Está pronto para caminhar por uma das rotas ferroviárias mais impressionantes da Península Ibérica?

Três dias, duas fronteiras e um trilho “imperdível”.Túneis, pontes e paisagens vertiginosas esperam por si na antiga linha férrea que desafia as arribas do Águeda.

Camino de Hierro
A experiência promete ser “espetacular” e “imperdível”. Foto ilustrativa: Pixabay

Durante décadas, nenhum comboio voltou a cruzar o vale do Águeda. A antiga linha férrea que ligava La Fregeneda, em Espanha, a Barca d’Alva, em Portugal, foi inaugurada em 1887 e durante quase um século uniu os dois países através de túneis escavados na rocha e pontes suspensas sobre o vazio. No entanto, quando o serviço foi desativado, nos anos 80, o mato tomou conta das linhas e o silêncio instalou-se nas arribas.

Hoje, esse mesmo traçado ferroviário renasceu como o Camino de Hierro, um dos percursos pedestres mais impressionantes da Península Ibérica — e poderá conhecê-lo muito em breve numa experiência que promete ser “espetacular” e “imperdível”.

Entre 6 e 8 de dezembro, a agência ‘Papa-Léguas’ convida-o a seguir os passos dessa linha lendária, numa viagem de três dias que cruza natureza, história e o encanto discreto das fronteiras esquecidas.

Ficou curioso? A proposta é simples: caminhar por uma fronteira esquecida, seguir as marcas da história e deixar que o ritmo tranquilo do interior tome conta do tempo. Pelo meio, conhecer túneis, pontes e paisagens que parecem saídas de outra época.

“Vamos conhecer um cantinho de Portugal perdido no tempo e na imensidão de uma paisagem fronteiriça, povoada de lendas, tradições e histórias antigas”, garantem os responsáveis.

Entre Figueira de Castelo Rodrigo e La Fregeneda

A aventura começa em Figueira de Castelo Rodrigo, vila serena do interior beirão onde o tempo parece correr devagar. É aqui que o grupo se reúne e onde tudo começa: duas noites de descanso confortável, bom ambiente e aquele espírito de descoberta que caracteriza as viagens da ‘Papa-Léguas’. Quem chegar mais cedo pode aproveitar para visitar a Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo, com as suas muralhas, ruas em xisto e vistas sobre a planície raiana — uma das mais belas da região.

Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo
Aproveite para conhecer a Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo. Foto: CM Figueira de Castelo Rodrigo

O segundo dia é o mais aguardado. A poucos quilómetros dali, já em Espanha, encontra-se o Camino de Hierro, um trilho que segue o antigo traçado ferroviário entre La Fregeneda e Barca d’Alva. Feitas as contas, são 17 quilómetros de percurso linear, marcados por 20 túneis escavados na rocha e 10 pontes metálicas que desafiam o vazio das arribas do Águeda.

O caminho é seguro, mas impõe respeito: há passagens suspensas, desníveis imponentes e paisagens que nos lembram o quanto a engenharia do século XIX foi capaz de domar a geografia.

Inaugurada em 1887, esta linha férrea foi durante décadas uma das ligações mais impressionantes entre Portugal e Espanha, até ser desativada nos anos 80. Hoje, recuperada e aberta ao público, é um testemunho vivo da história ferroviária ibérica — e uma experiência que mistura emoção, vertigem e deslumbramento em partes iguais.

O trajeto tem uma duração aproximada de seis horas, com paragens, e apresenta um nível de dificuldade médio, ideal para quem procura uma experiência ativa, mas acessível. É indispensável levar um colete refletor, um frontal e lanterna.

No terceiro e último dia, o cenário muda, mas o encanto mantém-se. Desta vez, o percurso decorre entre Almofala e o Castro de Santo André das Arribas, num trilho circular de cerca de dez quilómetros. No topo do castro, as ruínas guardam histórias de povos antigos e oferecem uma das melhores panorâmicas sobre o Vale do Águeda.

Este é um percurso de ritmo mais leve, com duração aproximada de 4h30, perfeito para encerrar o fim de semana com calma. A caminhada termina a meio da tarde, deixando tempo para regressar com a sensação de ter vivido uma experiência completa — intensa, mas serena; curta, mas memorável.

O que está incluído

A viagem organizada pela 'Papa-Léguas' inclui duas noites de alojamento em quarto duplo, um jantar de grupo, bilhete de entrada no Camino de Hierro, seguro de acidentes pessoais e acompanhamento permanente por um guia da agência. Estão também previstos cafés e chás durante as caminhadas — aqueles pequenos detalhes, diríamos, que fazem a diferença quando o frio de dezembro se faz sentir nas arribas.

Camino de Hierro
Está pronto para a aventura? Foto: Wikimedia // Tanja Freibott

E quanto a valores? O preço começa nos 290€, e o grupo é limitado a um máximo de 15 participantes, garantindo uma experiência mais pessoal e descontraída.

Atenção, porque não está incluído o transporte até ao ponto de partida. Ainda assim, a ‘Papa-Léguas’ incentiva a partilha de boleias entre os participantes, uma prática comum nas suas viagens.

Para mais informações e inscrições poderá aceder ao site da agência.

Caminhar com propósito

Mais do que um passeio pedestre, esta rota é uma viagem ao coração de um território pouco explorado. A ‘Papa-Léguas’, com mais de 25 anos de experiência em turismo de natureza e aventura, aposta em programas que privilegiam o contacto genuíno com as comunidades e a valorização dos ecossistemas locais.

Nesta experiência, cada etapa é pensada para que o viajante sinta o lugar — não apenas o veja.

Sim, porque a Rota das Pontes de Fregeneda e Arribas do Águeda é um verdadeiro convite a abrandar o ritmo, a caminhar com curiosidade e a olhar para a fronteira de outra forma.

Afinal, no Douro Internacional e nas Arribas do Águeda, o tempo não desapareceu — apenas mudou de velocidade. O som do comboio deu lugar ao chilrear das aves e ao vento que percorre as pontes. As antigas travessas de madeira ainda marcam o chão, lembrando que ali circularam mercadorias, histórias e pessoas que cruzavam os dois países quando as fronteiras eram mais simbólicas do que reais.

Hoje, quem percorre esta rota não ouve apitos de locomotivas, mas sente a mesma emoção de quem viaja. É um regresso ao essencial: andar, observar e deixar-se surpreender por um pedaço de território onde o passado ainda tem lugar no presente.