Carvalho de Calvos: o último sobrevivente de uma floresta extinta que está de pé há mais de 500 anos

Saiba onde está o carvalho mais antigo da Península Ibérica e descubra a história de uma majestosa árvore que é hoje um orgulho para os minhotos.

Carvalho de Calvos
Classificada como Árvore de Interesse Público em 1997, o Carvalho de Calvos foi contemporâneo de muitos acontecimentos históricos, como os Descobrimentos ou as Guerras da Restauração. Foto: CICC/Município de Póvoa de Lanhoso

Imagine o que é ter as raízes enterradas 500 anos no mesmo lugar. Esta é a idade do carvalho-alvarinho (Quercus robur L.) sobejamente conhecido na região por Carvalho de Calvos, a povoação da Póvoa de Lanhoso onde esta majestosa árvore se encontra.

Ao longo dos últimos cinco séculos, este espécime também chamado de Carvalha Grossa, Carvalha da Tojeira ou de Fondoua, testemunhou grandes acontecimentos que moldaram a identidade do país.

Da consolidação do Castelo de Lanhoso, em finais do século no século XVI, à Peste Grande de 1569. Das Guerras da Restauração, entre 1640 e 1668, às Guerras Liberais (1832-34). Da Revolta da Maria da Fonte, em 1846, aos Tribunais da Inquisição, que perseguiram os “hereges” durante 285 anos.

Tudo isso e, muito mais, o Carvalho de Calvos assistiu, sobrevivendo a doenças, intempéries ou atentados criminosos, que lhe amputaram os ramos, carbonizaram parte do seu tronco ou deixaram a sua base impermeabilizada com cimento.

A sua resistência foi à prova de tudo, mantendo até hoje o seu porte com mais de 30 metros de altura e o estatuto de carvalho mais antigo da Península Ibérica e ainda o de segundo mais antigo da Europa.

Classificada como Árvore de Interesse Público, em agosto de 1997, é a única sobrevivente num parque que outrora já foi uma zona densamente florestada.

Um mini ecossistema pulsante

Embora os seus dias pareçam solitários, esta árvore continua a desempenhar um papel central no ecossistema onde está inserida. Dá abrigo a uma variedade de insetos, entre abelhas, borboletas, gafanhotos e libélulas.

O mais exótico de todos é a raríssima vaca-loura (Lucanus cervus), o maior escaravelho da Europa que nesta árvore encontrou um micro-habitat nas fendas da sua áspera casca.

vaca-loura (Lucanus cervus), o maior escaravelho da Europa
A vaca-loura, o maior escaravelho da Europa, abriga-se na casca áspera do Carvalho de Calvos. Foto: Foto: CICC/Município de Póvoa de Lanhoso

As bolotas que caem no outono atraem ainda os cervos, os esquilos ou os porcos selvagens. O carvalho oferece ainda abrigo a muitas aves, como, chapins, carriças ou melros, que poisam nos galhos para fazer os ninhos.

Inserida em zona protegida, o Carvalho de Calvos é generoso com os que procuram a sua proteção, mas exige pouco para si. As suas próprias folhas são o adubo natural, nutrindo os seus sucessivos ciclos e que inclusive já ultrapassaram a esperança média de vida da espécie, a rondar os 500 anos.

A idade, na verdade, já lhe pesa e por isso os seus troncos mais pesados estão amparados por escoras, espécies de bengalas que as árvores anciãs usam e que, neste caso, chegam a suportar duas e três toneladas.

Passagem de testemunho

A sua importância é reconhecida por toda a população do município, sobretudo os mais novos que, no Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos, aprendem a conhecê-lo, a respeitá-lo e a proteger a natureza.

O carvalho, neste centro, é protagonista da maioria das atividades e ainda tema de um dos três blocos de exposições permanentes. Os outros dois são dedicados aos ecossistemas florestais e ao botânico e etnógrafo Gonçalo Sampaio, natural da povoação de Calvos. O espaço promove workshops para crianças e programas para escolas, mas também é visitado por famílias e turistas.

Crianças em atividades pedagógicas no Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos
O centro de interpretação, inaugurado em 2005, é um espaço com atividades para os mais novos, mas também para turistas e famílias. Foto: CICC/Município de Póvoa de Lanhoso

A árvore centenária e o centro de interpretação estão localizados no Parque do Carvalho de Calvos, uma área de 3,1 hectares, com canteiros de plantas aromáticas, uma horta social dedicada à agricultura biológica e trilhos de BTT por entre a natureza.

Se quiser planear uma visita, talvez não seja má ideia organizar um piquenique no parque de merendas e aproveitar o final de tarde para conhecer as Residências de Ecoarte, que convidam os artistas a se inspirarem na ecologia para criar as suas obras de arte.

À volta do Carvalho de Calvos há muita vida e histórias para contar. Mas não é só o passado que a população de Póvoa de Lanhoso quer celebrar. É também o testemunho que este exemplar irá deixar para as futuras gerações.

Referências da notícia

Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos – Município de Póvoa de Lanhoso.

Carvalho de Calvos, a árvore centenária que inspira educação ambiental. Florestas.pt