O estranho efeito da Lua que contribui para o aquecimento global

A ação gravitacional do nosso satélite está a contribuir para a libertação de grandes quantidades de metano do oceano Ártico para a nossa atmosfera. Saiba mais aqui!

lua; influência nas marés.
Os investigadores pretendem obter mais dados para perceber como é que as mudanças nas marés afetam as emissões de metano.

Como se a contribuição humana para o efeito estufa não bastasse, com as suas enormes emissões de gases nocivos para a atmosfera, outra contribuição inesperada é adicionada.

Como é explicado num artigo publicado, há algumas semanas, na Nature Communications, a Lua pode ser diretamente responsável pela libertação de uma grande quantidade de metano, um gás muito mais eficaz do que o dióxido de carbono (CO2) quando se trata de capturar o calor, para a atmosfera terrestre.

Segundo os investigadores, esse estranho e ainda pouco conhecido efeito lunar deve-se às marés e ao arrasto que a atração gravitacional do nosso satélite exerce sobre elas. Um fenómeno que os cientistas conseguiram quantificar no Oceano Ártico, fazendo medições detalhadas durante quatro dias e quatro noites consecutivas.

O metano e as alterações climáticas

O oceano Ártico perde continuamente enormes quantidades de metano. O que os investigadores descobriram foi que a quantidade desse gás perto do fundo do mar oscila conforme as marés. O que implica que durante essas oscilações o metano é libertado diretamente para a atmosfera, contribuindo para as alterações climáticas.

Nas palavras de Andreia Plaza-Faverola, geofísica da Universidade de Tromsø, na Noruega, e uma das autoras desta investigação, “notamos que as acumulações de gás, encontradas nos sedimentos a um metro do fundo do mar, são vulneráveis até para mudanças de pressão muito pequenas na coluna de água. Uma maré baixa significa menos pressão hidrostática e, portanto, uma maior intensidade na libertação de metano. A maré alta, ao contrário, equivale a uma pressão mais alta e a uma menor intensidade da descarga".

Estes vazamentos de metano no oceano Ártico já acontecem há milhares de anos, geralmente causados por fatores como a atividade sísmica e vulcânica, mas o efeito da Lua nunca tinha sido considerado até agora. De acordo com os investigadores, a partir de agora, as marés poderão ser utilizadas como forma de prever a quantidade de metano libertada diariamente no oceano Ártico, mesmo com variações de maré inferiores a um metro.

Este estudo também levanta a possibilidade de que o aumento do nível do mar possa neutralizar a libertação de metano pelos oceanos, já que o aumento da pressão exercida pela água poderia manter o gás preso por mais tempo.

O metano retido no fundo do mar é libertado quando a maré está baixa, visto que a pressão da água diminui. O contrário acontece quando a maré sobe.

Uma das principais conclusões do estudo é que a libertação de gás do fundo do mar é mais difundida do que mostram os dados do sonar convencional, então, é muito provável que a quantidade de metano esteja a infiltrar-se no Ártico.