Nuvem rara surpreendeu banhistas em dia de calor extremo: entenda o fenómeno!

Este domingo, 29 de junho, surgiu uma nuvem rolo em algumas praias portuguesas. Conheça o fenómeno raro e cientificamente fascinante!

Arcus cloud
Imagem meramente ilustrativa de uma nuvem arcus (nuvem rolo). Esta fotografia não foi captada em Portugal no dia do fenómeno descrito. Foto: Wikimedia

Este domingo, 29 de junho, quem se encontrava nas praias do litoral norte e centro de Portugal foi surpreendido por um fenómeno atmosférico invulgar: uma imensa nuvem horizontal, de aspeto tubular, conhecida como nuvem rolo ou arcus cloud, que deslizou sobre a costa com aparência de uma onda gigante.

Registada em locais como Póvoa de Varzim, Esposende, Figueira da Foz e na Ria de Aveiro, esta nuvem suscitou surpresa e admiração tanto entre os banhistas como na comunidade científica.

Mas, afinal, o que é uma nuvem rolo?

O que é uma nuvem rolo?

As nuvens rolo pertencem à categoria das nuvens arcus, mais especificamente ao tipo roll cloud, uma formação horizontal, destacada das outras nuvens, com aparência cilíndrica. São nuvens de baixa altitude, que podem estender-se por dezenas de quilómetros e que parecem “rolar” lentamente no céu, como se tivessem um eixo invisível.

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, trata-se de “uma massa de nuvem longa, tipicamente baixa, horizontal, destacada e em forma de tubo, que muitas vezes parece rolar lentamente em torno de um eixo horizontal”.

Segundo o Met Office do Reino Unido, estas nuvens formam-se “quando uma corrente descendente fria atinge o solo e empurra o ar quente e húmido à frente, forçando-o a subir e a condensar-se, criando assim esta estrutura tubular” (Met Office, UK). Este tipo de interação é comum na presença de frentes frias ou brisas marítimas fortes, sobretudo quando estas entram em contacto com massas de ar mais quentes no litoral.

Apesar da sua aparência dramática e, por vezes, até intimidante, estas nuvens não estão necessariamente associadas a tempestades severas. Aliás, o fenómeno resulta da diferença de temperatura entre a superfície terrestre e o mar, o que, em dias de calor extremo e com brisas marítimas intensas, pode favorecer a sua formação.

Um espetáculo raro em Portugal

Embora muito comuns em certas partes do mundo — como no Golfo de Carpentaria, no nordeste da Austrália, onde ocorrem de forma sazonal e previsível — as nuvens rolo são consideradas extremamente raras em Portugal. Existem registos pontuais ao longo dos últimos anos, mas quase sempre documentados por amadores da meteorologia ou entusiastas em redes sociais.

Nuvem rolo
O fenómeno foi registado nas redes sociais. Foto: Facebook/ Nélson Moreira

Este tipo de fenómeno já foi ocasionalmente observado em locais como o sul do Brasil, Uruguai, Canal da Mancha ou Califórnia, mas em Portugal, é uma verdadeira raridade. “É um fenómeno considerado raro, sobretudo em Portugal”, confirmou o jornal ‘O Minho’, que reportou o evento na praia da Póvoa de Varzim ao final da tarde.

Ali, por volta das 18:00 horas, o espanto foi generalizado. “Parecia uma onda gigante parada no céu”, disse um banhista à publicação ‘O Minho’. Muitos recolheram rapidamente os pertences, sobretudo quando a nuvem se fez acompanhar de vento súbito e intenso. O mesmo aconteceu em praias da Figueira da Foz, onde vídeos partilhados nas redes sociais mostraram a progressão da nuvem ao longo da linha de costa.

Apesar da intensidade visual do fenómeno, não se registaram tempestades, precipitação significativa ou relâmpagos associados. A sensação térmica alterou-se ligeiramente, com uma queda abrupta da temperatura e o aumento de vento momentâneo — efeitos típicos da aproximação de uma frente de rajada seca.

Episódio semelhante em 1989

Um episódio semelhante ocorreu em 1989, quando uma nuvem rolo surpreendeu os banhistas nas praias algarvias, "num dia de calor extremo".

Na altura, o fenómeno causou grande alvoroço, com muitos a temerem tratar-se de um tsunami devido à sua aparência imponente. Felizmente, o evento não resultou em danos significativos, mas deixou uma marca na memória coletiva da população.

Mudanças climáticas recentes e impacto na instabilidade costeira

Nos últimos cinco a dez anos, têm-se verificado alterações no comportamento atmosférico da região atlântica ocidental.

As ondas de calor mais prolongadas e a intensificação dos gradientes térmicos entre o mar e o continente têm levado a um aumento de episódios de instabilidade costeira, incluindo a formação de células convectivas, frentes de rajada e fenómenos localizados como as nuvens arcus.

Estas transformações coincidem com tendências climáticas observadas globalmente, que apontam para um aumento da frequência e intensidade de eventos extremos em latitudes médias.

Portugal
No passado domingo, 29 de junho, a anomalia positiva foi superior a 20 ºC.

Na Póvoa de Varzim, por exemplo, em junho, o clima típico do mês apresenta médias máximas entre 23 °C e 24 °C. Tendo em conta que, às 18:00 horas, a temperatura máxima chegou aos 30 °C, é notório quão excecional foi este pico térmico.

Consequências e valor científico

Do ponto de vista da segurança, o fenómeno não representou qualquer risco direto, mas serve como lembrete da importância da vigilância meteorológica, especialmente em dias de calor extremo e variação rápida das condições atmosféricas. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) havia emitido avisos vermelhos e laranja para vários distritos devido à onda de calor que afetou o país durante o fim de semana.

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Devido à onda de calor que está a atingir o país, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera colocou sete distritos do continente em aviso vermelho, entre esta segunda-feira e terça-feira (30 de junho e 1 de julho): Lisboa, Setúbal, Santarém, Évora, Beja, Castelo Branco e Portalegre.

Os restantes distritos estarão com avisos laranja (o segundo mais grave) e amarelo.