Câmaras de videovigilância monitorizam a erosão costeira e antecipam tsunamis na Costa da Caparica

COSMO 2.0 é o sistema pioneiro que já está a ser usado para vigiar a perda de areia nas praias de Almada e prevenir situações de risco, como galgamento do mar e inundações.

Paisagem protegida da Arriba Fóssil, Costa da Caparica, Almada
As praias da Costa da Caparica, em Almada, são áreas historicamente afetadas pela erosão e pressão urbanística. Foto: Zito Colaço, obra do próprio, CC BY-SA 4.0-, via Wikimedia Commons

Câmaras de videovigilância, montadas em postos de eletricidade nas praias da Costa da Caparica, em Almada, começaram este mês a monitorizar em permanência a erosão costeira e antecipar fenómenos como cheias, tempestades e tsunamis.

A tecnologia, já instalada nas praias da Cova do Vapor e de São João da Caparica, irá assegurar a estabilidade e transmissão de dados em tempo real. Os elementos recolhidos pelos dispositivos serão depois complementados com imagens via satélite integrada na rede europeia Copernicus.

A informação será depois processada e analisada por uma equipa pluridisciplinar de técnicos, cruzando várias áreas, como engenharia topográfica, engenharia geográfica, hidrografia, geologia costeira, e geotecnia.

A iniciativa faz parte do projeto-piloto COSMO 2.0, desenvolvido e coordenado pela Agência Portuguesa do Ambiente. A operação servirá igualmente para acompanhar as intervenções de reforço costeiro em curso nas praias urbanas.

A perda de areal na linha da costa

A reposição de areal nas estâncias baleares da Costa da Caparica acontece praticamente todos os anos. A operação mais recente arrancou em setembro, com aproximadamente um milhão de metros cúbicos de areia. A medida é considerada essencial para estabilizar a linha costeira e reduzir a vulnerabilidade ao galgamento do mar e inundação na região.

Praia da Cova do Vapor, Costa da Caparica, Almada
As praias da Costa da Caparica foram recentemente intervencionadas com mais de um milhão de metros cúbicos de areia. Foto: Vitor Oliveira, de Torres Vedras, PORTUGAL, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

A Costa da Caparica sofre perdas de areal anuais, na ordem dos 30%, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente. O fenómeno da erosão, nesta região, é particularmente agravado por eventos climáticos extremos.

A reposição de areias é uma das formas de combater a erosão, que está a ser realizada juntamente com a recuperação e proteção dos sistemas dunares.

A articulação entre tecnologia, reforço físico da costa e monitorização ambiental são os três pilares desta empreitada que junta a APA e o Município de Almada na proteção do litoral, especialmente numa área historicamente afetada pela erosão e pela pressão urbanística.

A proteção da faixa costeira em Portugal

O Programa de Monitorização da Faixa Costeira de Portugal Continental, designado de COSMO 2.0, em particular, representa um investimento global de nove milhões de euros associado às obras de proteção costeira atualmente em curso.

O projeto foi também implementado em outros pontos do país, como, por exemplo, os troços Ofir-Cedovém, Esmoriz-Furadouro, Cova-Gala-Costa de Lavos, Forte Novo-Garrão e Praia de Faro.

No total, são cerca de 160 estâncias balneares monitorizadas e intervencionadas com alimentação artificial de areais que visam combater a erosão e o galgamento acentuados com os efeitos das alterações climáticas.

A vídeo-monitorização na Costa da Caparica é, no entanto, a novidade agora anunciada e que irá apoiar os técnicos da APA a vigiar a evolução das praias, dunas, arribas e fundos submarinos, ajudando a definir uma estratégia mais eficaz para proteger a faixa costeira.

Obter dados precisos, sistemáticos e atualizados assume, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, uma importância vital para gerir os desafios associados às alterações climáticas. Cerca de 50% do litoral baixo e arenoso de Portugal continental tem uma tendência erosiva de longo prazo.

As tecnologias de última geração combinadas com técnicas inspiradas na natureza são hoje os recursos que já estão a apoiar a tomada de decisões em matéria de gestão e planeamento da orla costeira.

Programa Cosmo 2.0
O programa COSMO 2.0 recolhe informação sobre praias, dunas e arribas para avaliar a evolução da linha de costa e gerir os riscos associados à erosão costeira e à instabilidade das arribas. Imagem: APA

O programa COSMO 2.0 está por isso focado em avaliar as variações morfológicas sazonais e anuais da linha da costa, como a erosão causada por temporais e a capacidade de recuperação das praias portuguesas

Referência da notícia

Programa COSMO 2.0 - Monitorização da Faixa Costeira de Portugal Continental – Agência Portuguesa do Ambiente