Amanhã a Depressão Nelson trará uma frente quase estacionária que deixará imensos milímetros de chuva nestas regiões

Amanhã uma frente muito ativa chegará do Atlântico associada à depressão de grande impacto Nelson. Avançará muito lentamente e, alimentada por um rio atmosférico, deixará chuva abundante e pontualmente forte em praticamente toda a geografia de Portugal continental.

As condições meteorológicas em Portugal continental mudaram drasticamente nestas últimas 48 horas graças à entrada de rompante de uma massa de ar polar marítima que está a deixar um ambiente autenticamente invernal em grande parte do território do Continente. Têm ocorrido períodos de chuva ou aguaceiros pontualmente fortes, acompanhados de trovoada e por vezes sob a forma de granizo.

A combinação do ar muito frio em altitude com a precipitação também se expressou sob a forma de neve, que inclusive caiu em locais menos habituais do nosso território e a cotas inferiores aos 700 metros de altitude. Várias cidades e zonas de montanha do Norte e do Centro já acumularam alguma neve nestas últimas 24 horas, quando estamos praticamente às portas de abril, o mês primaveril por excelência!

Contudo, como temos vindo a alertar nestes últimos dias na Meteored, o tempo mais instável e marcante ainda está por chegar nestes próximos dias, coincidindo precisamente com a reta final da Semana Santa.

Assim, a partir de amanhã - Quarta-feira Santa (27) - prevalecerão os ábregos - ventos quentes e húmidos de Sudoeste - que serão canalizados para Portugal continental pela poderosa depressão Nelson, situada nas imediações das Ilhas Britânicas. Além disto, formar-se-ão vários centros de baixas pressões secundários em redor da Península Ibérica.

Uma frente de progressão muito lenta, alimentada por um rio de humidade, trará chuva forte e persistente

O estado do tempo irá tornar-se ainda mais adverso desde a segunda metade da Quarta-feira Santa (27) até à Sexta-feira Santa (29) por causa da chegada de um rio atmosférico que atravessará sobre um Atlântico mais quente do que o normal. Isto contribuirá para o aumento da evaporação e permitirá um maior teor de humidade da massa de ar, acabando por reforçar a precipitação em várias regiões.

O rio atmosférico atingirá em cheio Portugal continental reforçando a chuva em várias regiões. Será abundante nas zonas mais expostas aos ventos ábregos.

Tendo em conta o nosso modelo de referência (ECMWF), prevê-se a chegada de uma frente muito ativa a Portugal continental (ou melhor, duas frentes quase sobrepostas, de acordo com os últimos mapas isobáricos), alimentada pelo referido rio de humidade. É de salientar a sua progressão muito lenta, permanecendo quase estacionária e produzindo chuva localmente forte e persistente. Isto permitirá a acumulação de muitos milímetros de chuva em várias regiões.

O que é uma frente estacionária?Marca a fronteira entre duas massas de ar que não são suficientemente fortes para se substituírem uma à outra. Produzem uma grande variedade de condições atmosféricas, com nebulosidade persistente e precipitação.

Ainda existe alguma incerteza no que diz respeito às maiores acumulações para o dia de quarta-feira (27) e para as primeiras horas de Quinta-feira Santa (28), mas tudo indica que os registos pluviométricos mais significativos terão lugar nas Regiões Norte, Centro, Baixo Alentejo e Algarve, destacando-se os distritos e zonas a oeste da Barreira de Condensação - Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Vila Real e Viseu -, algumas zonas de distritos do Centro (Coimbra, Leiria e Cordilheira Central), e ainda os distritos de Beja e Faro.

O IPMA já colocou a maioria destes distritos sob aviso por precipitação, vento e agitação marítima e nalguns casos por neve.

chuva
Durante várias horas de Quinta-feira Santa - 28 de março - quase toda a geografia do Continente terá uma probabilidade igual ou superior a 90% (nalgumas zonas 95%) de registar precipitação sob a forma de chuva (nalguns casos sob a forma de neve).

Ao longo da segunda metade da Quinta-feira Santa (28) o rio atmosférico continuará a “fazer mira” a Portugal continental, gerando uma linha muito ativa de precipitação. Dessa vez, afetará de maneira abundante todo o território, com chuva prevista de norte a sul, incluindo as regiões que tinham sido menos afetadas nas horas anteriores (Lisboa, Setúbal, Santarém, Portalegre, Évora e Castelo Branco).

Já para a Sexta-feira Santa (29), espera-se novamente chuva forte e generalizada, mas mais distribuída pelas primeiras 12 horas do dia. Além disto, também se prevê queda de neve, em particular no interior Norte e Centro (Vila Real, Bragança, Viseu e Guarda). Contudo, nas segundas 12 horas do dia a precipitação praticamente se dissipará à medida que as linhas de instabilidade forem rumando a Espanha.

Até 150 mm em várias regiões do Continente

Até à noite de Sexta-feira Santa (29), serão registados entre 100 e 150 mm de chuva em zonas de montanha como o Parque Nacional da Peneda-Gerês (Alto e Baixo Minho), Terras de Barroso, eixo montanhoso Alvão-Marão-Montemuro, Cordilheira Central, zonas do Alto Alentejo como a Serra de São Mamede (Portalegre) e algumas zonas de serra e barrocal do Barlavento e Sotavento Algarvio. As referidas zonas são áreas bem expostas aos ventos de sudoeste. Não se exclui a hipótese de que alguns pontos acumulem 200 mm.

Na Quinta-feira Santa (28) a chuva será abundante, persistente e localmente forte nas zonas mais influenciadas pela presença do rio atmosférico.

A tudo isto há que acrescentar aquilo que se vislumbra para o fim de semana. Neste momento, os mapas sugerem a hipótese de formação de uma nova depressão a oeste, bem como a chegada de uma massa de ar mais frio, que trariam mais precipitação a praticamente todo o país e neve em cotas médias e possivelmente baixas.

Caso este cenário se concretize, estaríamos perante a semana da Páscoa mais chuvosa dos últimos anos em várias regiões do Continente, com destaque para o Alentejo e Algarve.

Muita cautela: haverá risco de inundações e transbordamentos

A partir da Meteored pedimos-lhe cautela com o risco de inundações em várias zonas do Noroeste e da Região Centro, onde os solos já estão saturados e as barragens repletas de água, ao que se junta o derretimento de neve e gelo dos próximos dias e a chuva abundante. Além disto, a precipitação abundante também poderá provocar um aumento significativo dos caudais dos rios e outros cursos de água, sendo que aqueles que já possuem maior volume, poderão transbordar.