O "trilho mais popular de Castela e Leão" começa em Portugal — e vale cada passo
Ligando aldeias únicas e paisagens intactas, a GR-298 oferece uma travessia memorável pela raia, revelando tradições, natureza e histórias que sobrevivem ao tempo.
Se anda à procura de um trilho que combine paisagens selvagens, história rural e aquele charme da fronteira Portugal-Espanha, a Grande Rota dos Moinhos e Lameiros — GR-298 — é uma aposta certa.
Com cerca de 67 quilómetros, e completamente integrado no Parque Natural de Montesinho, liga quatro aldeias transmontanas — Aveleda, Varge, Guadramil e Rio de Onor — a três localidades espanholas — Rihonor de Castilla, Santa Cruz de Abranes e Calabor.
Já ouviu falar dele? O percurso foi totalmente implementado pela empresa portuguesa PORTUGAL NTN, que também garantiu a homologação conjunta dos dois lados da fronteira — algo pouco comum em rotas internacionais, o que, aliás, permitiu que todo o itinerário tivesse a mesma identificação: GR-298.
Está pronto para embarcar nesta aventura? O melhor é que esta rota acabou por ser distinguida, pela Federação de Desportos de Montanha, Escalada e Caminhada de Castela e Leão (FDMESCYL), como o “Trilho mais Popular de Castela e Leão 2025”.
Este título foi alcançado graças à procura crescente por parte de caminhantes e ao destaque que tem ganho nos portais oficiais de turismo de natureza da região. Mas não se deixe enganar.
A distinção não se deve apenas à beleza do caminho, mas ao modo como a rota valoriza simultaneamente biodiversidade, património e cultura local. No fundo, deve-se por integrar um estilo de turismo que privilegia o contacto direto com o território e com as comunidades.
Entre lameiros, moinhos e aldeias cheias de identidade
Grande parte do encanto da GR-298 está no modo como cruza paisagem natural e memória rural. Os antigos moinhos hidráulicos, muitos deles em processo de recuperação ou musealização, voltam a ganhar protagonismo no território da raia. Os lameiros — áreas húmidas de pastagem, essenciais para a agricultura tradicional — surgem em vários troços, lembrando práticas ancestrais de gestão comunitária da terra.
E, claro, Rio de Onor merece sempre atenção especial. A aldeia, dividida entre Portugal e Espanha, mantém casas de xisto, tradições comunitárias e até um dialeto próprio, o rionorês.
Já em Guadramil, uma pequena ramificação do trilho conduz ao antigo lagar comunitário, testemunho de uma organização social que resistiu ao tempo. Há também planos para revitalizar edifícios locais: um centro de interpretação na antiga escola de Rio de Onor, um espaço etnográfico na casa do médico de Varge e um lugar dedicado aos dialetos da região na casa do médico de Guadramil.
O trilho português está estruturado em três etapas: Portelo–Aveleda; Aveleda–Varge–Rio de Onor (com uma variante mais curta entre Aveleda e Varge); e Rio de Onor–Guadramil. Para quem preferir uma versão mais resumida, existe uma variante com aproximadamente 44,7 quilómetros, ideal para caminhantes que dispõem de menos tempo ou preferem um desafio moderado.
Do ponto de vista ambiental, o percurso atravessa zonas sensíveis do Parque Natural de Montesinho, onde predominam soutos, giestais, áreas ribeirinhas e espaços florestais que acolhem fauna típica da região, como veados e corças. A conceção do trilho teve o cuidado de evitar perturbações a estas áreas, garantindo um impacto positivo na preservação do território.
Caminhar com segurança e descobrir a raia ao próprio ritmo
A experiência pode ser feita numa única travessia ou dividida por etapas, sempre em autonomia, graças à sinalização completa e à aplicação móvel GR298, disponível para Android e iOS, que inclui mapas, pontos de interesse e informação útil para uma caminhada segura.
A rota foi inaugurada em 2022, com forte apoio do Turismo de Portugal, o que permitiu não só a sua implementação física como a recuperação de casas desabitadas nas aldeias, transformadas em pontos de acolhimento e descanso para caminhantes. Um gesto, diríamos, que reforça a ligação entre quem visita e quem vive no território.
No final, a sensação é clara: a GR-298 é muito mais do que um trilho. É uma viagem ao coração da raia nordestina, onde cada lameiro, cada ponte antiga e cada aldeia carregada de história revelam uma forma de viver marcada pela partilha, pela resiliência e por uma ligação profunda à terra. Quem escolher percorrê-la descobre não apenas um percurso premiado, mas um território inteiro que continua vivo, autêntico e cheio de histórias por contar.