Fenómeno, conhecido como “Föhn”, intensifica o degelo no nordeste da Gronelândia

O fenómeno, conhecido como "Föhn", impulsionado por rios atmosféricos, está na origem de ventos quentes e secos que aquecem rapidamente a superfície do gelo, contribuindo para níveis de degelo elevados. Saiba mais aqui!

degelo; Gronelândia
Fenómeno, conhecido como "Föhn", está a intensificar o degelo no nordeste da Gronelândia.

Os rios atmosféricos no manto de gelo do noroeste da Gronelândia estão a causar ventos secos que resultam no degelo extremo a curto prazo, de acordo com investigações recentes lideradas pelo investigador em ciências atmosféricas Kyle Mattingly, da Universidade de Wisconsin-Madison. O fenómeno, conhecido como "Föhn", é impulsionado por intensos movimentos atmosféricos, designados de rios atmosféricos, que transportam grandes quantidades de vapor de água sobre áreas de gelo polar.

Ventos 'hair dryer' e rios atmosféricos intensificam o degelo, tal como advoga estudo

Historicamente, a maior parte do degelo na Groenlândia ocorre durante os meses com temperaturas mais elevadas no verão. No entanto, estudos recentes indicam que os ventos quentes, secos e descendentes, chamados de "hair dryer", desempenham um papel fundamental no aumento do degelo. Estes ventos estão a aquecer de modo significativo a superfície do gelo em espaços de tempo curtos, contribuindo para o aumento das taxas de degelo observadas nas últimas estações.

A localização remota no nordeste da Gronelândia tem dificultado os estudos nesta área. Através da utilização de imagens de satélite, os algoritmos para a deteção dos rios atmosféricos, uma nova técnica de identificação de Föhn e os modelos atmosféricos de alta resolução, Mattingly e a sua equipa de investigação revelaram que estes rios atmosféricos estão a atravessar a área de gelo polar, causando alterações substanciais às condições de fusão do gelo na Gronelândia. Os rios atmosféricos aos cruzarem a parte leste da cúpula de gelo, provocam eventos de Föhn, o que se denota na fusão de uma vasta área de camada de gelo.

Num estudo publicado na Nature Communications, os investigadores destacaram que a combinação de condições favoráveis para Föhn e os 10% mais intensos rios atmosféricos ocorrem apenas em 1,11% dos casos. No entanto, esta conjunção de fatores é responsável por 5% a 10% do degelo que decorreu de forma desproporcional nos últimos períodos de degelo.

“A temperatura do ar perto da superfície do gelo aumenta entre 7 e 12ºC num espaço de tempo muito curto devido a ventos descendentes intensos", explicou Jenny Turton. "Além disso, os ventos são muito secos, resultando na ausência de formação de nuvens. No verão, a ausência de nuvens intensifica a radiação solar na superfície, contribuindo ainda mais para o degelo.”

Perda maciça de gelo na Gronelândia: impacte na elevação do nível do mar revela urgência climática

Ao longo das últimas três décadas, a Gronelândia perdeu aproximadamente 3,9 mil milhões de toneladas métricas de gelo, o que perturbou o equilíbrio da massa da superfície. A corrente de gelo do nordeste da Gronelândia, com os seus 600 quilómetros, drena numa bacia que representa 16% do manto de gelo total do país.

Esta corrente desagua em três áreas de gelo marinho distintas, cada uma com mais de um metro de potencial para o aumento do nível do mar. Os efeitos sobre a bacia de drenagem sugerem que o aumento do nível do mar pode ocorrer muito mais rapidamente.

Embora o aumento da humidade atmosférica devido ao aquecimento global possa resultar num aumento de rios atmosféricos e, por conseguinte, no degelo, os cientistas alertam sobre a inevitabilidade de eventos mais extremos. Ao entenderem-se os impactes destes eventos, a curto prazo, no nordeste da Gronelândia pode suportar a prevenção perante o aumento do nível das águas do mar.

Refira-se, a propósito, que este estudo foi apresentado na Reunião Anual de 2023 da American Geophysical Union (AGU), em São Francisco, onde se ressaltou a urgência de compreender e enfrentar as alterações climáticas que impactam diretamente a estabilidade das áreas de gelo polar na Gronelândia.

Referência da notícia:
Mattingly, K. S. et al., Increasing extreme melt in northeast Greenland linked to foehn winds and atmospheric rivers. Nature Communications (2023).