Bagaço de azeitona já não é um resíduo, mas sim um trunfo na agricultura
O Governo decidiu que este derivado deixa de ser resíduo e passa a ser considerado um recurso. Saiba aqui como este subproduto abundante na olivicultura é um grande aliado da economia circular.

O bagaço de azeitona é produzido a partir do fruto da oliveira durante a extração do azeite. O processo inicia-se com a colheita de azeitonas que, depois de lavadas, são moídas até se obter uma pasta composta por azeite, água, caroço e polpa.
Segue-se a decantação mecânica do azeite, sobrando uma substância pastosa designada de bagaço de azeitona. Esse resíduo precisava ser devidamente descartado para evitar a poluição de solos e aquíferos, mas agora poderá ser finalmente rentabilizado pelos olivicultores.
A medida foi imediatamente saudada pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que veem nesta reclassificação uma mudança da maior importância para a economia circular.
Não é só o azeite e a azeitona que importam
São inúmeras as aplicações já conhecidas para o bagaço de azeitona. Desde óleo alimentar, até fertilizantes orgânicos, passando por cosméticos, papel, embalagens ou materiais de construção.

O projeto EtnoGreen, da Ingredient Odyssey, utiliza por exemplo insetos para transformar bagaço de azeitona em adubo orgânico para os solos, óleos e proteínas para a alimentação animal.
O biofertilizante, segundo a empresa sediada em Santarém, promove a retenção de água, contribuindo não só para a resistência à seca como no combate às pragas e às doenças.
Em Ferreira do Alentejo, no distrito de Beja, a Casa Alta transforma o bagaço de azeitona em óleo para a indústria alimentar e biomassa usado como combustível para aquecimento e produção de energia elétrica.
O EvoFIBER é mais um projeto nacional a demonstrar o contributo bagaço na economia circular. Desenvolvido por investigadores da Universidade do Algarve, tem como objetivo transformar este subproduto numa fibra alimentar, à semelhança das farinhas de alfarroba e aveia.
O caroço foi o primeiro subproduto reconhecido
Muitas mais utilidades podem via a ser atribuídas ao bagaço de azeitona, dado o interesse crescente da indústria e da academia. A decisão do Governo surge aliás como uma medida complementar tomada em maio deste ano quando o caroço da azeitona foi também classificado como um subproduto.

E o caroço, tal como o bagaço de azeitona, pode ser igualmente aproveitado para diversos fins, como biocombustível para aquecimento, substitutos de plástico, recheio de almofadas anatómicas, argamassas porosas à base de cimento e bioplásticos ou ração de animais.
O Centro de Tecnologia e Inovação Português (PIEP), em Guimarães, está por exemplo a desenvolver o projeto Olive Pit com o intuito de valorizar este biomaterial na produção de formas para sapatos.
Os caroços de azeitona, sendo ricos em compostos bioactivos, podem também ser processados em farinhas, servindo ainda para desenvolver carvão ativado para remover produtos farmacêuticos das águas residuais como já demonstraram algumas investigações internacionais.

O Alentejo, aliás, como responsável por cerca de 80% da produção nacional de azeite, poderá vir a assumir um papel central, recuperando o bagaço de azeitona como mais uma fonte de receita.
Referências da notícia
Projeto que transforma bagaço de azeitona em fertilizante orgânico - EtnoGreen
Casa Alta – Ferreira do Alentejo
OlivePit: Caroços de azeitona transformados em formas para sapatos. PIED 25
Achilleas Panagiotis Zalidis, Natasa P Kalogiouri, Ioannis Mourtzinos, Dimitris Sarris & Konstantinos Gkatzionis. A Novel Liquid Chromatographic Time-of-Flight Tandem Mass Spectrometric Method for the Determination of Secondary Metabolites in Functional Flours Produced from Grape Seed and Olive Stone Waste. Molecules
Osamah J Al-Sareji, Ruqayah Ali Grmasha, Mónika Meiczinger, Raed A Al-Juboori, Viola Somogyi, Csilla Stenger-Kovács & Khalid S Hashi. A sustainable and highly efficient fossil-free carbon from olive stones for emerging contaminants removal from different water matrices. Chemosphere