Mudança de tempo em Portugal: irá uma das depressões adquirir características subtropicais? Eis os possíveis efeitos

As depressões e várias frentes que irão chegar a Portugal a partir de sexta 13 vão atravessar latitudes muito baixas e mares imensamente quentes. Não se descarta que algum destes sistemas cá chegue com características subtropicais. Eis o que se vislumbra.

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Que probabilidade a depressão que irá atingir o nosso país tem de ganhar características subtropicais? Abaixo a análise a este fenómeno que condicionará o tempo em Portugal nos próximos dias.

É notícia há vários dias a iminente mudança no estado do tempo que cessará as temperaturas dignas de verão e o ambiente soalheiro. A crista anticiclónica que tem condicionado o panorama meteorológico em Portugal continental irá deslocar-se para leste e o anticiclone enfraquecerá, o que se traduzirá na aproximação de uma depressão e na chegada da sua frente fria à Galiza e ao Noroeste de Portugal continental.

Quando esta frente chegar ao nosso país, ocorrerá um aumento da nebulosidade e os primeiros pingos de chuva começarão a cair na sexta-feira (13), possivelmente ao fim da manhã/início da tarde, em particular nas regiões do Minho e Douro Litoral (e talvez distritos de Vila Real, Aveiro e Viseu). A precipitação poderá depois expandir-se para as restantes regiões de uma maneira mais intermitente e escassa nas últimas horas do dia 13 de outubro.

Com a travessia da frente pela nossa geografia prevê-se também uma descida considerável das temperaturas de norte a sul, especialmente no Litoral Norte e Centro. No Algarve será muito mais suave a diminuição das temperaturas. No sábado (14) voltará a ficar mais fresco durante o dia, mas a descida térmica será mais leve.

Contudo, a parte mais significativa desta mudança terá início depois da passagem desta primeira frente: um centro de altas pressões irá estabelecer-se na Escandinávia a partir do fim de semana, forçando as depressões e frentes a circular muito mais a sul. A área antes ocupada pelo poderoso anticiclone de bloqueio que nos condiciona o tempo há várias semanas irá transformar-se numa “via aberta” para a circulação de depressões. Algumas delas irão atingir diretamente Portugal continental.

Uma segunda depressão poderá começar a produzir instabilidade sobre o Sudoeste da Europa a partir do próximo domingo (15), possivelmente “munida” por um rio atmosférico, podendo atingir diretamente Portugal continental. Prevê-se, portanto, decorrente disto, um episódio de chuva abundante, generalizada e persistente.

Saliente-se que, como esta depressão irá nascer e desenvolver-se a sul dos Açores, terá uma origem subtropical, sendo provável que arraste massas de ar temperadas e muito húmidas, os ditos rios atmosféricos que servem de “combustível” às chuvas abundantes e persistentes em latitudes como a da Península Ibérica.

O que tem de especial esta depressão?

A grande diferença desta depressão em relação à maioria das que procedem do Atlântico prende-se com o percurso que irá efetuar através das águas subtropicais e a anomalia térmica significativa com que se deparará no Atlântico Oriental.

Esta anomalia é significativa na medida em que a superfície marítima em redor da faixa costeira ocidental e meridional de Portugal continental registará entre 2 ºC e 3,5 ºC acima da média para a época do ano, variando entre os 19 ºC e os 21 ºC no litoral ocidental e alcançando os 22 ºC no litoral meridional ou algarvio.

As águas quentes vão estimular ainda mais a evaporação, proporcionando o aparecimento de uma massa de ar muito mais húmida e instável que dará azo à geração de fenómenos convectivos na dinâmica da depressão.

Apesar das probabilidades reduzidas, não se pode excluir totalmente a hipótese de que esta depressão obtenha características subtropicais nalguma fase do seu ciclo de vida. De acordo com a mais recente previsão dos mapas probabilísticos do ECMWF, esta depressão fará landfall com uma estrutura extratropical, ou seja, dificilmente irá adquirir características subtropicais.

Possíveis efeitos em Portugal continental

A probabilidade de o núcleo da depressão adquirir características subtropicais - como aconteceu com a tempestade subtropical Alpha em 2020 - é bastante reduzida. Todavia, um aspeto que deve ser realçado é o longo percurso da massa de ar através de regiões subtropicais e a probabilidade de que depois desta depressão, outras de características semelhantes se aproximem do nosso país.

O que realmente merece ser destacado é a possibilidade da chuva ser localmente forte e a possível ocorrência de um temporal marítimo nalguns pontos da fachada atlântica. A precipitação poderá ser acompanhada de trovoada. Saliente-se também os ventos intensos de Oeste-Sul-Sudoeste e as possíveis inundações em áreas historicamente vulneráveis.