Entre Portugal e Espanha há um destino que não passa despercebido à imprensa internacional
Escolhido pela ‘Condé Nast Traveler’ como um dos 50 recantos mais silenciosos do mundo, este refúgio natural oferece paisagens imponentes e uma serenidade difícil de igualar.

Se está à procura de um lugar para desligar do mundo — mas mesmo desligar, sem notificações, sem buzinas e sem vizinhos a furar paredes — apresentamos-lhe as Arribas do Douro. Esta maravilha natural estende-se na fronteira entre Portugal e Espanha, e foi recentemente coroada pela ‘Condé Nast Traveler’ como um dos 50 locais mais silenciosos do planeta. Mas não se engane: aqui o silêncio não é vazio, é cheio. Cheio de sons que a pressa da cidade já não nos deixa ouvir.
“A quietude, ao que parece, está a escapar-nos. No ambiente cacofónico em que a maioria de nós vive — repleto de sirenes, barulho de obras, buzinas e música estridente — o espaço para a reflexão e para uma mente serena está cada vez mais reduzido”, lê-se na publicação da revista de viagens.
“Gordon Hempton, ecologista acústico e cofundador da organização sem fins lucrativos Quiet Parks, faz a distinção entre ‘quietude’ e ‘silêncio absoluto’, apesar de muitas vezes utilizarmos estas palavras como sinónimos. Segundo ele, a quietude não é a completa ausência de sons, mas sim o esbatimento do ruído humano”, nota.
“A natureza também tem sons, mas é a ausência dessas fontes sonoras artificiais e estrondosas que permite aceder aos sons mais ténues e significativos”, explica. “Por essa lógica, a quietude é a presença dos bons sons: o bater das asas dos morcegos, os gritos de uma andorinha-do-mar, o sussurrar das ervas nas dunas, o ondular de um lago.”
Os benefícios de passar tempo em ambientes de quietude
A investigação de Gordon Hempton demonstrou que passar tempo em ambientes de quietude natural traz inúmeros benefícios. Alguns deles são ajudar-nos a refletir, a lidar melhor com as emoções, a reduzir o stress e até a estimular a criatividade.
A ‘Condé Nast Traveler’ fez precisamente estas perguntas a alguns dos seus escritores e editores de viagens de todo o mundo. E, ao que parece, apesar de ameaçados, os lugares silenciosos ainda existem em todo o lado.

É verdade que alguns exigem viagens mais longas, como Wadi Rum, na Jordânia, o Parque Nacional da Baía dos Glaciares, no Alasca, ou a Reserva de Céu Escuro no Lago Takapō, na Nova Zelândia. Outros são pequenos refúgios de serenidade bem perto de nós, como o Parque Natural das Arribas do Douro.
“Nestes locais, afastados do bulício do quotidiano, todos os sons naturais se amplificam — desde os chilreios dos esquilos aos bramidos distantes da vida selvagem e ao estalar de um glaciar. Da mesma forma, os nossos pensamentos e sentimentos interiores vêm ao de cima, libertos da vida polifónica e sobrecarregada pela tecnologia. Mas pode também acontecer que comece a sintonizar-se com uma ressonância mais profunda que não consegue imediatamente identificar: um zumbido cósmico, mais antigo do que o próprio tempo, que, com sorte, continuará a ecoar dentro de si muito depois de partir.”
Um lugar mágico tão próximo de nós
Situado entre as províncias espanholas de Salamanca e Zamora, ‘colado’ ao nordeste de Trás-os-Montes, o Parque Natural das Arribas do Douro é um verdadeiro anfiteatro esculpido pela força do rio Douro, que aqui se encolhe entre desfiladeiros com mais de 200 metros de altura. Imagine um rio que se transforma em espelho, refletindo as escarpas que parecem tocar o céu.
Mas porquê tanto alarido (ou melhor, tanta calma) à volta deste lugar? A resposta está no tipo de silêncio que aqui se encontra. Como explicou Gordon Hempton, a verdadeira quietude não é a ausência total de som, mas a ausência de ruídos humanos. E, nas Arribas, o que se ouve são as asas de uma cegonha negra — uma das espécies raras que aqui encontra refúgio —, o sussurrar do vento a brincar com os zimbros e, se tiver sorte, o grito agudo de uma águia-real a marcar território lá no alto.
"O silêncio ecoa nas Arribas do Douro, o lugar mágico onde o rio Douro se transforma em Douro, criando uma fronteira natural entre Espanha e Portugal, repleta de escarpas, desfiladeiros e cascatas. Fujo para aqui sempre que posso, mas não conseguiria escolher o silêncio de uma estação em detrimento de outra", começa por escrever um dos editores sobre este destino.

É caso para dizer que cada estação traz a sua própria banda sonora. No outono, depois das vindimas heroicas nas encostas íngremes, o dourado toma conta da paisagem — não só nas folhas das amoreiras e oliveiras, mas também no céu, quando o pôr do sol parece incendiar os desfiladeiros. No inverno, a geada dá um toque de prata às aldeias adormecidas e as lareiras aquecem receitas de antigamente.
A primavera acorda tudo: alfazema, jasmim e as modestas serápias tingem os campos de cor, enquanto as cascatas ganham nova vida com as chuvas. E no verão… bem, no verão, mergulhar numa das muitas poças escondidas é mais do que permitido — é quase obrigatório.
Mas há mais do que paisagem e silêncio aqui. Segundo o site oficial do turismo de Castela e Leão, o parque é também uma arca de biodiversidade: mais de 170 espécies de aves, lontras a brincar nos afluentes e uma flora que varia da esteva ao alecrim.
E para quem gosta de um toque de cultura com a sua dose de natureza, as aldeias vizinhas, como Fermoselle ou Miranda do Douro, estão sempre prontas a receber com vinho local e com uma hospitalidade que só quem vive longe do bulício sabe oferecer.