Um estudo recente revela que a circulação atlântica poderá ser mais resistente ao aquecimento global do que se pensava

Um sistema de correntes oceânicas denominado, circulação de revolvimento meridional do Atlântico afeta fortemente o clima, mas até agora estava a dar sinais de estar a parar.

Oceano
A circulação de revolvimento meridional existente no Oceano Atlântico tem um papel crucial na regulação do nosso clima.

Há muito que se teme que esta circulação no Oceano Atlântico possa sofrer uma paragem catastrófica com as alterações climáticas, mas um estudo recente sugere que o colapso total é improvável neste século.

Circulação de revolvimento meridional do Atlântico

A circulação de revolvimento meridional do Atlântico (Atlantic Meridional Overturning Circulation – AMOC) é um sistema de correntes oceânicas no Oceano Atlântico, como se tratasse de uma gigantesca correia transportadora de massa de água. A água quente é transportada nas camadas superiores de sul para norte. Quando a água atinge o ponto mais a norte, afunda-se e é transportada para sul numa camada fria e profunda até chegar à região mais a sul, onde volta a subir à superfície.

Correntes no Atlântico
Na AMOC a água quente é transportada superficialmente de sul para norte no Oceano Atlântico e a água fria numa camada mais profunda de norte para sul.

A AMOC é assim um dos principais transportadores de calor para o Atlântico Norte e noroeste da Europa. Sem ela as temperaturas do noroeste da Europa seriam muito mais baixas.

A AMOC tem um papel crucial na distribuição global do calor, do sal e de outros componentes da água do mar.

A intensidade do AMOC tem vindo a diminuir ao longo do tempo, uma tendência que se deve ao degelo polar, a alterações nos padrões de vento e a alterações na precipitação associadas às alterações climáticas. Embora os cientistas concordem que o colapso do AMOC teria consequências devastadoras para os climas locais e regionais, estão divididos sobre se e quando tal evento ocorreria.

No entanto, um estudo recente publicado na revista Nature, revela que é pouco provável que a AMOC entre em colapso este século.

Neste século a AMOC resistirá às alterações climáticas

Neste estudo, elaborado por uma equipa de cientistas do Met Office, Serviço Meteorológico Inglês, e da Universidade de Exeter, no Reino Unido, foram utilizados 34 modelos climáticos para examinar a forma como o AMOC poderia responder a 2 cenários extremos.

Um cenário seria um aumento de quatro vezes nos níveis de dióxido de carbono em relação aos níveis pré-industriais e o segundo cenário, a adição de quantidades maciças de água doce, consistente com a fusão da camada de gelo da Gronelândia.

Aquecimento global
A AMOC resistirá ao aquecimento global.

O estudo sugere que a AMOC resistirá às pressões do aumento das temperaturas globais e das entradas de água doce no Atlântico Norte, sendo o sistema enfraquecido largamente impulsionado pelos ventos persistentes do Oceano Antártico.

A equipa concluiu que a AMOC enfraqueceria em ambos os cenários, mas não entraria em colapso.

Os ventos persistentes do Oceano Antártico provocam uma ressurgência (fenómeno que faz com que as águas profundas subam à superfície) no Oceano Austral, que sustenta uma AMOC enfraquecida em todos os casos, mas impedindo o seu colapso total.

Como a ressurgência do Oceano Antártico tem de ser equilibrada por uma ressurgência no Atlântico ou no Pacífico, a AMOC só pode entrar em colapso se se desenvolver uma circulação de revolvimento meridional do Pacífico (PMOC) compensadora.

De facto, uma PMOC surge em quase todos os modelos, mas é demasiado fraca para equilibrar todo o ressurgimento do Oceano Antártico, impulsionado pelo vento, o que sugere que um colapso da AMOC é improvável neste século.

Os resultados do estudo revelam mecanismos de estabilização da AMOC com implicações para as alterações futuras da AMOC e, consequentemente, para os ecossistemas e a biogeoquímica dos oceanos.

A AMOC irá manter-se, enquanto os ventos soprarem em torno do Oceano Antártico, dado que nesta situação a água é extraída das profundezas do Oceano Austral, sendo depois equilibrada pelo afundamento da água a norte no Oceano Atlântico.

Os autores do estudo alertam que mesmo sem o colapso da AMOC, um enfraquecimento da AMOC pode já ter consequências graves no clima a nível mundial.

Por outro lado, o estudo sugere que são necessárias uma melhor compreensão e estimativas das circulações do Oceano Antártico e do Indo-Pacífico para prever com exatidão as futuras alterações da AMOC.

Referência da notícia

“Continued Atlantic overturning circulation even under climate extremes”, Nature, volume 638, pages 987–994 (2025), J. A. Baker, M. J. Bell, L. C. Jackson, G. K. Vallis, A. J. Watson & R. A. Wood, Published: 26 February 2025