Cidade do Texas que ficou ilesa das cheias tinha uma vantagem: uma sirene que muitos consideravam inútil
Quando cheias repentinas devastadoras atingiram o Texas Hill Country, a cidade de Comfort se destacou, não pela sua geografia, mas por causa de uma sirene que emitia um aviso, algo que outras cidades nunca ouviram.

Na manhã da última sexta-feira, 4 de julho, moradores de Comfort, no Texas (EUA), ouviram um som que só tinham ouvido durante os testes: uma sirene estridente a anunciar perigo iminente. Enquanto cheias repentinas devastavam comunidades próximas na região montanhosa do Texas, este alarme deu aos moradores de Comfort valiosos minutos extras para escapar. Para eles, esse som fez toda a diferença.
Uma sirene que fez a diferença
Enquanto as águas das cheias inundavam a bacia do Rio Guadalupe na manhã da sexta-feira (4), Comfort tinha uma vantagem rara: um sistema de alerta externo totalmente operacional.
O sistema de duas sirenes da cidade — uma no corpo de bombeiros e a outra perto de Cypress Creek, um riacho propenso a inundações — emitiu um sinal sonoro constante de três minutos no meio da manhã, alertando os moradores sobre perigo iminente. Simultaneamente, os bombeiros patrulhavam os bairros anunciando evacuações, reforçando a urgência.
Friday was the first time the new two-siren system had been used in Comfort, TX. Its alarms supplemented warnings on cellphones and announcements from firefighters driving around town
— Kelly McKinney (@kellymnyc) July 8, 2025
People knew that if they heard the siren, they gotta get outhttps://t.co/2UXHH8rN63
Enquanto o vizinho Condado de Kerr foi inundado durante a noite de sexta-feira (04), afetando muitas vítimas enquanto dormiam, o alerta de Comfort foi ativado após o amanhecer, com intensidade suficiente para alcançar pessoas em áreas externas e desencadear ações urgentes. Segundo Morales, nenhuma morte foi relatada na cidade de 2.300 habitantes do Condado de Kendall.
Avisos e oportunidades perdidas
A apenas 32 quilómetros de distância, o Condado de Kerr sofreu perdas catastróficas. Mais de 80 das 104 mortes confirmadas por inundações no estado ocorreram lá, incluindo dezenas de meninas alojadas no Acampamento Mystic. O condado não tinha sirenes, apenas alertas de telemóvel, que não conseguiam alcançar aqueles que estavam a dormir, sem telemóvel ou fora de alcance.

A ideia de instalar sirenes foi discutida durante quase uma década, mas nunca se concretizou. Após as cheias de 2015 no Condado de Hays, que mataram 13 pessoas, o ex-comissário do Condado de Kerr, Tom Moser, pressionou por um sistema de alerta local. No entanto, preocupações com custos, alarmes falsos e resistência da comunidade atrasaram o processo.
Em 2017, as sirenes foram excluídas de uma proposta de financiamento de quase 1 milhão de dólares da FEMA, que se concentrava na instalação de medidores de inundação e sensores. Essa proposta acabou por ser rejeitada.
Um som simples, um debate complexo
O sistema de sirenes de 60 mil dólares de Comfort foi instalado no ano passado por Cruz Newberry, da Table Rock Alerting Systems, uma empresa sediada no Missouri. A maior parte do financiamento veio de uma organização sem fins lucrativos (ONG) local, com apoio adicional do Condado de Kendall. O sistema é conectado ao Serviço Nacional de Meteorologia (SNM) através de um link de satélite à prova de intempéries, permitindo a receção de alertas de emergência em tempo real.
As sirenes podem ser ativadas manualmente pelos bombeiros ou automaticamente quando os sensores de água ao longo do Cypress Creek detetam um aumento no nível da água. A Comfort prefere a ativação manual ao observar níveis de inundação perigosamente altos, permitindo que os serviços de emergência locais mantenham o controlo e respondam com precisão.
Em regiões onde a cobertura de telemóvel é instável, as sirenes servem como um recurso de backup crucial. À medida que os esforços de busca continuam no Condado de Kerr, legisladores estaduais e gestores de emergência enfrentam crescente pressão para reavaliar como alertam e protegem aqueles em perigo.