Cruzeiros: os 'majestosos' agentes da poluição

Por detrás da diversão e glamour dos gigantescos cruzeiros, esconde-se a sua intensa participação na poluição e degradação ambiental, além do impacto crescente e contínuo que causam na saúde e bem-estar das pessoas.

Gigantes do mar
Os navios de cruzeiro poluem tanto em Portugal como todos os carros das 8 maiores cidades. Fonte: Revista Sábado/Google.

Muitos de nós desconhece que os cruzeiros provocam poluição. Se por um lado, há a visível fumaça negra lançada no ar, que produz chuva ácida e amplia o aquecimento global; por outro lado, e de forma não tão visível, os navios de cruzeiro despejam diariamente toneladas de esgotos combinados com restos de alimentos e produtos químicos. Mas a lista não fica por aqui. Há ainda uma infinidade de agentes poluidores que contribuem para deixar um rasto destrutivo.

Segundo um estudo da Universidade de Exeter, no Reino Unido, publicado na revista Marine Pollution Bulletin aponta que embora os navios de cruzeiro constituam apenas uma pequena percentagem da indústria naval mundial, estima-se que cerca de 24% de todos os resíduos produzidos pela navegação provêm deste setor.

Um navio de cruzeiro pode ter uma pegada de carbono superior a 12 mil automóveis e que os passageiros de um cruzeiro na Antártida podem produzir tantas emissões de dióxido de carbono (CO2) como a média europeia num ano inteiro.

Aquela que é considerada a maior investigação de sempre sobre cruzeiros, alertou ainda para as consequências do setor para a degradação do ar, água, solo, habitats frágeis e vida selvagem.

O ensurdecedor barulho dos motores dos 'gigantes navegáveis' somado aos de entretenimento a bordo perturbam imenso a vida animal. Isto ocorre principalmente com mamíferos, como os golfinhos e as orcas, que têm o seu sistema auditivo debilitado, podendo levar à morte prematura.

Segundo a que é considerada a maior investigação de sempre sobre cruzeiros, estes veículos são também uma potencial fonte de riscos físicos e mentais para passageiros, trabalhadores e pessoas que residam perto dos portos.

As oleosas águas de porão, e as “águas cinzas” são também lançadas ao mar. Estas últimas vem de torneiras, lavandarias, chuveiros, lavagem de louça e limpeza externa. Mesmo depois de tratadas, ainda contêm produtos químicos, metais e minerais capazes de provocar prejuízos no ecossistema. Acabam por poluir praias, contaminar corais e destruir a ecologia marinha. Estudos demonstram que, apenas numa semana, um único cruzeiro lança ao mar quase 4 milhões de litros de "águas cinzas".

Os autores consideram também que os navios são uma fonte potencial de riscos físicos e mentais para passageiros, trabalhadores e pessoas que vivem perto dos portos ou que trabalham em estaleiros navais.

Transporte e ambiente

Nas contas da Federação Europeia de Transporte e Ambiente (FETA), só as embarcações do maior operador turístico poluem 10 vezes mais do que todos os 260 milhões de automóveis da Europa

As explicações são várias, mas começam no tipo de combustível permitido a estas fortalezas do mar. A combustão produz elevados níveis de óxidos de enxofre e óxidos de azoto. Espanha, Itália, Grécia, França, Noruega e Portugal são os países mais afetados.

De acordo com a FETA, os cruzeiros poluem 10 vezes mais do que todos os 260 milhões de automóveis na Europa.

Na costa portuguesa, as emissões dos cruzeiros foram 86 vezes superiores às dos carros que circularam pelas estradas nacionais. Números de 2017, analisados pela Associação ambientalista Zero, revelam que Lisboa foi a capital por onde passaram mais embarcações (115).

Considerando que a UE tem falhado em aplicar medidas de redução das emissões do setor marítimo, a associação assegurou que o comércio marítimo europeu poderá ser menos poluente se as medidas certas forem aplicadas, e os líderes europeus deixarem de ignorar o impacto destas emissões para o clima.