante às condições e ao terreno que os astronautas poderão encontrar longe do planeta Terra.

As vastas planícies de solo seco e rochoso, particularmente as áreas à volta da Barragem do Alqueva, são por isso os locais ideais para este tipo de missões.

Cinco astronautas isolados no Alqueva

Uma equipa internacional, liderada por investigadores portugueses está, neste preciso momento, isolada de qualquer contacto com a civilização e totalmente imersa na Monsaraz Mars Analog Mission.

equipa da missão Monsaraz Mars
Durante duas semanas, a equipa da missão Monsaraz Mars irá testar protocolos e tecnologias determinantes para a exploração do espaço. Foto: canva.com

A expedição integra o World’s Biggest Analog (WBA), uma iniciativa internacional, que conduzirá a maior missão de simulação espacial de prova de conceito destinada a formar e treinar os astronautas a viver e trabalhar em Marte.

Os cinco investigadores irão permanecer na estação até às 14h00 de 25 de outubro numa missão que marca uma etapa decisiva na consolidação de Portugal no mapa internacional da exploração espacial.

Ao longo de duas semanas de operação, serão realizadas experiências científicas diversificadas e testadas tecnologias, como softwares, drones, robótica ou inteligência artificial.

Um teste às capacidades da mente e da tecnologia

Uma missão que simula as condições de uma expedição a Marte apresenta desafios únicos – desde o esforço cognitivo e mental aos desafios de trabalhar num espaço confinado, em colaboração multidisciplinar, num ambiente imersivo e tecnologicamente avançado.

Missões análogas, como esta, são consideradas cruciais para preparar missões espaciais reais. Proporcionam simulações realistas das condições extremas encontradas em Marte ou na Lua, permitindo testar equipamentos e protocolos e estudar ainda os efeitos psicológicos e fisiológicos do isolamento nas tripulações.

Iniciativas como esta são também grandes oportunidades para encontrar soluções técnicas ou médicas que poderão ser úteis na Terra.

Quem é quem na missão espacial

Três investigadores portugueses fazem parte do núcleo duro da equipa da Missão Monsaraz - Pedro Pedroso, da Universidade de Aveiro, Rafael Rebelo e Diogo Paupério, do INESC TEC - Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência.

Há ainda duas jovens cientistas internacionais - Florence Basubas, das Filipinas, e Nadine Duursma dos Países Baixos – que integram também a expedição.

Dentro da estação, quem está a liderar a missão é Pedro Pedroso, engenheiro aeronáutico, controlador de tráfego aéreo e astronauta análogo, responsável pela coordenação das operações e a execução rigorosa dos trabalhos científicos.

Observatório do Lago Alqueva
O Observatório do Lago Alqueva visa transformar a região num centro de referência internacional para treino de astronautas, educação e turismo científico. Foto: Município de Reguengos de Monsaraz

O investigador Diogo Paupério é o engenheiro de voo e especialista em Robótica que opera e mantém os complexos sistemas da nave, desde a navegação e o suporte de vida até à robótica.

As suas funções passam essencialmente por assegurar que os programas funcionam corretamente. Terá por isso de lidar com problemas inesperados, atuando como olhos, ouvidos e mãos dos cientistas e operacionais que monitorizam a missão em terra.

Duas investigadoras a comandar as operações em Terra

A expedição conta também com a participação da investigadora Ana Pires, a primeira mulher portuguesa cientista-astronauta que está a comandar as atividades no Centro de Controlo de Missão (MCC-Mission Control Center), juntamente com Slavka Carvalho Andrejkovičová, consultora especial da NASA e investigadora da Universidade de Aveiro.

Como diretoras de voo, ambas estão num centro terrestre, sendo responsáveis pela gestão geral e execução em tempo real da missão espacial. Atuam, no fundo, como autoridade central em momentos decisivos para o sucesso da missão e a segurança da tripulação.

A primeira missão análoga

Esta não é, aliás, uma estreia para a investigadora Ana Pires. Em finais de 2023, um outro grupo de sete cientistas esteve fechado seis noites e sete dias na gruta do Natal, na ilha Terceira (Açores).

O projeto CAMões (Caving Analog Mission for Ocean, Earth and Space Exploration), teve como objetivo replicar o ambiente desafiante da Lua e foi a primeira missão análoga realizada em Portugal.

A engenheira geotécnica Ana Pires esteve na liderança e organização da expedição, que resultou também num mapeamento e num modelo 3D da gruta com o intuito de desenvolver soluções robóticas para ambientes complexos.

Projeto CAMões, Gruta do Natal, Ilha Terceira
O projeto CAMões, na Gruta do Natal, na Ilha Terceira, replicou em 2023 o ambiente lunar e foi a primeira missão análoga realizada em Portugal. Foto: INESC TEC

O sucesso da operação e experiência da investigadora e astronauta portuguesa foi determinante para voltar a liderar uma nova missão, desta vez no Alentejo. E, quem sabe, no futuro, a comandar uma nave espacial a caminho de Marte.

Referência do artigo

INESC TEC na liderança científica da primeira missão espacial análoga em habitat em Portugal. INESC TEC