Solstício de inverno: mais próximos ao Sol, mas com mais frio!

Num sincronizado bailado eclíptico descrito pelo Sol entre as estrelas ao longo do ano, fenómenos astronómicos marcam na Terra o início de novos ciclos com implicação na duração e na temperatura dos dias, aos quais se associam rituais e festas. Hoje é o dia mais curto do ano!

O Sol; galáxia;
O Sol habita uma dos biliões de galáxias que representarão apenas 4% de um Universo composto em 26% por matéria escura e 70% por energia escura.

Uma explosão ocorrida há cerca de 15 giga anos, libertou matéria e energia concentradas na dimensão da cabeça de um alfinete. Até à atualidade, partículas de matéria, poeira, energia e gases, vão-se expandindo no que se denomina de Universo. Pelo caminho vão-se formando galáxias que abrigam milhões de estrelas, formam-se sistemas solares, em torno dos quais gravitam planetas, satélites, todo um manancial de corpos celestes.

Num dos braços de uma galáxia espiral designada de Via Láctea, à velocidade aproximada de 220 km/s gravita um aglomerado de astros em torno de uma estrela maior, o Sol, astro central do sistema solar onde habita o planeta Terra. Por efeito da atração gravitacional de um caminho eclíptico que a Terra trajeta em torno do Sol, a distância do planeta ao Sol varia ao longo de 365 dias, assim como a velocidade a que esse percurso se realiza.

Durante este movimento de translação, a Terra viaja a cerca de 29,8 km/s, porém quando mais próxima do Sol, por efeito da gravidade exercida por este sobre a Terra a sua velocidade acelerará. A Terra estará a uns escassos 147 milhões de km do Sol, às 13h41 do dia 2 de janeiro de 2021, localização nominada de periélio. Nessa altura viajaremos a uns tranquilos 30,7 km/s.

solstício;
O fenómeno astronómico do solstício, a variação de iluminação solar, ocorre em dois momentos do ano, em dezembro e em junho, marcando o início do inverno e do verão em cada hemisfério.

Os movimentos da Terra em torno de si mesma e em volta do Sol, traduzem-se numa distribuição não uniforme da luz solar nos dois hemisférios do planeta. E o efeito dessa particularidade far-se-á sentir às 10h02 da próxima segunda-feira, dia 21 de dezembro. Nesse dia, o mais curto com a noite mais longa do ano, no solstício, o hemisfério norte do planeta estará inclinado 23⁰27’ opostamente à direção do Sol, recebendo por isso menos luz, durante umas escassas nove horas e vinte e oito minutos.

Começará aí o Inverno, o mais curto e frio período estacional do ano, efeito dos raios solares incidirem mais obliquamente sobre a superfície do hemisfério norte (ocorrendo o inverso no hemisfério sul) provindo menor incidência de calor. Facto que, conjuntamente com outras variáveis como a água e a atmosfera, os grandes reservatórios de energia com efeito temperador, propiciará a um intrínseco arrefecimento, que se prolongará por 88 dias, 20 horas e 36 minutos, até ao Equinócio da Primavera, no distante dia 20 de março de 2021.

O simbolismo da noite mais longa do ano

Acompanhando a evolução humana, o entendimento do Sol sofreu um processo de racionalização no que concerne à sua relação com a imortalidade, renascendo todos os dias, migrando do Deus-Sol das culturas ancestrais, aos pragmáticos efeitos do poder da energia solar sob o planeta. Na antiguidade, os povos mantinham estreito contacto com a natureza, veiculando ao Sol preponderante importância nas suas vidas. Dele dependia o êxito das colheitas, a perspetiva de provimento alimentar, assim como o comportamento meteorológico, a rígida sequência de dias quentes e sorridentes e as noites frias, misteriosas e amedrontadoras, tudo isso dependia dele.

templo de Saturno; Roma
Na Saturnália, festividade antecessora do Natal, quando em 21 de Dezembro o Sol entrava em Capricórnio, signo regido por Saturno, os poderes das trevas tomariam conta do Sol, o dador da vida.

Os cultos pagãos de adoração ao Sol parecem ter influenciado a própria liturgia cristã, tendo fixado o dia incerto do nascimento de Jesus, data máxima do cristianismo, em 25 de dezembro, para coincidir com a festa da religião monoteísta romana dedicada ao deus Saturno (17 a 25 dezembro), para celebração do nascimento do Sol invencível - Natalis Solis Invictus. Festejava-se, com ritos de alegria e troca de prendas o momento em que o Sol cresce, ou renasce, após ter atingido a sua duração mais curta (21 ou 22 de Dezembro). Magnanimamente, neste período, os escravos recebiam permissão para fazer o que mais lhes agradasse, inclusive poderiam ser servidos pelos amos.

Na mitologia grega, o inverno explicava-se devido à tristeza de Demeter, deusa da natureza, por Hades, deus do submundo, ter sequestrado a sua filha Perséfone. Depois de fazer um acordo com Zeus, Perséfone retorna à sua mãe a cada seis meses. Assim, a tristeza da deusa Deméter durante a ausência de sua filha, explicava as baixas temperaturas e a ausência de vida e flora na terra durante o inverno.

O solstício de inverno marca a noite mais longa do ano, levando à conceção de muitas histórias e tradições associadas com a morte e a ressurreição em diferentes culturas e religiões, desde a Egípcia, à Asteca, ao império do Sol nascente japonês, ao próprio Cristianismo. Data de 3200 a.C. o templo de Newgrange, monumento onde ao nascer do Sol no Solstício, um fino raio de luz invade uma fresta de 19 metros e ilumina o interior da tumba por alguns poucos minutos. O solstício de inverno, o menor dia do ano, simboliza a vitória da luz sobre a escuridão, uma vez que, a partir de então, a luz voltará a reinar, com o recomeço do aumento da duração do dia.

Com efeito, entre 21 ou 22 de dezembro, a cada 365 dias, o Sol, como círculo de fogo e luz, símbolo universal do infinito e do princípio da criação, atinge a sua máxima declinação-Sul, cerca de 23⁰27’, “estacionando” nela durante três dias, e retomando o caminho do Norte, a partir do dia 24 ou 25, numa dinâmica de renascimento que influi determinantemente no clima, na vida no planeta Terra, e nossa viagem pelo cosmos!