Como proteger as vespas e a sua importância nos serviços de ecossistema

As quatro grandes categorias de serviços de ecossistema das vespas: regulação, provisão, suporte e culturais. Saiba mais aqui!

A esmagadora maioria das vespas (cerca de 97%) das espécies de vespas aculeadas são solitárias — só uma pequena fração é social, como as “vespas-amarelas” ou as “vespas-de-papel”.

O estudo faz uma revisão abrangente sobre os serviços de ecossistema prestados pelas vespas aculeadas (as que picam, incluindo espécies solitárias e sociais), defendendo que estas desempenham funções ecológicas e económicas essenciais, mas amplamente subestimadas e mal compreendidas.

Apesar de representarem cerca de 20% das espécies de himenópteros ( grupos de insetos entendidos pelos leigos como as vespas, as abelhas e as formigas) descritas e estarem distribuídas globalmente, a sua má reputação pública e o foco científico noutros grupos, como as abelhas, têm levado à desvalorização do seu papel.

Os autores estruturam a análise segundo as quatro grandes categorias de serviços de ecossistema: regulação, provisão, suporte e culturais.
  • Nos serviços de regulação, destacam o papel de predadoras e parasitas de uma vasta gama de artrópodes (possuem características em comum como, por exemplo, patas articuladas e exoesqueleto quitinoso (esqueleto externo), controlando tanto pragas agrícolas como populações naturais, com impacto potencial igual ou superior ao de aves ou mamíferos insetívoros. As vespas sociais, pela dimensão e número das colónias, removem quilogramas de biomassa de insetos por hectare por estação, e as solitárias, apesar de menos estudadas, mostram grande diversidade de presas e especializações. Além disso, contribuem para a polinização — algumas plantas dependem exclusivamente de vespas, enquanto noutras funcionam como polinizadores oportunistas, inclusive substituindo polinizadores principais ausentes.
As vespas caçam uma variedade enorme de presas, incluindo lagartas, moscas, gafanhotos, aranhas e até outros himenópteros. Muitas espécies especializam-se num único tipo de presa.
  • Nos serviços de provisão, salientam-se duas vertentes: alimentar (larvas e pupas consumidas como fonte de proteína em pelo menos 19 países, com valor de mercado elevado e potencial como alternativa sustentável à carne) e medicinal (compostos do veneno com propriedades antimicrobianas e anticancerígenas promissoras).
  • Nos serviços de suporte, incluem-se o papel na dispersão de sementes e na decomposição e reciclagem de matéria orgânica, ao alimentarem-se de carcaças de vertebrados e outros resíduos biológicos.
  • Nos serviços culturais, as vespas atuam como bioindicadores da qualidade ambiental (ex.: acumulação de poluentes nos ninhos ou fezes das larvas) e têm presença nas artes, literatura e cultura popular, embora a perceção pública seja maioritariamente negativa devido à sua capacidade de picar e à imagem de “praga”.
São também necrófagas ocasionais, alimentando-se de animais mortos e ajudando na decomposição e ciclagem de nutrientes.

O artigo conclui que o valor económico e ecológico das vespas aculeadas está subestimado e defende a necessidade de um roteiro de investigação: quantificar o impacto no controlo de artrópodes, avaliar o contributo para a polinização em ecossistemas naturais e agrícolas, explorar o uso como bioindicadores, desenvolver o potencial alimentar e medicinal, e monitorizar fatores que afetam as populações.

Os autores argumentam que, tal como aconteceu com as abelhas, é urgente reconhecer e integrar estes insetos nas estratégias de conservação e gestão, aproveitando os seus serviços para o benefício humano e a saúde dos ecossistemas.

Referência da notícia:

Brock, R.E., Cini, A. and Sumner, S. (2021), Ecosystem services provided by aculeate wasps. Biol Rev, 96: 1645-1675. https://doi.org/10.1111/brv.12719