Cães são bons juízes de caráter? Uma análise científica sobre perceção social canina
Estudo recente analisou se cães conseguem julgar o caráter humano com base em observações sociais. Os resultados indicam que as suas escolhas não refletem avaliação moral ou formação de reputação.

Segundo um artigo publicado na EarthSky, a perceção popular de que os cães são excelentes juízes de caráter, sendo capazes de “sentir” se uma pessoa é boa ou má, é amplamente difundida.
No entanto, um novo estudo científico publicado em julho de 2025 coloca essa ideia na mesa.
Uma equipa de cientistas investigou se os cães domésticos são capazes de formar reputações sobre seres humanos com base em observações indiretas ou em interações diretas relacionadas a comportamentos cooperativos (ou não).
Interação humano-animal
O estudo foi conduzido com 40 cães de estimação de diferentes idades e raças, que participaram em dois tipos de experiencias.
No primeiro, os cães apenas observaram interações entre dois humanos e outro cão. Um dos humanos era generoso, e ia oferecendo petiscos ao cão demonstrador, enquanto o outro permanecia neutro ou não cooperativo.
Na segunda experiência, os cães participantes interagiram diretamente com dois humanos, um generoso e outro neutro.
O objetivo era avaliar se os cães prefeririam o humano mais cooperativo com base na sua observação ou experiência.
Durante os testes, os investigadores registaram diversos comportamentos dos cães, como a qual humano o cão se aproximava primeiro, tempo gasto próximo a cada pessoa, tentativas de interação física, ou até a escolha do humano ao receber uma oferta de comida.
Em ambos os contextos (observação indireta e interação direta), os cães não demonstraram preferência significativa pelo humano generoso.
Inteligência nos cães
As suas escolhas e comportamentos estavam dentro do esperado por puro acaso (cerca de 50%), indicando que não formaram uma reputação confiável do comportamento dos humanos observados.

Esses resultados alinham-se a estudos anteriores realizados no Wolf Science Center, na Áustria, onde nem cães que vivem em matilha, nem lobos demonstraram capacidade de formar reputações após observarem humanos a interagirem com terceiros.
Isso sugere que, ao contrário dos humanos e de algumas espécies de primatas, a formação de reputação com base na observação social pode não ser uma característica desenvolvida nos cães ou nos canídeos em geral.
Hoi-Lam Jim, autora do estudo
Desta forma os cientistas afirmam que os cães são intuitivos e podem identificar automaticamente pessoas confiáveis.
A ciência sugere que as reações caninas são mais influenciadas por estímulos imediatos, como tons de voz, linguagem corporal, cheiro ou recompensas anteriores, do que por julgamentos morais ou sociais complexos.
Ainda assim, os investigadores reconhecem limitações no estudo. Os cães avaliados eram animais de estimação e viviam em ambientes domésticos.
Assim, a generalização dos resultados para cães de trabalho, cães de rua ou cães de diferentes culturas humanas ainda requer investigação.
Também é possível que outras variáveis, como tempo de exposição, contexto emocional ou tipo de tarefa, possam influenciar a capacidade de um cão formar impressões duradouras sobre humanos.
Referência da notícia
Jim, HL., Belfiore, K., Martinelli, E.B. et al. "Do dogs form reputations of humans? No effect of age after indirect and direct experience in a food-giving situation." Anim Cogn (2025).