Universidade do Minho lidera investigação que dá a conhecer 13 novas espécies de minhocas marinhas

Essenciais para a saúde dos oceanos, estes organismos são responsáveis pela reciclagem de nutrientes e pela estabilização de sedimentos marinhos, servindo ainda como alimento para peixes e crustáceos.

Minhocas marinhas
As novas espécies de minhocas marinhas foram descobertas nas águas do Atlântico e do Mediterrâneo. Imagem: Universidade do Minho

À primeira vista, as minhocas marinhas, pelo seu tamanho minúsculo, podem parecer organismos insignificantes, mas desempenham uma função vital no equilíbrio dos oceanos. Não é somente por serem um delicioso petisco para peixes e crustáceos.

É que, além servirem de alimento para muitas espécies marinhas, são responsáveis pela reciclagem de nutrientes. Ao se moverem por entre a areia depositada no chão do mar, ajudam também a oxigenar o ambiente cheio de sedimentos.

A sua presença é sinal de que o ecossistema marinho goza de boa saúde e está mais bem preparado para proteger a biodiversidade do mar. A descoberta de 13 novas espécies destes invertebrados é, por isso, uma boa notícia anunciada pela Universidade do Minho.

Uma investigação coordenada pelo Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências da Universidade do Minho, em parceria com sete cientistas do Brasil, Espanha, Grécia, Itália, Noruega e Suécia, identificou mais de uma dezena de espécies conhecidas como anelídeos marinhos.

Perinereis beaucoudrayi
A Perinereis beaucoudrayi, identificada no Reino Unido, é uma das 13 novas espécies descobertas durante a investigação coordenada por cientistas portugueses. Foto: Universidade do Minho

Este grupo de vermes segmentados – que inclui as minhocas utilizadas na pesca com linha – foi encontrado nos Açores, nas Canárias, no Nordeste Atlântico e no Mar Mediterrâneo.

Nomes inspirados em videojogos e folclore regional

As minhocas foram batizadas com nomes muitos variados para fazer justiça à sua diversidade biológica. Quatro delas ganharam nomes de personagens de videojogos populares - Malenia e Miquella, de “Elden Ring”; Nier e 2B, de “Nier Replicant” e “Nier Automata”). Outras quatro evocam biólogos taxonomistas de vermes aquáticos (Luigi Musco, Alberto Castelli, Sarah Faulwetter e Céline Houbin).

Há ainda mais quatro espécies nomeadas com base no folclore mitológico das regiões em que apareceram (Tibicena, das Canárias; Jupiter, Juno e Minerva, de Itália). A última espécie, por fim, recebeu o nome do local onde foi encontrada (Porto Cesareo, Itália).

Os resultados desta investigação saíram recentemente na revista “Invertebrate Systematics”. O trabalho, aliás, teve como ponto de partida a tese de doutoramento em Biologia de Marcos Teixeira, do CBMA. Tudo começou nas águas profundas dos Açores, com os investigadores da Universidade do Minho, Filipe Costa e Pedro Vieira, a participarem também nesta primeira fase da expedição.

A investigação portuguesa contou depois com parcerias de outras universidades internacionais que procuraram mais minhocas marinhas no Atlântico e no Mediterrâneo.

Identificação de novas espécies com ADN

A equipa internacional explorou o “género de anelídeo Perinereis”, através de ferramentas avançadas de taxonomia integrativa, incluindo dados de sequenciação do ADN e um “exame minucioso da morfologia”, revela o comunicado da Universidade do Minho. Foram descobertas 19 linhagens moleculares, das quais se descreveram 13 espécies novas para a ciência.

"Estas espécies são muito semelhantes entre si e só com recurso a sequências de ADN nos foi possível detetá-las, tal como acontece com muitos organismos marinhos que temos investigado no âmbito da iniciativa mundial 'Barcode of Life'”
Filipe Costa, coordenador do estudo

Os resultados confirmam a existência de muita diversidade desconhecida nos ecossistemas costeiros europeus e a importância da deteção por DNA barcoding (ou código de barras de ADN) para a conservação da biodiversidade.

Perinereis cultrifera
A Perinereis cultrifera, na imagem, foi descoberta na Calafuria, Itália. Foto: Universidade do Minho.

Marcos Teixeira continua a estudar estes organismos, trabalhando atualmente na Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah, na Arábia Saudita, onde contribui para aumentar uma biblioteca de referência de DNA barcodes destinada a invertebrados marinhos, investigando também novas espécies de vermes aquáticos naquela região.

O contributo dos invertebrados marinhos

A importância das minhocas marinhas passa geralmente desapercebida do grande público. Todos aprendem nos primeiros anos da escola como as minhocas terrestres contribuem para a fertilidade do solo. Mas não nos lembrarmos do papel que os seus parentes desempenham no fundo do mar.

Existem mais de 11 mil espécies vermes segmentados identificados no fundo do mar, com variados tamanhos e diferentes hábitos de vida e dietas alimentares (de herbívoros a omnívoros).

A diversidade de minhocas marinhas indica as características ambientais e pode ajudar a monitorizar a qualidade do fundo marinho. Descobrir uma nova espécie é sempre um acontecimento para os investigadores e para a proteção dos oceanos.

Referências da notícia

Marcos A. L. Teixeira, Joachim Langeneck, Maël Grosse, Pedro E. Vieira, José Carlos Hernández, Bruno R. Sampieri, Panagiotis Kasapidis, Torkild Bakken, Susana Carvalho, Ascensão Ravara, Arne Nygren & Filipe O. Costa. A sea of worms: the striking cases of the European Perinereis cultrifera and P. rullieri (Annelida: Nereididae) species complexes, with description of 13 new species. Invertebrate Systematics.

Equipa internacional coordenada pela UMinho descobre 13 espécies de “minhocas marinhas” Universidade do Minho.