Esta casa mortuária portuguesa tornou-se estrela internacional

Quem diria que uma casa mortuária podia ser motivo de manchetes internacionais? Conheça o edifício alentejano que conquistou a arquitetura mundial e descubra como passou de espaço de luto a ícone de design.

Casa Mortuária de Barrancos
Um lugar de silêncio, luz… e prémios internacionais. Foto: Facebook // Nuno Almendra

Pode soar insólito, mas é verdade: uma casa mortuária portuguesa conseguiu ser notícia fora de portas e arrecadar prémios de arquitetura. A proeza aconteceu com um edifício em Barrancos, uma vila do Baixo Alentejo conhecida pela sua paisagem de olivais e pela tranquilidade da fronteira com Espanha.

À primeira vista, talvez associe estes espaços apenas ao luto e ao silêncio. Mas a Casa Mortuária de Barrancos mostra que também podem ser lugares de beleza, reflexão e até de inspiração arquitetónica. Tanto assim é que foi destacada na prestigiada revista ‘Casa Vogue’, no Brasil, e já soma distinções em concursos nacionais e internacionais.

Arquitetura em sintonia com a paisagem

O projeto nasceu em 2019, depois de a Câmara Municipal de Barrancos lançar um concurso público que foi ganho pelo MESA Atelier, formado pelos arquitetos Paulo Dias, João Varela e Ana Isabel Santos. O desafio era exigente: construir sem ferir a paisagem e respeitando o olival centenário protegido pelo Plano Diretor Municipal.

O resultado? Um edifício que parece crescer da própria terra. O xisto, a cal e a madeira evocam a tradição local, enquanto a organização dos espaços joga com os desníveis naturais do terreno. Na parte alta, surge uma praça aberta, voltada para o horizonte, onde o visitante é convidado a parar e contemplar. Na cota baixa, está o coração do edifício: o átrio, banhado por um “poço de luz” que cria um ambiente sereno antes da entrada nas capelas.

Capelas com flexibilidade e luz natural, e um exemplo de sustentabilidade

As duas capelas, voltadas para nascente e poente, acolhem até 60 pessoas cada. Graças a um engenhoso sistema de portas, podem funcionar em separado ou unir-se, permitindo cerimónias mais íntimas ou de maior dimensão. A luz natural, cuidadosamente pensada, transforma o espaço ao longo do dia e reforça a atmosfera simbólica.

Casa Mortuária de Barrancos
O edifício foi pensado para que respeitasse a paisagem. Foto: Facebook // Nuno Almendra

“Aumentou-se a cubicagem do espaço e, através da posição das aberturas, intensificou-se a carga simbólica proporcionada pela dinâmica da luz natural, que percorre o espaço de forma diferenciada todos os dias”, explicam os responsáveis no site.

Além da componente estética, a Casa Mortuária de Barrancos foi concebida com preocupações ambientais muito claras.

Os pavimentos exteriores permitem que a água da chuva se infiltre no solo, foram plantadas árvores para reduzir o efeito de calor e até o estacionamento foi desenhado para se integrar discretamente na paisagem. É um edifício que respeita o lugar onde está e que pensa no futuro.

Uma lista de prémios de fazer inveja

Inaugurada em 2024, a obra não demorou a captar atenções. Já conquistou o Prémio Concreta Under 40, esteve nomeada para o FAD Arquitectura Award 2025, foi finalista no Forma 2024 e, para rematar, venceu o 1.º Prémio no Concurso Internacional de Arquitetura. Nada mau para um edifício que, em teoria, serviria apenas para ser discreto e funcional.

Casa Mortuária de Barrancos
Nada foi deixado ao acaso. Foto: Facebook // Nuno Almendra

Se visitar Barrancos, vai perceber que a Casa Mortuária não é apenas um espaço fúnebre. É também um ponto de encontro entre tradição e modernidade, onde a arquitetura se põe ao serviço da dignidade humana. Um sítio que prova que, mesmo em momentos de despedida, pode haver beleza, respeito pelo território e inovação.

Quem diria que uma casa mortuária podia ser motivo de orgulho e manchetes internacionais? Pois, em Barrancos, é.