Entre conventos e aldeias: os doces portugueses (quase) secretos que vai adorar descobrir

Vá além do pastel de nata. De Norte a Sul, e até nas ilhas, Portugal esconde doces pouco conhecidos, cheios de histórias e sabores únicos, prontos a surpreender o seu paladar.

Doces
O difícil é escolher. Foto: Unsplash

Quando se fala em doçaria portuguesa, é quase impossível não pensar nos pastéis de nata. Eles estão em todo o lado: nas vitrines, nas ruas, no Instagram e, provavelmente, até na sua lista de favoritos. Mas convenhamos: se Portugal fosse um parque de diversões, os pastéis de nata seriam apenas uma das montanhas-russas — deliciosa, claro, segura e sempre cheia de turistas —, contudo, não a única. Afinal, há outras atrações doces, escondidas, menos conhecidas, mas igualmente irresistíveis.

Enquanto os portugueses discutem se o pastel de nata se come com colher, com canela ou se se deixa a massa folhada inteira, há outros doces que ninguém debate… porque quase ninguém conhece. Pois é, Portugal tem verdadeiros tesouros da doçaria.

De Norte a Sul, e até nas ilhas, cada doce tradicional traz uma história, um aroma e uma textura únicos. Alguns nasceram em conventos, outros em pequenas aldeias, e todos têm o poder de nos transportar para uma viagem entre passado e açúcar.

Prepare-se para conhecer cinco doces que vão fazer o seu paladar dançar de felicidade — e, quem sabe, dar uma folga ao pastel de nata.

Brisas do Liz (Leiria)

As Brisas do Liz são pequenas maravilhas da cidade de Leiria, feitas com gemas, açúcar e o perfume delicado do limão. Surgiram nos conventos e conquistam quem as prova pelo aroma irresistível e pela textura leve, quase etérea.

Brisas do Liz
Também conhecidas como Beijinhos ou Saudades de Amor. Foto: Wikipedia // Sandra Costa

Para provar uma, vale visitar as pastelarias tradicionais da cidade — e quem sabe levar umas para casa para saborear devagarinho.

Tigelada de Abrantes (Abrantes/Centro)

A tigelada de Abrantes é um bolo que engana à primeira vista: por fora parece crocante, mas por dentro é cremoso e delicadamente doce, com um toque de canela.

Tradicionalmente feita em tigelas de barro, era reservada para festas e celebrações, mas passou quase despercebida fora do Centro do país.

Quem prova, percebe porque a tigelada é uma verdadeira joia da doçaria portuguesa.

“Chamam-se tigeladas porque são cozinhadas em tigelas de barro vermelho vidrado”, notou os CTT – Correios de Portugal. “As boas tigeladas dependem da forma como são cozidas, já que a riqueza da textura é favorecida pelos alvéolos que se criam com o choque de temperaturas.”

Bolinhos de Noz de Rebordosa (Porto)

No Norte, em Rebordosa, há pequenos bolinhos de noz que combinam simplicidade e sabor de forma perfeita. Apesar de pouco conhecidos fora da região, são um exemplo do que a doçaria portuguesa tem de melhor: tradição, ingredientes simples e aquele toque de “quero mais um!”.

Uma pequena descoberta para quem gosta de doces com personalidade.

Folar Doce de Olhão (Algarve)

Quando pensamos em folar, lembramo-nos do pão de Páscoa, mas no Algarve há uma versão doce que é uma verdadeira surpresa.

Recheado com ovos e açúcar, macio e levemente caramelizado, o folar doce de Olhão é perfeito para acompanhar um café ou um chá da tarde, e é uma das pequenas joias da doçaria regional que raramente chega ao resto do país.

Alfenim (Terceira, Açores)

E porque não terminar a viagem com um doce das ilhas? O alfenim existe no Algarve e no Minho, mas é sobretudo na ilha Terceira, nos Açores, que mantém maior expressão cultural. Lá, o doce é moldado em figuras brancas de açúcar (pássaros, flores, peixes, corações…) e faz parte das tradições da Páscoa e das festas do Espírito Santo.

É trabalhado à mão, quase como se fosse escultura, e a sua presença é tão forte que já é considerado património cultural imaterial da região.

“É um doce medieval de origem árabe, que ainda persiste nas ilhas centrais do arquipélago, especialmente na ilha Terceira”, lê-se no site ‘Produtos Tradicionais Portugueses’. “Chegou aos Açores com os mouriscos que ali se fixaram, e aproveitou-se da alta produção de cana-de-açúcar na região. Incorporado na doçaria conventual, era oferecido como presente luxuoso para pessoas distintas e imprescindível como decoração nas mesas dos casamentos.”

Alfenim
De origem árabe, servem para enfeitar bolos e pagar promessas religiosas, especialmente nos Açores. Foto: tradicional.dgadr.gov.pt

Portugal está cheio de doces surpreendentes que vão muito além do pastel de nata. Cada receita traz histórias de conventos, aldeias, famílias e tradições que merecem ser preservadas e saboreadas. Na próxima escapadinha, deixe o doce mais famoso de lado e aventure-se por estas delícias pouco conhecidas — o seu paladar agradece, e a sua curiosidade também.