Solstício: o Sol 'dança' no horizonte no dia mais longo do ano

O sol e a energia que emana alimentam a vida na Terra. A energia solar aquece a superfície do planeta e impulsiona a dinâmica climática balizada pela atmosfera, o manto de gases e partículas que envolve e torna o planeta habitável. Hoje falamos-lhe aqui do solstício de verão!

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À medida que nos afastamos do Equador, as estações ficam mais acentuadas, e a diferenciação entre elas torna-se máxima nos pólos.

A alternância dos estados do tempo que se vivenciam regionalmente, responde à combinação de fenómenos atmosféricos que ocorrem na baixa atmosfera, traduzindo-se em variações climáticas circunscritas temporalmente. O clima do planeta é controlado quer por forcings internos, sob um processo de retroalimentação que reflete o interface dinâmico superfície-atmosfera, quer externos ao sistema terrestre, como variações na constante solar e na órbita da Terra em redor do Sol.

Ao longo do ano, efeito do movimento de translação da Terra em torno de uma trajetória eclíptica com inclinação de 23,5⁰ em relação ao equador celeste, a posição do Sol desloca-se a cada dia, cada vez mais de oeste para leste - movimento anual aparente do Sol. No âmbito da projeção geocêntrica, esta declinação do Sol traduz-se numa maior ou menor angulação deste com o Equador do planeta. Assim, decrescendo a altura do sol é reduzida a sua intensidade, uma vez que o percurso dos raios solares através da atmosfera aumenta, havendo maior absorção, reflexão e espalhamento de radiação solar.

Entre as latitudes 23⁰27’N (trópico de Câncer) e 23⁰27’S (trópico de Capricórnio), o Sol passa pelo zénite duas vezes por ano, e uma vez em cada trópico. Nas latitudes 66,5⁰ N e S, nos círculos polares, o Sol nunca passa pelo zénite, e a luminosidade permanece 24h acima ou abaixo do horizonte.

No Hemisfério Norte, à medida que se aproxima o mês de junho, o progressivo aumento da declinação do sol, de 0⁰ em Março no Equinócio da Primavera, até ao máximo de 23⁰26’, traduz-se no aumento da luminosidade dos dias, e, com maior insolação, a probabilidade de temperaturas mais elevadas é exponenciada, alavancando a chegada do verão.

E este ano, hoje, 20 de junho os raios solares incidirão verticalmente desenhando um ângulo de 90⁰, assinalando o Solstício, do latim sol + sistere. O momento em que vai parecer que o sol fica parado ao nascer e ao se pôr, durará cerca de 3 dias, e por volta do dia 23 ou 24, a declinação acontece no sentido inverso, e os dias começarão novamente a diminuir.

Considerando a distância média Terra-Sol, o fluxo de energia solar por unidade de tempo e área, recebida no planeta tem efeito determinante, expressando-se como constante solar, quantificada em 1.367 W/m². Porém, devido ao movimento de rotação da Terra, a energia média incidente no topo da atmosfera cinge-se a aproximadamente ¼ da constante solar, dos quais, cerca de 39% de radiação é reflectida pela atmosfera, e apenas 61% dessa energia solar aquece o planeta.

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A capacidade térmica do oceano manifesta-se em oceanos mais quentes entre os 60⁰ N e S, comparativamente com os polos e a crusta emersa, à excepção da particularidade georreferencial da região equatorial.

O efeito da obliquidade do planeta reflete-se em variações de temperatura do ar em cada hemisfério

Decorrente do aumento do ângulo de inclinação do eixo de rotação do planeta, ao longo do ano, os solstícios migram latitudinalmente em direção aos polos, provocando o derretimento das capas de gelo, diminuindo o albedo e impulsionando o aumento da temperatura. Uma dinâmica que se reflete na diminuição da diferença de temperatura entre os pólos e o equador, e na qual igualmente intervém a majestosa capacidade térmica da água, retardando oscilações na temperatura.

À medida que a incidência da luz e calor do Sol vai aumentando, por ação da inércia térmica, em termos de média anual, o aquecimento dos hemisférios não ocorre simetricamente. Extensamente maior em área continental do que o HS, no verão, o HN aquece mais 1 a 2 ⁰C, devido ao transporte de calor dos oceanos austrais.

Um outro agente intervém nesta dinâmica - a circulação oceano-atmosférica, manifestando-se através de monções, anticiclones subtropicais e zonas de ressurgência, que atuam como distribuidores do vapor de água no mecanismo climático que envolve o planeta. Assim, em pleno solstício de verão, os oceanos encontram-se ainda a absorver calor e a aquecer, vivenciando-se atípicas manifestações meteorológicas.

Hoje, dia 20, às 22h44, ocorrerá o primeiro solstício do ano, com o Sol a incidir diretamente na região do Trópico de Câncer, altura em que o HN iniciará o verão. Será o dia com maior duração de luz solar – 15h08’, da aurora às 06h01 ao ocaso às 21h09.

Ao longo do ano, o movimento aparente do Sol sofre pequenas variações, com declinações máximas a Norte e Sul do planeta que configuram os solstícios de verão e inverno, desde tempos ancestrais associados a algum misticismo. Exemplo disso é o circulo de monólitos gigantes em Stonehenge, um referente astronómico, local de celebrações a auspiciar o início do verão.

No dia seguinte, 21, ocorrerá um eclipse anular do Sol (não visível em Portugal), um evento astronómico em que a Lua ficará completamente alinhada com a Terra e o Sol, mas devido à sua localização e grandeza, não “tapará” totalmente o Sol, ficando no céu um anel brilhante. E, na antevéspera de S.João, no anoitecer do dia 22, se o tempo o permitir, será possível contemplar, a olho nu, o vizinho próximo do astro rei, o planeta Mercúrio, infiltrado na constelação de gémeos. Efeitos dos bailados planetários com o astro Sol, a não perder!