Svalbard em Degelo: Evidências de um Novo Inverno Ártico

Svalbard é um arquipélago do Ártico que se tornou um verdadeiro observatório das alterações climáticas globais. Neste artigo são analisados os impactos sem precedentes do aquecimento invernal nesta zona do globo.

Svalbard é um arquipélago norueguês situado no Oceano Ártico, entre o continente europeu e o Polo Norte.

O artigo analisa os impactos sem precedentes do aquecimento invernal em Svalbard, um arquipélago do Ártico que se tornou um verdadeiro observatório das alterações climáticas globais. Nos últimos anos, esta região tem aquecido entre seis a sete vezes mais depressa do que a média global, sendo o inverno a estação mais afetada.

Em fevereiro de 2025, registaram-se temperaturas anormalmente elevadas, com médias mensais em Ny-Ålesund a rondar os -3,3 °C — muito acima da média histórica de -15 °C para o mesmo período.

Em 14 dos 28 dias do mês, a temperatura superou os 0 °C, acompanhada por precipitação sob a forma de chuva. Este fenómeno não só derreteu a neve e o gelo, como formou extensas poças de água de fusão, transformando a tundra num “ringue de patinagem” e interrompendo as operações científicas planeadas.

Estes eventos de degelo invernal, cada vez mais frequentes, assinalam uma mudança profunda nas dinâmicas do Ártico e trazem consequências ecológicas, biogeoquímicas e sociais.

A cobertura de neve, que tradicionalmente isola o solo e regula a temperatura do subsolo, é reduzida ou eliminada, expondo os microrganismos do solo a ciclos de congelamento e descongelamento mais extremos. Isto altera a estrutura das comunidades microbianas, acelera a decomposição da matéria orgânica e potencia a libertação de gases com efeito de estufa como o dióxido de carbono e o metano.

Estima-se que haja mais ursos polares do que habitantes humanos em Svalbard.

Durante a campanha de campo de fevereiro de 2025, os cientistas testemunharam alterações significativas na paisagem ártica: solos descongelados acessíveis sem recurso a ferramentas especializadas, vegetação visível e ativa, cursos de água alimentados por glaciares em funcionamento antes da primavera, e ausência total de cobertura de neve em amplas áreas da tundra.

Estas observações sugerem que os eventos de degelo durante o inverno estão a alterar radicalmente a fenologia dos ecossistemas, desregulando os ciclos sazonais e pondo em causa o equilíbrio ecológico.

Os efeitos também se fazem sentir na infraestrutura humana. A instabilidade do permafrost, agravada pelo aquecimento, já obrigou à substituição de fundações de edifícios em Ny-Ålesund, incluindo estações de investigação. Além disso, a instabilidade do manto de neve devido a camadas fracas causadas pela chuva e o degelo aumenta o risco de avalanches, com consequências potencialmente perigosas para as comunidades locais e para os investigadores que operam na região.

O artigo salienta ainda a escassez de dados sobre processos ecológicos e geofísicos durante o inverno no Ártico, o que limita a capacidade de modelar e antecipar os impactos do aquecimento sazonal.

Apesar de algumas séries temporais existirem (como as do observatório Bayelva), o conhecimento científico continua insuficiente para responder à velocidade das alterações.

Os autores alertam que o episódio de 2025 não foi um caso isolado, mas sim um sintoma de uma nova realidade: o Ártico de inverno está a transformar-se rapidamente, exigindo adaptação urgente das abordagens científicas, logísticas e de gestão ambiental.

Referência da notícia

Bradley, J.A., Molares Moncayo, L., Gallo, G. et al. Svalbard winter warming is reaching melting point. Nat Commun 16, 6409 (2025). https://doi.org/10.1038/s41467-025-60926-8