Biotecnologia portuguesa quer cultivar o polvo em laboratório e salvar a espécie da extinção
Nos laboratórios de Castelo Branco está em curso uma investigação pioneira para proteger o animal da pesca predatória e das alterações climáticas.

O polvo está seriamente ameaçado. Não é somente a pesca predatória que acelera o seu declínio. É também a mineração, a poluição e as alterações do clima que estão a destruir o seu habitat e locais de reprodução.
Esta criatura marinha, nas águas portuguesas, corre grande perigo. Os portugueses gostam mesmo muito de polvo, seja à lagareiro, no arroz, em filetes ou numa simples salada. Contas feitas, são mais de 15 mil toneladas da espécie apanhadas por ano, o maior consumo entre os europeus.

O futuro do polvo está, portanto, dependente da nossa capacidade de proteger os seus habitats, garantir a sustentabilidade da pesca e resolver as questões éticas e ambientais relacionadas com a criação em cativeiro.
Alternativa sustentável
Será que teremos de abdicar desta espécie em nome de uma causa maior? Refrear o apetite tem de fazer parte da solução, mas o Centro de Apoio Tecnológico Agroalimentar (CATAA) de Castelo Branco quer oferecer-nos uma alternativa.
Estará, provavelmente, a pensar que não é o mesmo, mas é preciso superar essa resistência inicial. A estratégia dos investigadores está essencialmente focada na aplicação da biotecnologia azul celular para obter novos alimentos sustentáveis, sem alterar o sabor, a cor e a textura originais.
O CELLBLUE é um projeto português ambicioso com o intuito de vir a oferecer uma escolha rentável à indústria alimentar. Financiado pela União Europeia, o piloto do Centro de Apoio Tecnológico Agroalimentar de Castelo Branco visa encontrar uma resposta à pressão que a produção de alimentos exerce sobre os recursos naturais.
Vantagens da agricultura celular
Os alimentos celulares são produzidos a partir do cultivo de células em ambiente controlado. A grande vantagem é, principalmente, a possibilidade de eliminar a necessidade de grandes áreas de cultivo e reduzir o consumo de recursos como água e solo.
O método começa agora a ser encarado como uma forma de minimizar os impactos sobre os ecossistemas naturais, sem comprometer uma produção eficiente e sustentável.
As semelhanças com cerveja e iogurtes
Mas como é que o CATAA irá ajudar a proteger o polvo? Desde logo, em vez de recorrer a animais de criação, cultiva a carne em laboratório a partir de uma amostra espécie.
A Cell4Food, start-up açoriana, está entre as parceiras do projeto, que, nas suas instalações de Braga, usar uma tecnologia muito semelhante com a produção de iogurtes ou cerveja.

O cultivo de células de polvo, no fundo, é um processo idêntico a grandes incubadoras que promovem a fermentação. Da mesma maneira que se produz milhões de litros de cerveja ou de embalagens de iogurte, poder-se-á, em teoria, produzir também milhões de quilos de polvo.
À medida que o método e os resultados forem evoluindo, o sabor, a cor e a textura vão ser cada vez mais fiéis às características reconhecidas na carne do polvo.

Usando técnicas laboratoriais será possível desenvolver um método alternativo à pesca convencional. Espera-se que, no final desta caminhada, se possa obter vários produtos alimentares típicos da gastronomia portuguesa.
Mas a estratégia vai além-fronteiras, pretendendo posicionar-se como uma opção para grandes mercados internacionais, como é o caso do asiático.
Referência da notícia
CELLBLUE: Alimentos do Futuro através da Biotecnologia Azul Celular - Centro de Apoio Tecnológico Agroalimentar (CATAA).