O gelo marinho da Antártida atingiu um recorde de menor extensão

Em setembro, após os meses frios e escuros de inverno, o gelo marinho da Antártida atingiu a sua extensão mínima de que há registo.

Antártida
Em dois invernos consecutivos o gelo da Antártida atingiu valores mínimos de extensão, nunca antes verificado.

Comparando os registos obtidos por satélite, que se iniciaram em 1979, é possível determinar a evolução da extensão do gelo da Antártida.

Extensão mínima recorde

No final do inverno no Hemisfério Sul, de acordo com os dados preliminares do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos EUA (NSIDC), a extensão de gelo marinho da Antártida manteve-se abaixo dos 17 milhões de quilómetros quadrados, pela primeira vez num registo de mais de 40 anos.

O anterior recorde de extensão mínima de gelo na Antártida ocorreu em 2022, mas este ano esse recorde foi batido com cerca de um milhão de quilómetros quadrados abaixo do anterior mínimo histórico de 2022. Para uma melhor noção da dimensão que se está a falar, este ano a dimensão da extensão de gelo reduzido é semelhante à dimensão do Egipto.

O máximo, que foi atingido a 10 de setembro, foi cerca de 1,75 milhões de quilómetros quadrados abaixo da média de referência (1981 - 2010).

Extensão de gelo no período de inverno, Antártida
Dados diários da extensão do gelo marinho antártico no período de 1 de junho a 13 de setembro referente a 6 anos distintos. A mediana de 1981 a 2010 é apresentada a cinzento escuro. As áreas cinzentas em torno da linha mediana mostram os intervalos interquartis e interdecil dos dados. Fonte: NSIDC, University of Colorado Boulder.

Esta ausência de gelo marinho antártico está associada a uma temperatura da superfície do mar excecionalmente quente em todo o Oceano Antártico, bem como a uma temperatura da superfície da atmosfera mais quente em grande parte da Antártida Oriental e ao ajustamento associado da circulação atmosférica em grande escala sobre a Antártida.

Investigadores desta área estão a monitorizar se isto faz parte da variabilidade normal do continente gelado varrido pelo vento ou se é o início de um novo e preocupante estado resultante do excesso de gases com efeito de estufa na atmosfera e nos oceanos.

Impactos da diminuição do gelo na Antártida

O défice de gelo marinho na Antártida em 2023 tem impactos diretos no clima e nos ecossistemas, tanto nas proximidades como a grande distância, incluindo em latitudes mais baixas, onde se encontra a maioria da população humana e os seus interesses económicos.

A enorme extensão de gelo glaciar da Antártida e a cobertura de gelo marinho circundante são fundamentais para a regulação do clima, uma vez que refletem a energia solar de volta para a atmosfera e para o espaço. Em contrapartida, a superfície escura do oceano absorve a maior parte da energia solar recebida.

A diminuição do gelo marinho contribui para o aumento das temperaturas, acelerando assim o aquecimento global.

De acordo com Omar Baddour, chefe da monitorização do clima da OMM, a queda do gelo marinho na Antártida este ano foi realmente dramática e o que acontece na Antártida e no Ártico afeta todo o globo.

Pinguins na Antártida
Os pinguins estão a ser fortemente afetados pela diminuição do gelo na Antártida.

Como prova de impactos também na vida selvagem, as colónias de pinguins-imperador registaram uma falha de reprodução sem precedentes numa região da Antártida onde se verificou uma perda total de gelo marinho em 2022, de acordo com o British Antarctic Survey. A descoberta corrobora as previsões de que mais de 90% das colónias de pinguins-imperador estarão quase extintas até ao final do século, com base nas atuais tendências de aquecimento global.

Os investigadores afirmam que há uma grande probabilidade de que as crias de quatro das cinco colónias de pinguins-imperador conhecidas não terem sobrevivido.