Pinheiro bravo: arderam mais de 56 mil hectares em 2025. São precisos 112 milhões para repor o potencial produtivo

O 6º relatório provisório do ICNF revela que a área ardida em Portugal em 2025 foi 260.569 hectares, dos quais 46% povoamentos. A área ardida de pinheiro-bravo foi estimada em 56 210 hectares, cerca de 7% da área total de pinheiro-bravo em Portugal continental.

Pinheiro bravo
A área de pinheiro-bravo ardida este ano foi estimada em 56 210 hectares, o que corresponde a cerca de 7% da área total de pinheiro-bravo em Portugal continental.

O Centro PINUS, associação que agrega os agentes económicos da fileira do pinheiro bravo em Portugal, já avaliou os prejuízos económicos para a fileira do pinho decorrentes dos incêndios de 2025.

Olhando para o 6º relatório provisório do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), as conclusões não são animadoras: A área de pinheiro-bravo ardida este ano foi estimada em 56 210 hectares, o que corresponde a cerca de 7% da área total de pinheiro-bravo em Portugal continental.

As regiões Norte e Centro concentraram a maior área ardida de pinheiro-bravo, com destaque para Beiras e Serra da Estrela e Douro.

Só o grande incêndio que teve início em Arganil e os incêndios ocorridos na Guarda e em Viseu foram responsáveis por 66% da área ardida de pinheiro-bravo em 2025.

Prejuízos de mais de 83 milhões de euros

De acordo com o Centro PINUS, os prejuízos para os proprietários resultantes do corte prematuro de povoamentos terão atingido “cerca de 83,1 milhões de euros”, também em resultado do corte prematuro de povoamentos que perderam a sua capacidade produtiva.

O Centro PINUS avança, em comunicado, que a área de pinhal cuja recuperação estará comprometida está estimada em cerca de 21 mil hectares. Isto porque, “em 37% da área ardida em 2025 poderá não ocorrer regeneração natural em quantidade suficiente” para gerar novos povoamentos, devido à idade ser inferior a 20 anos. Contas feitas, os responsáveis da fileira do pinheiro bravo calculam que, nos próximos anos, será necessário “investir 112 milhões de euros para repor o potencial produtivo perdido” nos incêndios de 2025.

Em 2024, o Centro PINUS estava otimista. Quando publicou os indicadores do setor para esse ano, diziam que o ano trazia “sinais encorajadores no plano industrial”, em especial no que toca à produção de madeira serrada, que tinha registado um “crescimento de 10%”.

Maior incorporação de resíduos de madeira

E o papel de embalagem também estava em alta, tendo subido “uns expressivos 28%”, o que, para a associação, revelava “a vitalidade e capacidade de adaptação da fileira do pinho, mesmo num contexto marcado por fortes constrangimentos estruturais no recurso florestal de base”.

Pinheiro bravo
Os indicadores de 2024 do Centro PINUS revelam que, do lado da floresta, se assinala “um aumento significativo na certificação de plantas de pinheiro-bravo”.

É certo que, já em 2024 e nos primeiros meses deste ano, o défice de madeira era “elevado”, estando “estimado em 48% do consumo industrial”.

Em todo o caso, esse défice era, em parte, “compensado por uma maior incorporação de resíduos de madeira e de papel para reciclagem”. Uma realidade que, de acordo com o Centro PINUS, até “sublinha a importância crescente da circularidade e da valorização de subprodutos”.

Os indicadores do setor revelados em 2024 pela associação que agrega os agentes do pinheiro bravo davam ainda conta de que, do lado da floresta, se assinala “um aumento significativo na certificação de plantas de pinheiro-bravo”. Foram certificadas “10,8 milhões de plantas”, o que dá “um sinal de uma forte dinâmica de arborização”.

Uma das empresas da fileira, a Sonae Arauco, está, aliás, a liderar projetos de investigação e desenvolvimento para a floresta nacional, nomeadamente a testar espécies de Pinheiro bravo e Pinheiro radiata, provenientes de programas de melhoramento genético, em diversas condições de clima e solo.

Pinheiro
De acordo com o Centro PINUS, os prejuízos para os proprietários resultantes do corte prematuro de povoamentos terão atingido “cerca de 83,1 milhões de euros.

O objetivo, segundo a empresa, é que estes ensaios, construídos sobre uma base de conhecimento partilhado e de melhores práticas, funcionem como "laboratórios vivos, que ajudem os proprietários florestais a identificar as melhores espécies", ou seja, aquelas que vão trazer maior rentabilidade, para as suas áreas.

Mas os problemas vieram em 2025, com os incêndios que assolaram o território continental. O volume de madeira afetado em resultado dos fogos aproximou-se “do défice anual de madeira” desta fileira, afirma o Centro PINUS.

Tanto é assim que, a partir de outubro deste ano, já se começou a notar “um desequilíbrio entre a oferta e a procura”, refere o Centro PINUS.

Para esta conjuntura está a contribuir, além da colocação no mercado de madeira dos incêndios de 2025 em Portugal, a entrada de madeira proveniente dos incêndios que também ocorreram este ano em Espanha e que atingiram um valor “muito elevado”.

Face a este cenário, o Centro PINUS recomenda que se evite a colocação de madeira “verde” no mercado, de forma a “facilitar a valorização possível da madeira resultante dos incêndios de 2025”.