Como podem os eventos Dansgaard-Oeschger (D-O) contribuir para a análise do passado glacial?

Um estudo publicado na Universidade de Bergen (na Noruega) revela evidências do passado glaciar através dos ciclos Dansgaard-Oeschger (D-O), designadamente associado à instabilidade do manto de gelo e às mudanças na Circulação Meridional do Atlântico.

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Estudo da Universidade de Bergen cria bases sobre as implicações dos ciclos de Dansgaard-Oeschger (D-O) no estudo do passado glaciar.

Durante o último período glaciar, o planeta Terra testemunhou mudanças climáticas abruptas. A par dos ciclos de Milankovitch, os ciclos Dansgaard-Oeschger, há muito tempo estudados por investigadores da paleoclimatologia de diversas instituições, respondem a algumas das dúvidas sobre o clima da era glaciar.

O que são afinal os ciclos Dansgaard-Oeschger (D-O)?

Desde os inícios do Século XX, os palinólogos utilizam os registos de pólen para estimar os períodos frios e quentes. De entre estes estudos, sabe-se que os períodos glaciais, marcados por temperaturas muito baixas, contrastam com os interestádios, caracterizados por temperaturas extremamente elevadas. Dois destes períodos ficaram inclusive eternizados com o nome de uma flor de tundra, o Dryas Antigo e o Dryas Recente.

Ademais, a procura por responder a estas questões climáticas iniciou-se em 1972, quando Willi Dansgaard revelou as evidências do estudo desenvolvido nas áreas geladas da Gronelândia, onde identificou mais de 20 interestádios súbitos durante o último período glacial. Doze anos depois, Hans Oeschger acrescentou uma peça essencial a este puzzle, identificando o aumento de CO2 associado aos eventos de Dansgaard-Oeschger (D-O).

De facto, estas evidências tornam claro que os ciclos não têm somente uma dimensão local, mas reverberam globalmente com efeitos detetados em ambos os hemisférios. Desde alteração nos padrões de temperatura do mar Mediterrâneo Ocidental até às variações nas monções de verão no Oceano Índico, os ciclos D-O têm repercussões a nível planetário.

De qualquer forma, o cerne das oscilações climáticas reside na região subpolar do Atlântico Norte, onde os ventos mais intensos, o gelo marinho e as correntes oceânicas se enredeiam numa estrutura mais complexa. Estas condições, de maior complexidade climático-meteorológica, podem desencadear os eventos Dansgaard-Oeschger, caraterizados por transições disruptivas entre períodos mais quentes e mais frios, conforme o que se refere um artigo publicado, em 2019, na Quaternaire Science Reviews, por investigadores da Universidade de Bergen (Noruega).

E de que forma o estudo dos ciclos D-O pode contribuir para o avanço da ciência?

Os modelos climáticos modernos mostram, pois, indícios destas oscilações, onde se aponta para uma combinação de fatores glaciais que propiciaram a ocorrência regular dos eventos durante a Fase Isotópica Marinha 3, também conhecida por MIS3 (entre 57 e 29 milhões de anos).

No entanto, permanece o repto de entender por que alguns modelos reproduzem estes padrões climáticos com mais fidelidade do que outros e as suas implicações nas alterações climáticas. Repare-se, aliás, que as alterações climáticas são padrões complexas resultantes de fatores naturais (como os ciclos de Milankovich ou de D-O) e antrópicos.

Apesar de enunciadas cientificamente algumas das evidências associadas aos eventos D-O e a sua combinação com causas antrópicas existem muitas perguntas ainda por responder. Afinal será que há outros elementos negligenciados nas nossas análises, designadamente interações atmosfera-oceano para os gradientes de temperatura superficial oceânica?

A compreensão destes eventos é fundamental para entender o passado glacial da Terra, mas também para formar premissas para estudos sobre os desafios climáticos da era contemporânea.

Referência da notícia:
Li, C., & Born, A. (2019). Coupled atmosphere-ice-ocean dynamics in Dansgaard-Oeschger events. Quaternary Science Reviews, 203, 1-20. https://doi.org/10.1016/j.quascirev.2018.10.031