Meteorologia dentro de casa, aprenda em quarentena

O confinamento nas nossas casas que estamos todos obrigados a fazer para tratar de travar a rápida expansão do coronavírus, é uma boa oportunidade para aprender Meteorologia. Para isso, basta observar alguns fenómenos físicos que ocorrem no interior das casas.

Cortina abanada pelo vento
Cortina de uma casa abanada pelo vento.

Estes são dias caseiros à força. Temos de travar a rápida propagação do coronavírus o mais depressa possível. Toca -a quase todos nós- estar por estes dias trancados em casa, saindo à rua apenas quando necessário. Não sabemos quanto tempo esta situação vai durar, pelo que temos que tentar organizar-nos bem e arranjar tempo para tudo, incluindo os nossos hobbies e o desejo de continuar a aprender coisas. A Meteorologia é uma delas e a ela vamos dedicar-lhe as seguintes linhas.

O isolamento que as nossas casas proporcionam não é total, já que existe comunicação com o exterior, precisamente através do ar; do meio atmosférico. Esta circunstância faz com que fenómenos semelhantes aos que ocorrem na atmosfera ocorram dentro das casas. Ocorrem a uma escala muito menor, mas são devidas às mesmas causas: as diferenças de pressão e de temperatura.

Experimente a brisa ao abrir uma janela

Basta abrir uma janela, para que comecemos a sentir uma corrente de ar fraca, semelhante a uma brisa muito leve, nas proximidades. Se o ar exterior for mais frio que o interior, por ter uma densidade maior, tende a entrar através da janela, forçando o ar mais quente do interior a escapar. É o que fazemos todas as manhãs quando nos levantamos e abrimos a janela do quarto. Desta forma, conseguimos renovar o ar que à noite está viciado pelo CO2que exalamos através da respiração.

Podemos também forçar uma maior ventilação interior nas casas, simplesmente abrindo, em lados opostos da casa, cada janela ou portas de entrada da casa. A diferença de pressão gera quase instantaneamente uma corrente que flui do local onde o ar é mais frio (pressão mais alta) para o outro. Não é raro que, como consequência disso, a porta se feche com estrondo. Quanto maior for a diferença de temperatura entre o ar que passa por cada uma das vias, maior será a intensidade desta corrente.

Se num dia frio de inverno abrirmos uma janela que dá para uma fachada onde o sol brilha há algum tempo, e outra janela na fachada oposta que dê para um pátio interior, onde todavia a luz do sol não entrou, a corrente gerada será particularmente intensa.

Panelas ao lume
Panelas nos fogões da vitrocerâmica de uma cozinha.

Radiação, condução e convecção sobre a sua vitrocerâmica

Dentro de uma casa, a cozinha é provavelmente o lugar que dá mais jogo meteorológico, já que nela temos uma importante fonte de calor: os fogões. Ao colocarmos uma panela de água a aquecer, entram em jogo as três formas de transmissão de calor que atuam na atmosfera: radiação, condução e convecção.

Pensando numa vitrocerâmica, tão comum na maioria das nossas cozinhas, quando acendemos o fogo começa a irradiar calor (radiação infravermelha) para cima. Quando colocamos a panela com água em cima, este calor transmite-se para o recipiente metálico por condução (por contacto). A base da panela quente seria equivalente à superfície terrestre, enquanto que a água faria a função da atmosfera. À medida que o fundo vai aquecendo na sua parte inferior, as parcelas de água quente deslocam-se para cima, que no momento são ocupadas por água mais fria. Acabam por formar células de convecção muito semelhantes às que dão origem a nuvens de desenvolvimento vertical.

Na sua panela formam-se células de convecção muito parecidas às que dão lugar às nuvens de desenvolvimento vertical, que originam tempestades.

A água começou a ferver, está na hora de verter nela tudo o que preparámos para o estufado. Baixamos a temperatura do fogão, deixamos em lume brando e vamos para o extremo oposto da casa. Não vai demorar muito até começarmos a sentir o cheiro do delicioso prato que estamos a cozinhar. A turbulenta difusão através do ar da nossa casa é a responsável por uma propagação tão rápida dos cheiros. É o mesmo fenómeno que se encarrega de dispersar para longas distâncias as micropartículas que formam o fumo de um cigarro ou de uma barra de incenso, sendo capaz de detetar o cheiro em pouco tempo, mesmo que estejamos a vários metros de distância, no outro extremo da casa.

Fluxos de ar frio e quente
Esquerda: Fluxos de calor e de frio numa vivenda com sótão e dois andares no inverno (Winter) e verão (Summer). Fonte: www.finehomebuilding.com/ Direita: células de convecção geradas por um aquecedor. Fonte: Revision World.

Como se distribui o ar quente e frio em casa?

Embora já tenhamos falado sobre correntes de ar e convecção de calor, é interessante voltar a isso para compreender como o ar frio e quente se distribui dentro de uma casa, o que está intimamente relacionado com o grau de conforto que temos nela. Na parte esquerda da figura anexa, estão representados os fluxos de calor e frio numa casa de dois andares, no inverno e no verão. Enquanto que no inverno o ar frio tende a ocupar o piso térreo e a deslocar o ar quente, forçando-o a escapar pela parte superior, no verão as coisas invertem-se e é o calor que vence a batalha contra o frio, avançando de cima para baixo.

Conhecer esta dinâmica do ar dentro da nossa casa é útil na hora de fazer uma instalação quer de aquecimento quer de ar condicionado. Pôr uma bomba de calor perto do teto de uma divisão não é a melhor das soluções, já que a tendência natural do ar quente será a de se manter nessa zona alta da casa, não conseguindo desalojar completamente o ar frio que está perto do chão, que é onde nós estamos. Os aquecedores são muito mais eficazes.

Quanto aos aparelhos de ar condicionado, se tiver algum na sua casa, já terá decerto comprovado o pouco ar fresco que se mantém em casa no verão assim que desliga a máquina. As paredes são corpos radiantes e embora sejam aquecidas apenas durante as horas em que o sol atinge a fachada, irradiam esse calor que se acumula ao longo do dia, razão pela qual a frescura que a máquina de ar condicionado alcança desaparece tão rapidamente.