Chuvas intensas no sul do Brasil provocam colapso de barragem e cheias, eis o maior desastre ambiental da história

Rio Grande do Sul atravessa aquele que é já considerado o maior desastre ambiental da sua história. Mais de 310 municípios foram até agora afetados pelas intensas chuvas que afetam o estado gaúcho. Conheça os pormenores e últimas atualizações em detalhe.

Guarda Municipal efetua resgate de moradores no centro de Porto Alegre. Fotos: Julio Ferreira/ PMPA.

O Rio Grande do Sul vive aquele que é já considerado o maior desastre ambiental da sua história. As fortes chuvas que atingem este estado do sul do Brasil desde segunda-feira (30/04) já deixaram, até ao último balanço de ontem (04/05), 55 mortos, 74 desaparecidos e 107 feridos.

De acordo com a Defesa Civil do Estado, há um total de mais de 510 mil pessoas atingidas, das quais 69.242 ficaram desalojadas e mais de 13.324 estão em abrigos temporários, em 317 municípios atingidos. Para já, os prejuízos financeiros estão calculados em 275 milhões de reais, cerca de 50 milhões de euros.

Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) mostram que, em apenas 48 horas, algumas cidades gaúchas registaram um volume de precipitação três vezes maior do que a média histórica de todo o mês de maio.

O maior volume de precipitação ocorreu em Fontoura Xavier, onde caíram 500,6 milímetros entre as 12h de terça-feira (30/04) e as 12h de quarta-feira (01/05). A média histórica do município é de 146 milímetros nos 31 dias de maio.

O governador do estado, Eduardo Leite, declarou estado de calamidade pública na passada quarta-feira (01/05) por um período de 180 dias, o que permite ao governo gaúcho solicitar recursos da Federação para ações como assistência humanitária e restabelecimento de serviços essenciais.

Rutura de barragem provoca o caos nalgumas cidades

Na quinta-feira (02/05), a barragem hidroelétrica 14 de julho, localizada entre os municípios de Cotiporã e Bento Gonçalves, não suportou a grande acumulação de água das chuvas dos últimos dias e acabou por fissurar. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que é responsável pela mesma, a rutura ter-se-á dado na ombreira direita, uma das laterais onde a barragem está apoiada, fruto da erosão a que foi submetida.

A Secretaria do meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do Rio Grande do Sul informou, em comunicado, que está a monitorizar as estruturas de mais treze barragens de fins múltiplos, sendo que há pelo menos mais três barragens em risco iminente de rutura e que em outras cinco já foi dada ordem de evacuação.

Em vários municípios situados ao longo de rios que fazem parte da bacia hidrográfica do Rio Taquari, há comunidades inteiras que parecem ter sido varridas do mapa. Na cidade de Estrela, o rio chegou à marca recorde de 33 metros, ultrapassando o limite de alagamento de 19 metros.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva visitou na quinta-feira (02/05) a cidade de Santa Maria, tendo garantido que o Governo Federal apoiará os afetados. Para o dia de hoje (05/05) está programada nova visita à capital do estado.

Enchentes devastam Rio Grande do Sul deixando milhares de desalojados. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini.

Maior desastre ambiental da história

As tempestades no sul do Brasil têm destruído também várias estradas e pontes e provocado movimentos de massa em vertente. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal existiam até ao último balanço de ontem mais de 120 estradas com interdições.

Na capital do estado, Porto Alegre, onde vivem mais de 1,5 milhões e pessoas, o lago Guaíba, que ladeia a cidade atingiu a cota de 5,19 metros durante a tarde deste sábado (04/05) e as águas invadiram muitas ruas e estradas. É a maior marca histórica se sempre, superando o registo de 1941, quando o patamar chegou a 4,76 metros.

Este lago dispõe de um complexo sistema de comportas que protege a capital do estado de ser afetada por cheias, porém já a meio da tarde de sexta-feira (03/05) uma das comportas, o portão 14, não aguentou a pressão e colocou em causa a zona norte de Porto Alegre.

Momentos dramáticos em Porto Alegre

A cidade vive agora momentos dramáticos. Vários bairros foram evacuados, mas muitos são aqueles que não conseguiram abandonar as suas casas a tempo. Por esse motivo, os órgãos oficiais antecipam já um acréscimo significativo no número de vítimas.

A população ajuda como pode as autoridades e muitos são aqueles que disponibilizam os seus barcos para auxiliar nos resgates. Há ainda informações oficiais do município de ruturas severas em vários hospitais da cidade.

Esta será uma noite muito longa em Porto Alegre. Há, de momento, treze abrigos temporários que foram montados por toda a cidade, por forma a acolher todos aqueles que se viram obrigados a abandonar as suas casas.

Algumas outras cidades que ladeiam o lago Guaíba e que não dispõem de idêntico sistema de proteção estão já completamente alagadas. Há relatos de várias cidades que ficaram já totalmente sem abastecimento de águas, são os casos de Eldorado do Sul, Guaíba e Canoas, segundo a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). Estima-se que um milhão de pessoas não tenha abastecimento de água.

Expectativa de melhorias no estado do tempo na segunda-feira

A região central do Brasil está a ser afetada por um sistema de altas pressões que levou à formação de ar seco e quente e que funcionou como força de bloqueio à passagem das frentes frias provenientes de oeste para o norte do país, deixando-as com um comportamento estacionário nesta região do país, carregando-a de chuva.

A expectativa é de que a situação melhore a partir já no dia de hoje e que a chuva se afaste destas regiões ao longo de segunda-feira (06/05). Amanhã é esperada ainda precipitação, mas menos intensa, em muitas regiões do estado, fruto da chegada de uma nova frente fria húmida.

Espera-se que o caudal de muitos rios e do lago Guaíba desçam de forma paulatina nos próximos dias e dêem alguma trégua às equipas de resgate por alguns dias, uma vez que a meio da semana se espera nova frente fria que carregará de chuva todo o Rio Grande do Sul.