O ano passado ficou marcado por quase quatro centenas de eventos catastróficos, divulga relatório recente

O ano de 2023 ficou marcado por um número significativo de eventos disruptivos: quase 400 desastres, que provocaram perdas económicas, destruição e significativas e irrecuperáveis perdas humanas. Conheça os dados em pormenor!

O ano de 2023 fica marcado por quase quatro centenas de eventos catastróficos. A imagem mostra o resultado da destruição provocada pelo sismo ocorrido na Turquia no ano passado.

O Centre for Research on the Epidemiology of Disasters (CRED), juntamente com a Universidade Católica de Louvain (UCLouvain) e a United States Agency for International Development (USAID), publicaram recentemente o relatório anual "2023 Disasters in numbers".

Com base nos dados do Banco de Dados de Eventos de Emergência (EM-DAT), gerido pelo CRED, este relatório apresenta os impactes dos desastres para aquele ano e explana em números a ocorrência destes eventos altamente disruptivos, especificando-os também por tipologia, impactes na vida humana e por perdas económicas.

Segundo os dados registados pelo EM-DAT, no ano de 2023 deram-se 399 eventos catastróficos, que resultaram na perda de 86 473 vidas humanas, afetaram cerca de 91 milhões de pessoas e induziram perdas económicas no valor de 202,7 mil milhões de dólares.

As quase quatro centenas de eventos de 2023 são ligeiramente inferiores à média de 2003 a 2022 (369). Destaque-se, por um lado, um decréscimo significativo de secas (menos 38%) e eventos de temperaturas extremas (menos 52%) e, por outro, uma subida acentuada de tempestades (mais 46%) e incêndios de cariz rural (mais 34%).

As cheias e inundações predominam (164 eventos), seguidas das tempestades (139) e só depois dos terramotos (32).

O continente asiático foi o mais afetado em número de desastres (163). Um pouco mais atrás classificou-se o continente americano (98). O continente africano registou 60 eventos catastróficos, o continente europeu 61 e a Oceânia 17.

Em 2023 registou-se um elevado nível de perdas humanas, superando a média dos últimos 20 anos, que é de 64 148 óbitos.

Este elevado nível de mortalidade deve-se, sobretudo, aos terramotos ocorridos, em fevereiro de 2023, no sul da Turquia (de 7,8 Mw, 7,5Mw e demais réplicas) e que afetaram não só este país, mas também a vizinha Síria.

Só estes eventos foram responsáveis por dois terços do total de mortes registadas pelo EM-DAT, com 56 683 perdas humanas. Os terramotos causaram danos que ultrapassaram os 42 mil milhões de dólares e afetaram cerca de 18 milhões de pessoas, o que faz deste o segundo evento conjunto mais impactante em indivíduos afetados.

A maioria das mortes no mundo ocorreram, então, devido a sismos (72% do total), seguindo-se as tempestades (17% do total) e cheias e inundações (9% do total).

Em termos de distribuição geográfica, só os continentes africano e asiático são, na quase totalidade, a “casa” destas perdas, representando 98% do total. Também a maioria das pessoas afetadas vive nestes dois continentes (84,9% do total).

O número global de pessoas afetadas, 93,1 mil milhões, está abaixo da média anual de 175,5 mil milhões, de 2003-2022. A diferença deve-se, principalmente, ao número relativamente baixo de novos eventos de secas significativas.

O relatório ressalva, no entanto, que os números relativos aos eventos de seca possam estar subestimados por dois motivos. Primeiro, por estes, em alguns casos, não terem ainda cessado e, em segundo, pelo facto de os reportes sobre estes eventos ocorridos na Europa ainda estarem, nalguns países, em elaboração.

As tempestades geraram os maiores impactes económicos (100 mil milhões de dólares), sendo que o continente americano foi o que sofreu mais perdas financeiras em todas as tipologias de desastres (88,9 mil milhões de dólares).

O valor global reportado de 202,7 mil milhões é um pouco superior à média das últimas duas décadas (196,3 mil milhões de dólares).

Não deixa de ser curioso que, apesar de o continente africano estar sempre nos lugares cimeiros de vidas afetadas e perdidas, tenha ainda uma subnotificação nos impactes económicos.

Esta discrepância sublinha, mais uma vez, a necessidade crítica de intensificar os esforços globais na avaliação, relato e divulgação de perdas económicas resultantes de desastres.

Tempestade Daniel devastou a Líbia em setembro do ano passado, depois de ter um rasto de destruição na Grécia.

Os eventos disruptivos mais marcantes

Além do já aqui relatado terramoto que se deu em território turco, um conjunto de outros eventos de alto impacte ocorreram um pouco por todo o globo. Destacamos agora alguns dos mais notáveis.

A 8 de setembro, um terramoto de magnitude 6,8 Mw na cordilheira montanhosa Alto Atlas, a sudoeste de Marraquexe, em Marrocos, resultou em 2 946 vítimas mortais e perdas económicas estimadas em 7 mil milhões de dólares.

Também em setembro a tempestade Daniel afetou a Líbia, já depois de ter “mastigado” a Grécia, e causou neste primeiro, severas cheias e inundações que provocaram a morte a mais de 12 mil pessoas e deixaram mais de 8 mil desaparecidos. Foi o segundo evento mais mortífero do ano.

Em outubro, a tempestade tropical Otis no México afetou um milhão de pessoas, causou 104 mortes e resultou em danos no valor de 12 mil milhões de dólares, o que o tornou na tempestade mais cara já registada neste país.

De todos, o desastre mais caro de 2023 foi registado nos Estados Unidos da América quando um evento combinado de seca e onda de calor afetou os estados do sul e do centro-oeste, deixou danos calculados em 14,5 mil milhões de dólares.

Já o evento disruptivo que mais indivíduos afetou deu-se na Indonésia, entre maio a outubro. Uma seca sem precedentes afetou de forma severa cerca de 18,8 milhões de pessoas.


Referência da notícia:

UCLouvain, USAID, CRED (2024). 2023 Disasters in numbers.