Cientistas portugueses criam músculos artificiais inteligentes que se adaptam ao ambiente (e não só!)

Um grupo de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveu músculos artificiais que atuam em vários tipos de robôs de forma complacente, adaptando-se ao contacto com o meio envolvente.

Robô quadrúpede
Robô quadrúpede a deslocar-se no tronco de uma árvore. O potencial de aplicação é vasto e abrange diversos domínios, desde a criação de robôs bioinspirados para monitorização de ecossistemas, até ao desenvolvimento de próteses e equipamentos de reabilitação, entre outros. Imagem: © DR Universidade de Coimbra

Estes atuadores, fabricados integralmente na FCTUC, foram concebidos a partir de materiais comercialmente disponíveis e através de métodos de fabrico como a impressão 3D. O seu movimento mecânico é gerado através da transição de fase da água, do estado líquido para o gasoso, atingindo performances superiores ao estado da arte, nomeadamente em termos de velocidade e precisão dos movimentos, operando a tensões relativamente baixas de 24 volts.

A energia necessária para transformar a água em vapor foi compatível com os objetivos do projeto

"Selecionamos a água como fluido preferencial pela segurança que oferece, assim como pela sua baixa difusividade no material adjacente. Demonstrámos que a entalpia de vaporização relativamente elevada da água, isto é, a energia necessária para transformar a água do estado líquido para o gasoso, pode não ser um fator impeditivo à criação de atuadores de alta performance, normalmente considerada uma desvantagem no contexto desta classe de atuadores", explica Pedro Neto, professor do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da FCTUC.

A inovação, desenvolvida na FCTUC, abre a porta a máquinas mais flexíveis, precisas e de baixo custo.

De acordo com o também investigador do Centro de Engenharia Mecânica, Materiais e Processos (CEMMPRE), estes atuadores foram integrados e demonstrados num robô quadrúpede e numa mão robótica biomimética e vão potenciar o surgimento de uma nova classe de robôs com atuação complacente e baixo custo de produção.

O potencial de aplicação é vasto e abrange imensos domínios

"O potencial de aplicação é vasto e abrange diversos domínios, desde a criação de robôs bioinspirados para monitorização de ecossistemas, até ao desenvolvimento de próteses, equipamentos de reabilitação e soluções para a indústria, como grippers ou mãos robóticas capazes de se adaptar para agarrar e manipular uma grande variedade de objetos", diz o especialista.

O estudo revela ainda que o design destes atuadores permite controlar com precisão a pressão interna e minimizar vibrações mecânicas, um problema que afetava versões anteriores desta tecnologia. A equipa desenvolveu uma estratégia de controlo não linear que mantém os músculos artificiais em condições termodinâmicas estáveis, garantindo movimentos mais suaves e repetíveis mesmo em tarefas complexas.

Os detalhes do trabalho desenvolvido pelo estudante de doutoramento Diogo Fonseca, sob orientação do professor Pedro Neto, estão publicados na revista Nature Communications e disponíveis neste vídeo de demonstração.

Referências da notícia

Fonseca, D., Neto, P. Electrically-driven phase transition actuators to power soft robot designs. Nat Commun 16, 3920 (2025). https://doi.org/10.1038/s41467-025-59023-7

Investigadores da UC desenvolvem músculos artificiais que se adaptam ao contacto com o meio envolvente. Sara Machado. FCTUC. 03 setembro 2025.

Investigadores de Coimbra criam músculos artificiais para robôs “bioinspirados”. André Manuel Correia. Expresso. 07 setembro 2025.