Cientistas concluem que ondas de calor marinhas estão a aumentar e com maior persistência devido ao aquecimento global
Estudo científico compara dados reais da temperatura global da superfície do mar da década de 1940 com um mundo construído sem alterações climáticas para calcular a influência do aquecimento global nas ondas de calor marinhas.

Uma onda de calor marinha caracteriza-se por um período de temperaturas anormalmente altas na superfície do mar em comparação com as temperaturas típicas do passado numa determinada estação e região.
Ondas de calor marinhas e os seus efeitos
As ondas de calor marinhas estão a tornar-se cada vez mais frequentes e são preocupantes, pois as temperaturas superficiais mais quentes significam mais evaporação, mais vapor de água para a atmosfera, o que geralmente significa tempo mais severo.
Assim, quanto mais ondas de calor houver, maior será o risco de ocorrerem mais tempestades, desde furacões a inundações provocadas por chuvas fortes, o que pode causar problemas principalmente nas zonas costeiras.
Os especialistas, também referem que as ondas de calor marinhas também podem danificar os prados de ervas marinhas, causando problemas às criaturas que vivem entre eles.

Além destes impactos, as ondas de calor marinhas podem levar a graves alterações na biodiversidade, como branqueamento de corais, doença da estrela do mar, proliferação de algas nocivas, e mortalidade em massa de conjuntos de organismos que vivem no fundo de ambientes aquáticos.
Aumento na frequência, duração e intensidade das ondas de calor marinhas
Cientistas ambientais do Instituto Mediterrânico de Estudos Avançados e do Conselho Superior de Investigação Científica da Universidade das Ilhas Baleares, em colaboração com meteorologistas do Centro Nacional de Ciência Atmosférica, da Universidade de Reading, Reino Unido, investigaram como o aquecimento global influencia as ondas de calor na superfície do oceano.
No artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, os autores descrevem como criaram um modelo que mostra quais teriam sido as temperaturas à superfície do mar, no período de 1940 a 2023, se o aquecimento global nunca tivesse ocorrido.
Em seguida, compararam o seu modelo com medições reais dos oceanos para mostrar como o aquecimento global fez subir as temperaturas da superfície do mar. Foram utilizados dados históricos para desenvolver tendências a longo prazo da temperatura global da superfície do mar.
Nas suas comparações, a equipa de investigação descobriu que aproximadamente metade das ondas de calor marinhas, desde 2000, não teriam ocorrido sem o aquecimento global.
Segundo o estudo, na década de 1940, havia apenas 15 dias de ondas de calor marinhas extremas por ano, enquanto hoje, esse número saltou para 50, e algumas áreas, como partes do Oceano Índico, experimentam até 80 por ano.
A equipa de investigação analisou mais de um século de dados sobre a temperatura dos oceanos e simulações de modelos para distinguir a variabilidade natural do aquecimento causado pelo homem.
Estes resultados são consistentes com um consenso científico crescente. Agora é possível detetar claramente o sinal antropogénico nestes eventos, particularmente nos últimos 20 anos.
Algumas regiões, principalmente o Mediterrâneo, registam picos de temperatura até 5 °C acima da média. Estas temperaturas elevadas têm implicações significativas para a vida oceânica.

De acordo com as estatísticas, mais da metade de todas as ondas de calor marinhas desde 2000 não teriam ocorrido sem o aquecimento global.
A equipa de investigação observa que as temperaturas das ondas de calor marinhas somam-se às temperaturas oceânicas que têm vindo a aumentar continuamente.
Atendendo às conclusões do estudo, a única solução, sugerem os autores, é reduzir a emissão de gases com efeito estufa para evitar um maior aquecimento do planeta, conter o aquecimento dos oceanos e proteger os ecossistemas marinhos e populações costeiras.