Poluição no ar: que 'preço' pagaremos pelo seu aumento?

Durante a fase mais crítica da pandemia, os níveis de poluição no ar desceram em quase todo o planeta, mas no mundo pós-pandemia estão a subir de forma consistente, situação que poderá acarretar custos severos a curto ou médio prazo. Fique a saber mais sobre esta temática, connosco!

Poluição
Emissão de gases poluentes pela ação humana, algo que cada vez mais está a colocar em risco a população humana.

A poluição do ar, principalmente na região intertropical (entre os Trópicos de Câncer, no Hemisfério Norte, e de Capricórnio, no Hemisfério Sul), está a aumentar rapidamente e poderá causar centenas de milhares de vítimas mortais nos próximos anos, se não forem tomadas medidas mais fortes que salvaguardem a qualidade do ar em ambientes urbanos. Estas são as conclusões de um novo estudo desenvolvido pela University College London (UCL).

As megacidades que têm registado uma progressiva diminuição da qualidade do ar encontram-se em países em desenvolvimento, cujos sistemas de saúde são vulneráveis ou estão sobrecarregados.

Este estudo indica que pelo menos 180.000 pessoas morreram de forma prematura, em 2018, resultado da exposição prolongada a gases poluentes (desde 2005). Só este indicador estatístico é deveras preocupante, pois olhando para a tendência mundial da taxa de urbanização, estima-se que até ao final do corrente século, quase 75% das cidades de grandes dimensões (também apelidadas de megacidades, com uma população de 10 milhões ou mais de habitantes) se localizem precisamente nas regiões intertropicais.

Através da análise deste estudo, é possível compreender que em muitas das megacidades estudadas (este estudo inclui dados de 46 cidades distribuídas entre África, o Médio Oriente e Ásia) a concentração de gases poluentes aumentou entre 8 e 14%, uma taxa de aumento que pode ser 3 vezes superior às taxas nacionais e regionais de certos países.

Por incrível que pareça, as principais fontes emissoras destes gases poluentes são as atividades industriais e o setor da habitação privada. Ao contrário do que se pensava, estes gases não advêm quase exclusivamente da atividade agrícola ou da queima da biomassa – estamos a entrar numa nova era de poluição do ar nas cidades.

Como indica uma das autoras deste estudo, a Professora de Geografia Eloise Marais da UCL (Londres), a população urbana está a aumentar continuamente (tendência que se vai continuar a verificar), o que leva à degradação progressiva da qualidade do ar, ou seja, há um número cada vez maior de população urbana exposta aos malefícios da poluição do ar, o que pode levar a problemas graves do ponto de vista da saúde pública.

Efeitos específicos

Utilizando dados da NASA e da Agência Espacial Europeia foi possível detetar em várias cidades uma vasta gama de compostos poluentes extremamente prejudiciais aos seres humanos. Um dos mais prejudiciais, o dióxido de nitrogénio, que está associado a doenças cardíacas e a casos de cancro nos pulmões, viu a sua concentração aumentar significativamente em 34 das 46 cidades analisadas.

Cidades como Chittagong e Daca, no Bangladesh, Luanda, em Angola, Antananarivo, em Madagáscar e Hanói, no Vietname viram a concentração deste gás cancerígeno mais que duplicar. Mas nem tudo são más notícias: por exemplo, a capital da Indonésia, Jacarta, foi umas das poucas cidades analisadas a obter melhores resultados em vários indicadores. Este 'pequeno' sucesso está associado à implementação eficaz de políticas que visam reduzir as emissões dos veículos motorizados (principais emissores de dióxido de nitrogénio).

Infelizmente, a cidade de Jacarta continua a não ser um exemplo a seguir, já que outras atividades humanas, nomeadamente o setor da agricultura, continua a prejudicar severamente a qualidade do ar na cidade (emitindo amónia).

Megacidades com a pior qualidade do ar estão em países em desenvolvimento

Este estudo salienta, ainda, que as megacidades que têm registado uma progressiva diminuição da qualidade do ar se encontram em países em desenvolvimento, cujos sistemas de saúde são vulneráveis ou estão sobrecarregados, situação que coloca ainda mais em risco a população que está altamente exposta.

A “bola” está agora do lado dos formuladores de políticas, das autoridades que gerem as cidades e/ou as áreas metropolitanas, devendo estes promover políticas que determinem formas eficazes e economicamente viáveis de reduzir os índices de poluição.