Riscos e desafios do clima para a humanidade

A vulnerabilidade humana face às pressões climáticas, dimensiona crescentemente as questões ambientais para um patamar que torna o bem-estar e progresso humanos indissociáveis, considerando que alterações nos padrões do clima são cíclicas e inevitáveis. Contamos-lhe mais aqui.

Características de um período interglaciar, a estabilidade e amenidade térmicas potenciaram o desenvolvimento das civilizações ao longo dos tempos.

A história da evolução do clima narra cíclicas oscilações de temperaturas em períodos temporais na ordem dos milhares de anos, que se traduzem em Eras Glaciares, com a presença de gelos permanentes nos Polos e o nível do mar inferior entre 100 a 120 metros, e Eras Interglaciares com temperaturas mais quentes, com redução significativa do gelo polar e continental, e com o aumento dos níveis da hidrosfera.

Esta dinâmica cíclica, com algumas nuances menos pronunciadas, como a Pequena Idade do Gelo (1400-1850), é alavancada por forcings terrestres como eventos vulcânicos ou por eventos de natureza astronómica como o impacto de corpos celestes, variações na luminosidade do Sol, na excentricidade da órbita terrestre em torno do Sol, no movimento de precessão do eixo do planeta e na variação da inclinação desse eixo relativamente à elíptica. Estes fatores traduzem-se em oscilações nas temperaturas e na composição da atmosfera, assim como em alterações na relação entre a atmosfera, os oceanos e a criosfera, personificando a dinâmica das artérias vivas de um planeta em constante mudança.

A humanidade sempre habitou num período interglacial, porém, os efeitos da revolução agrícola, com a alteração no uso dos solos e a desflorestação, assim como a revolução industrial com a intensiva utilização de combustíveis fósseis, inferiram na natural alternância climática do planeta, contribuindo para um desequilíbrio nos níveis dos gases que regulam o efeito de estufa da Terra ao nível da troposfera, refletindo-se num tendencial aumento da temperatura média global, protelando assim, o advento duma nova era gelada.

A sobrevivência da humanidade tem-se moldado no usufruto desmedido pelo manancial de espaço e recursos que o planeta propicia, impactando destrutivamente nos ecossistemas, e descurando imprudentemente a elementar interdependência ecológica. Com foco apontado para a prosperidade económica como motor do bem-estar das sociedades, vão-se adensando delicados problemas ambientais que assombram a conflituosa conexão que envolve a escalada demográfica e a nociva proliferação da poluição.

Sobressaem os exemplos de economias emergentes como a China e a Índia, regiões onde residem 2.8 biliões (dados de 2017 da ONU) dos cerca de 7.6 biliões de terráqueos, e onde, para ser alcançado nível de desenvolvimento social, económico e qualidade de vida equiparada à vivenciada nos países desenvolvidos, são construídas a ritmo assustadoramente acelerado, centrais térmicas alimentadas a carvão. A cronologia do tempo avança, levando a reboque uma civilização com dimensão e imposição de sustento sem precedentes, crescentemente sedenta de recursos, ameaçando escassear e mesmo extinguir, quer a qualidade, quer a quantidade dos mesmos.

Não obstante poderosos e incontornáveis fatores alheios ao Homem regularem as alterações que ocorrem no clima, a ação antrópica tem impulsionado todo um conjunto de pressões ambientais que inferem determinantemente na capacidade natural de regeneração do mecanismo climático do planeta.

A desenfreada exploração dos recursos naturais terrestres pode levar à sua escassez ou até mesmo extinção.

As alterações climáticas e o ameaçador panorama da mudança

Com crescente frequência, assiste-se à ocorrência de eventos meteorológicos classificados de extremos, como precipitação confinadamente intensa, potenciando o risco de cheias, secas com impactes destrutivos na produtividade agrícola, agravando os riscos de fome e desertificação e, in extremis, despoletando conflitos armados. Destaque-se, por efeito do aumento da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) com inerente dilatação das massas de água, o previsível aumento do nível médio do mar, vulnerabilizando ainda mais as áreas estuarinas, confluentemente com a massiva ocupação urbana das áreas costeiras e o (in)evitável risco para pessoas e bens.

De similar relevância, refira-se ainda a crescente ocorrência de ondas de calor, personificadas no aumento da mortalidade humana, assim como na maior incidência de algumas doenças infeciosas transmitidas por vetores característicos de regiões tropicais que migram para territórios climáticos outrora menos favoráveis. Liminarmente, alterações no clima afetam irremediavelmente sistemas basilares à vida, como os recursos hídricos, a agricultura, os ecossistemas, a biodiversidade, as florestas, as zonas costeiras, a própria saúde humana, sendo por isso premente o estabelecimento de sinergias com respostas eficazes.

A problemática das Alterações Climáticas é assim comummente “o tema do dia”, porém, com um enfoque errático. O cerne não reside em combater mudanças que são naturais e cíclicas na saúde do clima do planeta, mas antes, primar por mitigar os riscos e implementar eficazmente a adaptabilidade humana, perante alterações de (re)organização do mecanismo climático do planeta, que ocorrem desde há giga anos, e que, inevitável e incontornavelmente sempre continuarão a ocorrer, se bem que de modo menos espontâneo, decorrente da obstinada inadaptação humana às circunstâncias da natureza.

Face à falibilidade da ciência e à imprevisibilidade do funcionamento do mecanismo climático, no sentido de ser assegurada a sustentabilidade ambiental, social e económica, o mote deve mesmo potenciar uma comunhão humana com os ritmos da natureza de modo integrado, e não intrusivo, a fim de assegurar a superação do assombroso desafio que personificam, atualmente, as implícitas alterações nos padrões climáticos da Terra!