A amizade entre baleias e golfinhos, imagens e estudos inéditos sobre a sua convivência

As interações entre baleias de barbas (Mysticeti) e golfinhos (Delphinidae) são mais comuns e variadas do que se pensava. Saiba mais sobre este fenómeno aqui!

Baleias de barbas não têm dentes — em vez disso, possuem placas de queratina (as “barbas”) que funcionam como um filtro para reter krill e pequenos peixes enquanto expulsam a água.

O artigo analisa o comportamento social entre baleias de barbas (Mysticeti) e golfinhos (Delphinidae), um fenómeno observado em vários oceanos, mas ainda pouco compreendido. O estudo recorreu a vídeos e fotografias obtidos sobretudo através de redes sociais e UAVs, complementados por filmagens de câmaras colocadas nos animais, para documentar 199 eventos independentes envolvendo 19 espécies. A maioria dos registos foi feita nos EUA e na Austrália, com a baleia-jubarte (68% dos casos) e o golfinho-roaz-corvineiro (51%) como espécies predominantes.

Em muitos casos, os golfinhos posicionaram-se junto ao rostro das baleias, num comportamento semelhante ao “bow riding” (quando surfam na onda criada pela proa de um barco ou navio em movimento). Foram identificadas diversas interações, desde movimentos suaves e comportamentos lúdicos a possíveis atos de socialização e cortejo, até situações de competição ou assédio.

Os resultados mostram que cerca de um quarto dos encontros podem ser classificados como interações positivas ou de jogo, caracterizadas por movimentos como rolar, apresentar o ventre e deslocar-se lentamente em direção aos golfinhos. Em alguns casos houve contacto físico deliberado, como fricção ou até o levantamento de um golfinho por uma baleia.

Por outro lado, comportamentos agressivos, como batidas de cauda, foram raros (cerca de 5% dos eventos), e a maioria das situações não estava associada à alimentação, o que poderá explicar a reduzida agressividade. Filmagens com câmaras colocadas em baleias-jubarte revelaram que os golfinhos acompanhavam os cetáceos também em profundidade, mantendo interações de proximidade.

Os golfinhos têm nomes — cada indivíduo desenvolve um “assobio-assinatura” único que funciona como identificação pessoal.

O estudo discute a dificuldade de definir o “jogo” em contextos interespécies e sugere que estas interações podem servir para estimular, socializar ou mesmo estabelecer relações. Refere ainda que, embora as redes sociais sejam úteis para registar comportamentos raros e ampliar o conhecimento, os dados obtidos são parciais, sujeitos a enviesamentos geográficos e temporais, e não substituem investigações sistemáticas.

Estas interações são mais comuns e variadas do que se pensava, sendo fundamental compreender o contexto em que ocorrem para distinguir comportamentos cooperativos de competitivos. É recomendado o uso continuado de UAVs, o estudo de vocalizações, a inclusão de espécies menos observadas e a análise detalhada da duração e evolução dos encontros, de modo a aprofundar o conhecimento sobre a ecologia comportamental de baleias e golfinhos e apoiar esforços de conservação.

Referência da notícia

Meynecke, JO., Crawley, O. Assessing social behaviour between baleen whales (Mysticeti) and dolphins (Delphinidae). Discov Anim 2, 54 (2025). https://doi.org/10.1007/s44338-025-00099-2