Está a chegar o vórtice polar: como será o inverno de 2022-2023?

Na estratosfera do polo norte está a formar-se o vórtice polar. É um sistema de baixas pressões que surge no fim de agosto e se mantém até final do inverno. Nos próximos meses definirá o tempo na Europa e EUA durante o inverno de 2022-2023.

vórtice polar
Durantes os próximos meses irá intensificar-se o vórtice polar do hemisférico norte estratosférico, contribuindo para a definição do tipo de inverno que iremos ter neste ano.

O vórtice polar é um ciclone “gigante” e persistente que se localiza nas camadas médias/altas da troposfera e na estratosfera nos polos (entre 8 e 10 km de altura). Normalmente, é mais intenso durante o inverno e mais fraco no verão. Ainda assim, podem ocorrer quebras no inverno, especialmente no vórtice polar do Ártico. Este constitui-se como aquele que tem maior influência no clima do Hemisfério Norte.

A geografia do hemisfério norte aumenta as ondas planetárias ou de Rossby, que contribuem para surgirem maiores eventos de aquecimento da estratosfera. Nestes casos, o ar quente é empurrado para as camadas mais baixas até aos 50 km de altitude, causando o “aquecimento súbito da estratosfera”.

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Este tipo de fenómeno ocorre tipicamente entre meados de dezembro e finais de janeiro. De facto, o vórtice polar tem grandes implicações sobre o clima, especialmente durante o período invernal em que é mais intenso.

Quais são as implicações de vórtices polares mais fortes ou fracos?

O vórtice polar forte é mais frio e profundo, exercendo mais influência no nosso clima. Um bom exemplo ocorreu entre fevereiro e março de 2020. Se se verificarem anomalias negativas significativas no núcleo do vórtice polar, mais profundo e forte será relativamente ao normal e provocará uma maior circulação e alteração da pressão aos níveis mais baixos.

Padrões do vértice polar forte (à esquerda) e fraco (à direita). Fonte: NOAA.

Por seu turno, um vórtice polar enfraquece graças ao efeito do aumento da temperatura e pressão na estratosfera. Designa-se por evento súbito de aquecimento estratosférico e pode implicar o colapso do vórtice polar. Além de ocorrer a interrupção da corrente de jato, verificam-se altas pressões sobre o círculo ártico e a circulação de ar frio do Ártico em território europeu e nos EUA.

Tal evento ocorreu, por exemplo, em 2021. No dia 5 de janeiro de 2021 verificou-se um aquecimento súbito estratosférico, considerando a inversão dos ventos em redor do círculo polar. Tal arrastou-se ao Polo Norte na estratosfera, acarretando a divisão do núcleo frio do vórtice polar em duas partes.

Quais são as previsões para o inverno de 2022-23?

As condições La Niña prevalecerão durante o outono e inverno na região do ENSO (El Niño-Oscilação do Sul). Um enfraquecimento de La Niña é esperado em meados de 2023. A verificarem-se as tendências atuais é possível a ocorrência de um evento de aquecimento estratosférico a meio do inverno, tendo por base uma La Niña ativa. Convém dar nota que, historicamente, quando ocorre este tipo de episódio, existe uma probabilidade de 60 a 75% de se produzir um aquecimento súbito estratosférico.

De qualquer forma, devemos estar atentos à evolução dos grandes sistemas de altas e baixas pressões no Pacífico Norte. Fatores como a convecção tropical, as anomalias das temperaturas no oceano ou a intensidade dos ventos estratosféricos poderão determinar as condições climáticas que irão predominar durante uma boa parte do inverno.

Dados recentes do ECMWF para o final de outono e início de inverno mostram uma redução na potência dos ventos estratosféricos. Tal comportamento poderá implicar o enfraquecimento do vórtice polar e, por sua vez, um padrão mais perturbado e a possibilidade de bloqueio em altas latitudes. A verificar-se, significará um inverno com ar mais frio na Europa e nos EUA.