O tempo em março em Portugal: será semelhante ao dos últimos meses?

Fevereiro foi marcado pela incrível persistência do anticiclone de bloqueio. Estamos prestes a entrar em março, um mês atmosfericamente mais dinâmico e o primeiro da primavera, uma estação irregular em termos meteorológicos. Trará março de 2022 a tão desejada chuva a Portugal continental? E à Madeira?

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Março é o mês de transição do inverno para a primavera, uma estação marcada pela variabilidade do estado do tempo. Será que a tão desejada chuva irá finalmente chegar no próximo mês a Portugal?

Falta pouco menos de uma semana para o final de um fevereiro assolado pela ausência generalizada de chuva e consequente agravamento da seca meteorológica, extremamente prejudicial para os setores da agricultura, pecuária e produção elétrica, etc. Neste sentido, importa perceber qual é a situação meteorológica que nos reserva março em Portugal continental e Madeira. Será o terceiro mês do ano mais generoso no que toca à precipitação de que tanto carecemos? E quanto às temperaturas, o que podemos esperar?

Início quente e muito seco

Março arranca na próxima terça-feira, 1 de março, e, ao contrário dos últimos dias de fevereiro (entre os dias 24 e 26 prevê-se alguma precipitação), a primeira semana do mês dará continuidade ao panorama meteorológico que se tem manifestado desde final de 2021 e em todo o 2022. Isto é, um estado do tempo incrivelmente estável, seco e soalheiro. As temperaturas estarão mais elevadas do que o habitual de norte a sul de Portugal continental, sobretudo no interior, abrangendo sobretudo as regiões do Nordeste Transmontano, Beira Alta, Beira Baixa, Alentejo Central e Baixo Alentejo, esperando-se valores até 3 ºC acima dos da normal climatológica de referência.

mapa anomalia de temperatura; ecmwf; europa
Março vai começar quente, sobretudo no interior, com temperaturas autenticamente primaveris.

Quanto à chuva, prevê-se mais do mesmo na primeira semana de março. O tempo vai permanecer praticamente igual, sem precipitação significativa, continuando a contribuir para o agudizar de uma seca praticamente sem precedentes. A título de exemplo, refira-se a primeira quinzena de fevereiro. De acordo com os dados oficiais, nos primeiros quinze dias de fevereiro choveu somente 7% do habitual para o mês, sendo este um valor absurdamente baixo e revelador do quão escassa tem sido a precipitação.

Na segunda semana, entre 7 e 13 de março mantém-se o cenário de tempo mais quente do que o normal para as datas. No que diz respeito à precipitação, esta poderá surgir mais pela Região Norte (embora em quantidades pouco significativas), sendo que no resto do país deverá manter-se o panorama seco. Já para a Madeira, o modelo Europeu aponta para uma primeira quinzena caracterizada por tempo, em geral, quente, estável e seco, a contrastar fortemente com o panorama tempestuoso dos últimos dias de fevereiro.

Irá o tempo mudar na segunda quinzena?

A esta distância temporal, do dia 14 de março em diante, é impossível prever exatamente o estado do tempo que irá fazer num dado local. Neste caso, falamos de tendências a partir daquilo que os mapas projetam neste momento. Segundo a cartografia de anomalias de temperatura, precipitação e geopotencial, tudo indica que a segunda quinzena de março, em traços gerais, irá, infelizmente, manter a tendência do tempo que tem vigorado em quase 100% daquilo que já decorreu de 2022 em Portugal continental. Muito seco, mais quente do que o normal e muito estável. Na Madeira o cenário poderá também não diferir muito do da primeira quinzena.

mapa geopotencial europa ecmwf
De acordo com o ECMWF, os últimos dias de março serão em geral mais do mesmo em grande parte do país, exceto possivelmente na Região Sul. Contudo, é de ressalvar que a distância temporal é enorme e a incerteza no prognóstico também.

Possivelmente, lá para o final de março, não são de descartar algumas alterações que, por conta de este ser um mês em que existem mudanças significativas ao nível do hemisfério, a radiação solar aumenta a um ritmo muito maior e o equilíbrio térmico que existia nas latitudes médias e altas durante o inverno, rompe-se. Assim, o jato polar tende a ondular-se mais, contribuindo para tempo mais instável, com desenvolvimento e circulação de tempestades em latitudes que no inverno eram pouco habituais. Aliás, nessas datas já estaremos inseridos na primavera astronómica, e portanto, numa estação irregular e atmosfericamente mais dinâmica, o que poderá resultar na tão ansiada chuva.

Será que estes modelos são de confiança?

Temos de considerar várias características fundamentais neste tipo de previsões. Estes modelos não operam da mesma forma que os convencionais, usados em prognósticos de médio prazo. Antes de os utilizarmos, temos de considerar que só os devemos interpretar como um indicador de probabilidade, e também que trabalham à escala sinótica e planetária, isto é, não são úteis para previsões locais ou regionais. Quanto mais aprofundamos uma previsão climática ou meteorológica, maior é o erro cometido.

Estes modelos devem ser interpretados como um indicador de probabilidade que trabalham à escala planetária, não sendo propriamente úteis para previsões locais ou regionais.

Respondendo à pergunta, estes modelos são apenas uma ferramenta experimental, útil para uma previsão geral e/ou probabilística, que dá uma ideia aproximada de uma tendência a longo prazo da evolução de parâmetros diretos como a temperatura ou a precipitação. Não detetam sistemas meteorológicos como frentes, ciclones ou depressões isoladas - capazes de alterar o carácter geral de um mês em apenas alguns dias. Assim, estas previsões podem mudar de umas regiões para outras com o decorrer das semanas, ou inclusive, não se cumprirem em determinadas áreas.