Deteção sistemática de sismos glaciais no glaciar Thwaites através de ondas de superfície regionais
Ondas regionais revelam 368 sismos glaciais no Thwaites (Antártida), confirmando que o capotamento de icebergues está ligado à aceleração do gelo. Saiba mais aqui!

O estudo aborda um mistério persistente na sismologia polar: a aparente raridade de sismos glaciais na Antártida. Enquanto na Gronelândia estes eventos — gerados pelo capotamento (capsizing) de icebergues gigantes — são detetados rotineiramente por redes globais, na Antártida as deteções têm sido historicamente escassas. O artigo coloca a hipótese de que estes eventos existem, mas são demasiado pequenos para serem captados a distâncias teleseísmicas (globais), necessitando de uma abordagem regional.
A metodologia inovadora
Para testar esta hipótese, foi desenvolvido um algoritmo automático focado na deteção de ondas de superfície Rayleigh de período relativamente curto (entre 17 e 25 segundos).
O método baseou-se na coerência dos sinais através da rede regional para identificar eventos que passariam despercebidos no ruído de fundo em estações mais distantes.
Os resultados: um novo catálogo sísmico
A aplicação desta técnica resultou na descoberta de 368 eventos sísmicos, a grande maioria dos quais nunca tinha sido catalogada. Estes eventos possuem magnitudes de onda de superfície (Ms) entre 2 e 3, confirmando que são significativamente menores do que os seus equivalentes na Gronelândia (que chegam a Ms 5).

A distribuição geográfica destes novos sismos concentra-se fortemente na Antártida Ocidental, especificamente em dois sistemas glaciares críticos: o Glaciar Thwaites e o Glaciar Pine Island.
A dinâmica do Glaciar Thwaites
O Glaciar Thwaites foi responsável por cerca de dois terços das deteções. A análise revelou uma forte correlação temporal entre a frequência dos sismos e a velocidade da língua de gelo do glaciar.
O estudo propõe um mecanismo físico para explicar isto: o enfraquecimento da mistura de gelo marinho (mélange) reduz a força de "apoio" na frente do glaciar. Esta perda de resistência permite que a língua de gelo acelere, o que promove uma maior fragmentação e o consequente capotamento de icebergues.

O impacto destes icebergues ao virarem-se gera as ondas sísmicas detetadas. Imagens de satélite validaram esta teoria, mostrando icebergues recém-capotados nas coordenadas exatas dos sismos detetados.
O mistério do Glaciar Pine Island
Em contraste, os sismos detetados no Glaciar Pine Island apresentam um enigma. Embora seja a segunda área mais ativa, os eventos localizam-se perto da linha de base (onde o glaciar assenta na rocha), a dezenas de quilómetros da frente de desprendimento. A localização no interior sugere que o capotamento de icebergues não é a causa, indicando que outros processos glaciológicos ou tectónicos desconhecidos estão a ocorrer nesta região.
O estudo conclui que os sismos glaciais são, de facto, comuns na Antártida, mas possuem características distintas dos da Gronelândia (menor magnitude e duração de força mais curta, cerca de 15 segundos). A investigação sublinha a importância vital de manter e expandir as redes sísmicas locais na Antártida para monitorizar a dinâmica da perda de massa de gelo, essencial para prever a subida do nível do mar num clima em mudança.
Referência da notícia
Thanh-Son Pham. Systematic Detection of Glacial Earthquakes in Thwaites Glacier, West Antarctica, by Regional Surface Waves. ESS Open Archive. August 23, 2025. doi: 10.22541/essoar.175596888.87914182/v1
Göran Ekström et al. ,Glacial Earthquakes.Science 302, 622 624(2003). doi: 10.1126/science.1088057