Plano de drenagem de Lisboa. O que está a ser feito no subsolo da cidade para evitar as cheias repentinas?
Com a conclusão prevista para finais de 2027, os dois túneis subterrâneos que vão atravessar a cidade irão desviar os caudais excessivos, mitigando os impactos das alterações climáticas na capital.

Nos últimos 150 anos, o distrito de Lisboa foi o palco de 115 eventos de precipitação extrema, que já provocaram a morte a mais de 1300 habitantes e milhões de euros em prejuízos, segundo a base de dados Disaster, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, da Universidade de Lisboa. É praticamente um evento severo por ano.
Proteger a capital das inundações é, por isso, o objetivo do Plano Geral de Drenagem de Lisboa. O projeto começou a ser desenvolvido em 2008, mas só agora saiu do papel e está finalmente no terreno. Levada a cabo pelo Município de Lisboa, esta é a maior obra de sempre concretizada por uma autarquia portuguesa, com um custo estimado em 250 milhões de euros.
Túneis gigantes no subsolo da cidade
Os trabalhos iniciaram-se em 2023, na freguesia de Campolide, com uma tuneladora a atravessar o sobsolo de grandes artérias, como as avenidas da Liberdade e Almirante Reis. O túnel, com 4400 metros, chegou agora à zona da estação ferroviária de Santa Apolónia, junto ao rio.

Durante as semanas que se seguem, esta gigante máquina irá ser transportada até ao Beato para, no início do próximo ano, começar a escavar um segundo túnel, com cerca de um quilómetro de extensão até ao bairro de Chelas.
Os dois túneis do Plano Geral de Drenagem de Lisboa vão captar águas de zonas altas como Monsanto e Chelas, e também de pontos intermédios da cidade, como a Av. da Liberdade, a rua de Santa Marta e Av. Almirante Reis, encaminhando-as até ao Tejo.
O tratamento das águas
Cada túnel possui ainda bacias para reter e tratar as águas pluviais. Esses reservatórios vão servir para eliminar a poluição, sobretudo os óleos que os carros largam nas estradas e que são arrastados pelas chuvas.
Sendo impróprias para consumo, as águas recicladas nestas duas estações serão distribuídas pelas várias freguesias da cidade e usadas para diferentes finalidades, como rega de espaços verdes, lavagens de rua ou reforço do sistema de combate aos incêndios.
Controlo das cheias na origem
O projeto, todavia, não se resume à capacidade destes dois túneis de tratar e desviar as águas pluviais das zonas altas até ao rio. Há outras soluções que vão ser criadas, como a construção de trincheiras drenantes e bacias de infiltração.
Estes mecanismos vão gerir o volume das águas nos próprios locais onde caem, impedindo que cheguem em excesso aos coletores de esgotos.
Os próprios túneis também irão fazer o transvase de bacias de drenagem quando atingirem o seu limite. Estão ainda planeadas várias intervenções integradas na rede de drenagem da cidade.
Monitorização em tempo real
Além de estar prevista a sua digitalização, esta gigante infraestrutura de coletores de esgotos, com 1700 quilómetros, será alvo de reparações e trabalhos de conservação para resolver problemas de estrangulamento e de deterioração dos materiais.

Medidores de caudal e medidores de nível de água, instalados em pontos estratégicos irão ajudar também a rede a diversificar o seu escoamento. O intuito é apetrechar o sistema com os instrumentos certos para fornecer informação crítica que permita a autarquia atuar em tempo real.
Depois da obra feita, há, porém, um novo desafio que não poderá ser negligenciado. Projetado para funcionar durante um século, o sistema, que se prevê estar concluído até finais de 2027, exigirá manutenção, atualização e obras de conservação constantes para manter a sua máxima eficiência.
Referência do artigo
Plano Geral de Drenagem de Lisboa. Câmara Municipal de Lisboa