Carvalho de Calvos: o último sobrevivente de uma floresta extinta que está de pé há mais de 500 anos
Saiba onde está o carvalho mais antigo da Península Ibérica e descubra a história de uma majestosa árvore que é hoje um orgulho para os minhotos.

Imagine o que é ter as raízes enterradas 500 anos no mesmo lugar. Esta é a idade do carvalho-alvarinho (Quercus robur L.) sobejamente conhecido na região por Carvalho de Calvos, a povoação da Póvoa de Lanhoso onde esta majestosa árvore se encontra.
Da consolidação do Castelo de Lanhoso, em finais do século no século XVI, à Peste Grande de 1569. Das Guerras da Restauração, entre 1640 e 1668, às Guerras Liberais (1832-34). Da Revolta da Maria da Fonte, em 1846, aos Tribunais da Inquisição, que perseguiram os “hereges” durante 285 anos.
Tudo isso e, muito mais, o Carvalho de Calvos assistiu, sobrevivendo a doenças, intempéries ou atentados criminosos, que lhe amputaram os ramos, carbonizaram parte do seu tronco ou deixaram a sua base impermeabilizada com cimento.
Classificada como Árvore de Interesse Público, em agosto de 1997, é a única sobrevivente num parque que outrora já foi uma zona densamente florestada.
Um mini ecossistema pulsante
Embora os seus dias pareçam solitários, esta árvore continua a desempenhar um papel central no ecossistema onde está inserida. Dá abrigo a uma variedade de insetos, entre abelhas, borboletas, gafanhotos e libélulas.
O mais exótico de todos é a raríssima vaca-loura (Lucanus cervus), o maior escaravelho da Europa que nesta árvore encontrou um micro-habitat nas fendas da sua áspera casca.

As bolotas que caem no outono atraem ainda os cervos, os esquilos ou os porcos selvagens. O carvalho oferece ainda abrigo a muitas aves, como, chapins, carriças ou melros, que poisam nos galhos para fazer os ninhos.
Inserida em zona protegida, o Carvalho de Calvos é generoso com os que procuram a sua proteção, mas exige pouco para si. As suas próprias folhas são o adubo natural, nutrindo os seus sucessivos ciclos e que inclusive já ultrapassaram a esperança média de vida da espécie, a rondar os 500 anos.
A idade, na verdade, já lhe pesa e por isso os seus troncos mais pesados estão amparados por escoras, espécies de bengalas que as árvores anciãs usam e que, neste caso, chegam a suportar duas e três toneladas.
Passagem de testemunho
A sua importância é reconhecida por toda a população do município, sobretudo os mais novos que, no Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos, aprendem a conhecê-lo, a respeitá-lo e a proteger a natureza.
O carvalho, neste centro, é protagonista da maioria das atividades e ainda tema de um dos três blocos de exposições permanentes. Os outros dois são dedicados aos ecossistemas florestais e ao botânico e etnógrafo Gonçalo Sampaio, natural da povoação de Calvos. O espaço promove workshops para crianças e programas para escolas, mas também é visitado por famílias e turistas.

A árvore centenária e o centro de interpretação estão localizados no Parque do Carvalho de Calvos, uma área de 3,1 hectares, com canteiros de plantas aromáticas, uma horta social dedicada à agricultura biológica e trilhos de BTT por entre a natureza.
À volta do Carvalho de Calvos há muita vida e histórias para contar. Mas não é só o passado que a população de Póvoa de Lanhoso quer celebrar. É também o testemunho que este exemplar irá deixar para as futuras gerações.
Referências da notícia
Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos – Município de Póvoa de Lanhoso.
Carvalho de Calvos, a árvore centenária que inspira educação ambiental. Florestas.pt